quinta-feira, 2 de julho de 2020

Mitos de Criação Keméticos - Heliópolis (Enéada)

Cena do Livro dos Mortos na Tumba de Ay (WV23), com uma versão diferente da Enéada tradicional. Em ordem: Néftis fora da barca solar, Ra-Horakhty, Atum, Shu, Tefnut, Geb, Nut, Osíris, Isis, Hórus. Fonte, editada pela autora.
   O mito da cidade de Heliopolis, cujo nome em egípcio é Awanu, é certamente o mais difundido na cultura popular atualmente. Há alguns elementos em comum com o mito de Hermopolis, mas aqui, outro grupo de divindades está em voga: a Enéada (Pesedjet), e o deus Atum, que também está presente na versão de Hermopolis, mas aqui tem uma posição de grande importância. Essa história se concentra no deus-sol e seus divinos descendentes, resultando em uma dinâmica mais focada na criação em si do que nos aspectos da pré-existência.
    A forma do deus-sol representada aqui geralmente é Atum - por vezes Atum-Ra ou Atum-Khepri -, que já existia nas águas primordiais de Nun, em algumas vezes citado como estando dentro de seu ovo. No momento da criação, Atum nasce das águas, formando o monte primordial (benben) como "aquele que surgiu por si próprio", se tornando a fonte de toda a criação subsequente.
   Em seguida, Atum gera dois filhos a partir de si próprio, Shu (Ar) e Tefnut (Umidade). Como ele faz isso também varia de acordo com a versão, mas em todas, esses filhos são produzidos através dos fluidos corporais de Atum - seja através da metáfora da masturbação, espirrando ou cuspindo. A masturbação, citada no Enunciado 527 dos Textos das Pirâmides, é geralmente mais aceita, e nesse aspecto, a mão de Atum representa o princípio criador feminino, e é personificada na deusa Nebethetepet.
   Por sua vez, o primeiro casal gera seus próprios filhos, Geb (Terra) e Nut (Céu). Eles se posicionaram no universo em seus lugares, respectivamente abaixo e acima de seus pais, criando a extensão espacial do mundo e os limites da Terra. Então, Geb e Nut geram as outras divindades da Enéada: Osíris (Wesir - Fertilidade) e Isis (Aset - Maternidade), Set (Deserto) e Néftis (Nebet Het - Funerais), que representavam a terra fértil do Egito e o deserto que o cerca, bem como os processos pelos quais a vida se torna possível. Com frequência, Hórus (Heru - Realeza) é acrescentado nesse grupo, formando a conexão entre a criação e a estrutura da sociedade.
   No entanto, na maioria das vezes, todas essas divindades geradas a partir de Atum são consideradas apenas extensões ou faces do princípio divino criador original, visto como Pai de Todos, Regente dos Deuses. De fato, tudo o que há no mundo podia ser considerado apenas um reflexo do poder de Atum.

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Fiz essa árvore genealógica bem simples para ilustrar as
relações da Enéada. Anúbis não é parte da Enéada, por isso
seu nome está em azul :)
Gods and men in Egypt, por Françoise Dunand.
Genesis in Egypt: The Philosophy of Ancient Egyptian Creation Accounts, por James Peter Allen.
Egyptian Mythology, por Simon Goodenough.
The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt, por Richard H. Wilkinson.
Handbook Egyptian Mythology, por Geraldine Pinch.

A buscar e buscar,
Alannyë Daeris.  

2 comentários:

  1. Olá! Adorooo seu blog! Gostaria muito que se possível você falasse um pouco do mito de Elefantina com o deus Khnum

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    1. Olá, gratidão pelo carinho e por lembrar que preciso prosseguir com essa série de posts! Trarei sim, é um dos meus mitos de criação preferidos ♥

      Bênçãos! Nekhtet

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