quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Varinhas Egípcias - Apotropaicas e Mágicas

Birth tusks do Império Médio (de 1981 a 1640a.C.),
atualmente expostas no Met Museum.
   Dentro da magia praticada pelos egípcios na Antiguidade, um dos aspectos mais interessantes são as "varinhas mágicas", também chamadas de "birth tusks" ('presas de nascimento' em tradução livre). Eram confeccionadas a partir de presas de hipopótamo - e muito raramente de pedra sabão -, cortadas ao meio e inscritas com símbolos, imagens de deuses e espíritos ligados à defesa, e hieróglifos destinados a intensificar ou legitimar a proteção desejada - e eram confeccionadas de forma única, nenhuma varinha sendo igual à outra.
   O material tradicionalmente usado tem relação com a divindade hipopótamo Taweret, pois além da presa ser a arma mais mortífera do animal símbolo da deusa, esses mamíferos são criaturas poderosas e que defendem com ferocidade suas ninhadas. Taweret é a guardiã do lar, das mães, padroeira do nascimento e das crianças, portanto sua presença em entalhes e desenhos no corpo da varinha Apotropaicas (protetiva) era frequente. Nas presas que foram encontradas com inscrições, esses escritos sempre fazem referência à proteção de crianças ou mulheres.
   Essas varinhas são bastante comuns em tumbas entre o Império Médio até o Segundo Período Intermediário, com a finalidade de proteger os falecidos em sua viagem para o Duat (pós-vida), mas também eram usadas para a defesa contra influências malignas que pudessem perturbar a mãe ou o bebê no momento do parto - e portanto o nome "birth tusks", pois são presas de hipopótamo associadas ao nascimento. A morte era reconhecida pelos egípcios como um renascimento, portanto, é natural que as varinhas protetoras estivessem presentes em ambas as transições da existência humana - no parto e na morte, o despertar para a vida eterna.
Varinha do Império Médio,
consertada ainda na
antiguidade. EA24426
   Um detalhe importante é fato dessas varinhas apresentarem sinais de uso e desgaste por manuseio, o que indica que não eram apenas artefatos estáticos, e sim utilizados pelos praticantes de magia (Heka). Há exemplares que foram cuidadosamente remendados após se quebrarem, o que indica que eram valiosas para seus donos de alguma forma. Não se sabe qual o papel exato das varinhas mágicas protetoras nos rituais egípcios, mas se pode especular que eram usadas por meio de gestos e movimentos - como o ato de traçar um círculo em torno da parturiente - e que se tocava algo com uma das pontas, pois é comum um desgaste nesse local específico nas varinhas encontradas por arqueólogos.
   Existem poucas ilustrações desses objetos na arte egípcia, e nas que existem e foram relatadas, eles são vistos nas mãos de enfermeiras, o que confirma a impressão de que são usados no momento do nascimento. Porém, não se sabe se também havia alguma ritualística efetuada no falecimento, ou se eram apenas colocadas junto ao morto.
   Diversas divindades, entidades e animais são representados nas varinhas mágicas, em especial os que se relacionam com fertilidade, nascimento, proteção, e magia. Além da deusa Taweret, o deus Bes e Set estão frequentemente presentes em desenhos. Os animais incluem sapos, serpentes, chacais, hipopótamos, e gatos. Outros seres mitológicos incluem grifos e representações do disco solar alado.

Varinhas de Serpente


Exemplo 1 e 2, e exemplo 3.
   No período do Império Médio, um outro artefato similar se desenvolveu no Egito e compôs o inventário dos praticantes de magia. Porém, somando ao fato de serem muito mais raras, as varinhas de serpente parecem ter uma finalidade diferente daquela desempenhada pelas presas de nascimento citadas anteriormente. Também é incerto o uso prático desses artefatos, mas sem dúvidas eram itens ritualísticos.
   Essas "serpent wands" possuem relação simbólica com o Uraeus, cobra que o faraó carregava em sua coroa e simbolizava sua soberania e proteção; mas provavelmente são representativas da deusa Weret-Hekau, cujo nome significa "grande em magia" e favorece aqueles que a praticam. Os materiais usados na confecção dessas varinhas varia entre madeira e cobre, como é o caso dos exemplos arqueológicos das imagens acima.

Informações sobre as birth tusks em Magic in Ancient Egypt, de Geraldine Pinch
Maiores informações sobre as serpent wands em Through A Glass Darkly: Magic, Dreams and Prophesy in Ancient Egypt - cap. 11, pg 205-226.

A estabelecer intenções com potência,
   Alannyë Daeris.

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