sexta-feira, 31 de maio de 2024

Resenha: Thoth, The Hermes of Egypt - Patrick Boylan

   Sinopse (na língua original): The title of the essay has been chosen partly to suggest from the beginning an important and intelligible aspect of Thoth to the general reader, and partly to remind the student that a god who, at first sight, might seem to be a divinity of purely Egyptian importance, was, nevertheless, associated with such a widely flowing current of ancient thought as the speculation of the Hermetic writings.

Ficha Técnica


   Autor: Patrick Boylan
   Ano: 1922
   Editora: Oxford University Press
   Páginas: 226


   Publicado há mais de um século, Thoth, The Hermes of Egypt segue sendo a melhor e mais completa obra de referência acadêmica para o estudo acerca do Senhor dos Hieróglifos e Escriba Divino. O autor se concentra no Egito Dinástico, e apesar do que o título pode sugerir, há pouca menção aos sincretismos e manifestações posteriores de Thoth como Hermes Trismegistus no período Greco-Romano. Boa parte das fontes textuais pertencem ao período Ptolomaico, e para averiguar o pensamento teológico de períodos mais antigos, os Pyramid Texts (Textos das Pirâmides) foram empregados, bem como algumas citações relevantes do Book of the Dead (Livro dos Mortos).
   Dividido em capítulos que exploram diferentes aspectos de Thoth, como seu nome, a participação nos mitos Osirianos, sua relação com as Enéadas e como representante de Ra na Barca Solar, seus símbolos, sua importância como autor dos hieróglifos, suas características como Criador, o papel que desempenha na magia e no Ritual Egípcio, seus templos e locais de culto, os epítetos atribuídos, associações com outros deuses, dentre outros assuntos, realizando um exame completo das atribuições e conceitos que permeavam a relação dos egípcios com Thoth.
   Considero essa obra suficientemente acessível para leitores que não estejam acostumados com a linguagem mais acadêmica da área da egiptologia - ainda que o idioma seja uma barreira para falantes exclusivos da língua portuguesa, visto que não há uma tradução do inglês até a data da publicação dessa resenha. Entretanto, não havendo uma fonte melhor de estudos para tais conhecimentos básicos sobre Thoth, o esforço para desvendar esse livro é certamente recompensador. Para quem gosta de hieróglifos acompanhados de suas traduções, inclusive no caso dos epítetos, encontrará citações desse tipo em abundância nessa publicação - e elas são contextualizadas por meio de explicações sobre a dimensão mito-simbólica dos elementos presentes, e as relações estabelecidas com outras passagens e crenças da teologia egípcia.
   Desde o primeiro capítulo, que aborda os nomes de Thoth, encontramos uma quantia valiosa de notas de rodapé e fontes para aprofundamento dos estudos; contudo, infelizmente, uma boa parte dessas referências são obras em outras línguas estrangeiras, como o alemão e francês, que somam uma grande fatia dos estudos publicados sobre Egiptologia na virada do século XIX para XX - e na atualidade, muitas dessas referências são difíceis de localizar ou acessar. Felizmente, outras notas do autor ocupam um espaço significativo das páginas em determinados momentos, e agregam informações relevantes adicionais (ou teorias) sobre o assunto tratado no texto, o que pontua de forma muito positiva na minha opinião.
   Não importa a origem do seu interesse sobre Thoth - se é uma relação pessoal e devocional, ou apenas uma simples curiosidade por esse deus egípcio tão especial... Você terminará a leitura versado na multidimensionalidade de Thoth como uma divindade soberana, reverenciada com louvor e importância desde períodos antigos na história do Egito, atrelada a papéis teológicos de grande relevância. É um exemplar enxuto em extensão de páginas (entre 215-228pg de acordo com a edição) se considerarmos a profundidade do conhecimento genuíno que contém, embasado consistentemente nas fontes originais registradas por escribas e sacerdotes ao longo dos séculos.

A empregar as palavras em amor ao Residente na Biblioteca,
   Alannyë Daeris

terça-feira, 21 de maio de 2024

Método Oracular do Caldeirão da Bruxa para Melhorar Feitiços

   Iniciantes e experientes na Arte, novatas e anciãs... As bruxas de todos os níveis e áreas de conhecimento precisam, ora ou outra, checar como está indo sua prática de feitiços - o "spellcasting", em termos estrangeiros um tanto mais pomposos. E como eu não sou diferente, senti a necessidade, um tempo atrás, de elaborar um método oracular que investigasse sobre essa questão: como estou enfeitiçando? O que preciso melhorar quando o assunto é o meu lançamento de feitiços?
   Esse é um jogo simples que pode ser incrementado de acordo com as particularidades do seu caminho mágico. Esteja sentindo ou não uma insegurança relativa aos efeitos da sua magia, essa tirada pode ajudar a entender seus pontos fortes e fracos, qual a área de sua maestria ou afinidade no momento, e para onde direcionar seu foco. Por exemplo, se desejar investigar algum sistema mágico específico ou uma área de especialidade mágica que tem despertado seu interesse, é possível incluir uma posição destinada a essa análise. Evidentemente, se seu caminho espiritual não envolve a prática de feitiços, esse não será o jogo mais adequado em seu caso.
   Escolha qualquer oráculo de sua preferência para a realização dessa tirada, dispondo entre 2 a 3 cartas por posição. No entanto, recomendo a utilização de oráculos com potencial para abordar temas mágicos de forma satisfatória, como é o caso do Tarô, Petit Lenormand (Baralho Cigano), Runas Nórdicas, dentre outros. Não utilize oráculos subjetivos ou de mensagens "prontas", pois na grande maioria dos casos, o resultado será limitado e pouco produtivo; mas é possível utilizá-los como complemento para as orientações, na última posição do jogo.

