Sinopse: Em Aradia: O Evangelho das Bruxas, Charles Godfrey Leland nos presenteia com o que podemos chamar de capítulo inicial de uma coletânea de cerimônias, feitiços e encantamentos. Nele, o autor traz a história de Aradia, bruxa enviada à Terra para propagar os ensinamentos da Bruxaria. No decorrer do livro, também são descritos os encantamentos, conjurações e invocações, no original em italiano, ensinados por sua mãe Diana, deusa das bruxas. Leland foi uma figura marcante para a história da Bruxaria. Poucos dias após o seu nascimento, uma velha ama holandesa levou-o ao sótão de sua casa e realizou um ritual. Ela colocou seu seio sobre uma Bíblia, uma chave e uma faca e, então, pôs velas acesas, dinheiro e um prato com sal sobre a cabeça. O propósito do rito era que o menino vencesse na vida e tivesse sorte para ser um escolástico e um sábio. Quando ainda criança, foi presenteado com histórias e contos de fantasmas, bruxas e fadas, o que o deixou fascinado pelo folclore e pela magia. Sua família vivia em uma casa que possuía empregados e, com um deles ― uma imigrante holandesa ―, ele aprendeu a respeito de fadas, e com outro ― uma negra que trabalhava na cozinha ―, acerca de vodu. Mudando-se para a Inglaterra, Leland deu início aos seus estudos a respeito dos ciganos ingleses, pois era particularmente interessado no folclore deles. Com o decorrer do tempo, ganhou a confiança do 'Rei dos Ciganos' na Inglaterra, Matty Cooper, com quem aprendeu a falar o romani, a língua dos ciganos, embora isso tenha ocorrido muitos anos antes de o povo cigano tê-lo aceito como um deles. Durante esse período, escreveu seus dois livros clássicos a respeito dos ciganos, sendo um deles Bruxaria Cigana, lançado no Brasil pela Madras Editora, e estabeleceu-se como a autoridade máxima nesse assunto. O leitor certamente irá se encantar com a bela história narrada em Aradia: O Evangelho das Bruxas. Boa leitura!
Ficha Técnica
Autor: Charles Godfrey Leland
Ano: 1889, 2004 (1° Ed. brasileira)
Editora: Madras
Páginas: 120
Histórias e mitos que foram transmitidos a Leland por informantes italianas preenchem as páginas, em sua linguagem italiana original e na tradução para o português. Pode-se observar nas entrelinhas dos textos algumas sugestões de encantamentos antigos, práticas mágicas tradicionais italianas, e todo um imaginário simbólico que se moldou através das influências de diversas tradições e culturas na antiguidade. Referências são traçadas pelo próprio Leland, que encontra paralelos em outras obras antigas.
O mito de Aradia e os conceitos em torno dessa figura, principalmente focados na deusa Diana e em seu consorte Dianus Lucifero é instigante, delineado com auxílio de uma linguagem poética, vívida e com detalhes que incitam a curiosidade e a imaginação criativa. Apesar do título levar alguns a entenderem que seja um livro de instruções ou orientações sobre a prática de magia, o Evangelho das Bruxas se dedica a contar o folclore por trás das tradições de Bruxaria tradicional (Stregheria) que sobreviviam secretamente nas áreas rurais da Itália no século XIX.
Considero esse livro uma leitura interessante e quiçá essencial para praticantes de Bruxaria, pois se trata de uma pesquisa antropológica e histórica que por meio da coleta de contos antigos e histórias nos ilumina a respeito da continuidade de determinadas práticas mágicas mesmo em períodos de censura, perseguição e ignorância. Alguns questionamentos são levantados sobre a veracidade das fontes e dos relatos obtidos pelo folclorista, mas pesquisadores da área consideram genuínos os relatos angariados por Leland, ainda que envoltos em mistérios.
A essência da Bruxaria como uma arte dos indomados, uma ferramenta de necessitados e oprimidos é encontrada em sua plenitude nos versos rimados sobre a Deusa das Bruxas, que incita a resistência contra a tirania e a opressão, marcantes do contexto histórico em que a tradição se originou. Aradia é uma figura messiânica que representa os desfavorecidos em sua luta constante, e vem para nos ensinar os caminhos e os sortilégios de amor e liberdade da Grande Deusa.
A fazer dos limões um feitiço,
Alannyë Daeris
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