Ficha Técnica
Autor: Peter Grey
Ano: 2016 - 2017 no Brasil
Editora: Penumbra
Páginas: 240
Ainda que concorde com certas coisas ditas no livro, não posso dizer que foi uma leitura prazerosa - tanto pelos temas densos e crus que são tratados da forma que são tratados, quanto pela visão que o autor tem da Bruxaria, afirmando que ela deve ser exatamente como os cristãos a rotulam, com sexo, diabo e agressividade, para "colocar medo no sistema". Mas convenhamos? Um homem repetidamente citando a Deusa como uma prostituta, exaltando apenas sua sexualidade selvagem e nada mais, é no mínimo muito machista.
Visões muito arcaicas disfarçadas de empoderamento, vestindo uma aparência contemporânea e usando do discurso político para ocultar seus pecados e falhas absurdas. E as Bruxas que não são teístas, que não acreditam na Deusa, que não dão uma fod* para Babalon ou uma potência divina feminina suprema, me pergunto?
As liberdades poéticas são extremamente confusas, enfadonhas, pretensiosas e parecem nem ter um real sentido além do choque que visam causar no leitor. Que propósito há em escrever páginas inteiras cujo único propósito é impressionar sua divindade de culto pessoal, divulgá-la como a mais pura face do divino feminino, e gerar sentimentos de dissabor, ira e aversão nas pessoas que conseguem acompanhar a lírica abstrata? No fim, confesso que achei as tentativas de poesia bem piegas, rolei bastante os olhos e ri em muitas passagens.
O manifesto é bem bonito e tem seu valor, as falas sobre ecoativismo e o chamado para a luta pela Natureza são imprescindíveis numa Bruxaria realmente moderna, assim como as que tratam da situação sociopolítica e do estado de vigilância em que vivemos. O capítulo que trata dos sonhos e questões oníricas foi ótimo, mas também com ressalvas. Sim, precisamos lutar, precisamos revidar, mas cada um sabe como leva sua luta adiante.
O ativismo político dentro da Bruxaria é importante, e tratar desses assuntos precisa ser feito, mas na minha opinião, pode ser executado com muito mais clareza e menos agressividade. Não quero que minha Bruxaria seja satânica e sangrenta para chocar a sociedade, quero que seja como ela é: NADA relacionada com o cristianismo e suas morais medievais. Um livro que visa inspirar precisa ser realmente inspirador, claro e de fácil compreensão; deve evocar o que há de melhor em cada um de nós, não apelar para nossa insatisfação para com o sistema, e muito menos perpetuar estereótipos preconceituosos e limitadores que foram impostos sobre as Bruxas do passado e do presente.
E sim, achei de mau gosto a citação do Malleus Malleficarum, ainda mais observando todo o contexto em que está inserida. Muita pompa, muita arrogância, muita pregação, e até racismo nas primeiras páginas, fato que muita gente que se derrete em elogios por esse livro parece só ignorar. Decepcionante.
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A buscar refúgio em outras leituras,
Alannyë Daeris.
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