O Método


1. Terra. Como está sendo minha prática de feitiços?
2. Ar. O que seria interessante de explorar na magia?
3. Fogo. Como posso aumentar a eficácia dos meus feitiços?
4. Água. Quais energias/forças posso utilizar ou trabalhar em atividades mágicas?
5. Ordem. Quais tipos de feitiços devo praticar mais no momento?
6. Caos. Existem bloqueios ou desafios que preciso considerar?
7. Espírito. Orientação para a prática de magia.

A lançar infindos sortilégios,
   Alannyë Daeris

terça-feira, 14 de maio de 2024

Calendários Egípcios e os Dias de Sorte e Azar

   Antes de existirem os horóscopos diários que se popularizaram profusamente nos últimos séculos, os antigos egípcios acreditavam na fortuna ou infortúnio dos dias, e elaboravam papiros para instruir sobre os prognósticos diais. O calendário egípcio era dividido em três estações de quatro meses, cada uma com duração de 30 dias, o que resulta no total de 360 dias. As estações correspondiam ao ciclo do Nilo: Inundação (akhet), quando o rio transbordava e cobria as terras cultiváveis com água; Emergência (proyet), quando a água recedia e expunha as terras fertilizadas próprias para o plantio; e o Verão (shomu), o período da colheita e da estiagem.
   Cinco dias denominados epagomenais eram acrescidos entre o final de um ano e o início do próximo, aproximando o calendário civil egípcio da translação da Terra. Esses dias extras chamados de "Hryw rnpt" (Heryu ronpet) possuem profundas conotações mitológicas, sendo considerados "não-dias" por estarem fora do calendário dos meses. Dessa maneira, quando nos referimos ao calendário egípcio, podemos considerá-lo equivalente ao gregoriano do qual fazemos uso, em sua totalidade de 365 dias.
   Todos os dias contidos no calendário egípcio eram definidos como dias de sorte ou azar, regidos por dois conceitos de eternidade: Djet, o tempo linear que conhecemos, que segue um curso direto e imutável, se torna memória; e Neheh, o tempo cíclico mutável que se renova e se repete dia após dia, como o nascer do Sol, que ocorre diariamente. A classificação dada pelos egípcios podia indicar quais datas são favoráveis e desfavoráveis como uma característica geral da data - um dia "bom" ou um dia "ruim" -, ou dividir os dias em seus períodos de manhã, tarde e noite, para que cada um seja definido como favorável ou desfavorável.
   Alguns dos registros arqueológicos que contém calendários são o Papiro Sallier n°.IV, Calendário Cairo, e o Papiro Budge, todos sob a posse do Museu Britânico, que armazena também outros fragmentos com trechos de calendários. Esses papiros não são unânimes em seu conteúdo, e além de variarem no modo de classificar os dias, também podem difererir em relação a quais dias são bons ou ruins, pois são oriundos de períodos, localidades e dinastias diferentes. A homogeneidade de percepções e crenças não é uma característica própria da mitologia egípcia, de qualquer forma.
   No papiro conhecido como Calendário Cairo, cujo título em egípcio se traduz como "Uma introdução ao início da Sempiternidade (Neheh) e o fim da Eternidade (Djet)", há seis categorias de sorte ou azar: favorável, parcialmente favorável, muito favorável, adverso, parcialmente adverso, muito adverso. A maioria dos dias são muito favoráveis ou muito adversos, mas há datas parciais ocasionais. Os temas mitológicos que fornecem uma correspondência boa ou ruim para as datas não contam uma história linear, diversas divindades menores e hoje obscuras são citadas, e os temas podem abranger alguns poucos dias e então acabarem abruptamente, sendo substituídos por outras cenas e referências dos mitos não-relacionadas à anterior.
   Os dias positivos estão grafados em tinta preta, e os dias desfavoráveis em tinta vermelha. Certos papiros, como o Sallier, incluem textos explicativos indicando qual evento mitológico atribui classificação boa ou ruim para o dia. Concomitante a isso, fornecem uma orientação, como por exemplo: "não queime incenso nesse dia", "não saia de casa nessa data". É recorrente que sejam dadas previsões para os nascidos em determinados dias, como: "quem nascer hoje morrerá de velhice", ou "quem nascer hoje morrerá por uma serpente". Você pode conferir um calendário com suas orientações majoritariamente preservadas e traduzidas no livro Ancient Egyptian Magic, do egiptólogo Bob Brier.
   Ainda que os dias epagomenais não sejam sempre mencionados nos papiros, sabe-se por numerosas fontes que eram datas conturbadas e temidas pelas influências nocivas. A título de curiosidade, são referidos no Calendário Cairo, acompanhados de encantamentos que deveriam ser proferidos em cada um dos cinco dias. Os dias epagomenais possuíam nomes especiais que conferiam bênçãos aos que tinham conhecimento deles, e existiam inúmeras fórmulas e encantamentos especiais destinados para a proteção nessas datas, durante as quais, nenhum trabalho era realizado.

Referências

- A Note on P. Kellis I 82 (1996) by Hoogendijk, F. A. J. Zeitschrift Für Papyrologie Und Epigraphik, 113, 216–218.
- Ancient Egyptian Magic (1981) by Bob Brier.
- Calendars: real and ideal (1994) by Anthony Spalinger. In Essays in Egyptology in honor of Hans Goedicke, 297-308.
- Some Observations on the Egyptian Calendars of Lucky and Unlucky Days (1926) by Warren R. Dawson. The Journal of Egyptian Archaeology, 12(1), 260–264.
Fonte da imagem: Papyrus Sallier IV (EA10184,1). Museu Britânico.

A honrar a Ele Que Determina o Tempo,
   Alannyë Daeris