quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Lixo Mágico

Der Hexenmeister - Domenicus van Wijnen,
17th century.
   Se livrar dos restos de feitiços e rituais pode ser um pouco confuso para quem não tem muita experiência em Bruxaria. Posso jogar no lixo? Ou devo guardar as velas para usar depois? Essas perguntas, caso feitas a outros praticantes experientes, rendem várias respostas. Então, esse texto demonstrará as diferentes formas possíveis de descartar o lixo mágico; pode não parecer, mas há vários critérios para isso!
   Primeiramente, é preciso definir o que é lixo mágico. Lixo mágico são todas aquelas coisas que restam após atividades mágicas e que geralmente não podem ser reutilizadas: sobras de velas, cinzas de incensos e papéis, pedaços de tecido, fitas, ervas, comida e oferendas em geral. Já coisas como cristais, instrumentos mágicos, estátuas e afins não precisam nem devem ser jogadas fora após a utilização - mas há exceções.

De acordo com a intenção:


   Despejar lixo mágico de acordo com a intenção para a qual foi utilizado é uma boa forma de facilitar, pois ao final de qualquer prática mágica, você pode se livrar de todos os restos da mesma maneira, considerando que provavelmente os utilizou com as mesmas intenções.

☾ Prosperidade: podem ser enterrados nos fundos de sua casa para manter a prosperidade em sua vida, em propriedades alheias para atraí-la a um alvo específico, ou em lugares onde a natureza seja abundante. Caso a propriedade seja de uma empresa, o alvo pode ser um empregado específico ou a empresa como um todo.

☾ Proteção: enterre em algum lugar de sua casa (preferivelmente nos fundos) caso o alvo seja você e/ou sua família. Quando enterrado em propriedade aleia, serve para proteger alguém ou a propriedade inteira, da mesma forma que os feitiços de prosperidade.

☾ Harmonia: enterre em sua casa, preferivelmente nos fundos. Lagos e açudes onde a água fica estagnada também podem servir para este propósito.

☾ Amor e amizade: para manter, enterre nos fundos de sua casa. Para atrair um novo amor, enterre próximo à frente da sua casa, ou deixe em uma encruzilhada. Caso você tenha um alvo específico, pode optar por deixar os restos em uma estrada que vá em direção à casa da pessoa, ou próximo à porta de sua casa.

☾ Banimento: rios, oceanos e braços de água corrente, cemitérios, encruzilhadas, estradas ou trilhos abandonados servem para banimento, assim como o fogo ou dar descarga privada abaixo. Você também pode optar por enterrar ou deixar na natureza, mas escolha um lugar longe de sua casa.

☾ Cura/saúde: enterre ou deixe onde haja natureza e abundância de vida - jardins com muitas flores, por exemplo -, no fundo de sua casa, ou deixe em água corrente.

☾ Purificação: deixar em um braço de água corrente, dar a descarga na privada ou enterrar longe de sua casa são as melhores opções.

☾ Maldições: deixe em uma encruzilhada, em uma estrada que leve até a casa da pessoa em questão, em um braço de água corrente ou enterre em um cemitério. Também é possível deixar próximo à entrada da casa da pessoa - desde que não seja perceptível - ou enterrar em sua propriedade.

De acordo com o tipo de lixo:


 Velas: se não queimou por inteiro, pode ser reutilizada, desde que purificada e carregada energeticamente para sua nova intenção - embora seja bastante preferível utilizá-las com o mesmo propósito. Se foi usada em honra a uma entidade, não é preciso purificá-la e carregá-la energeticamente, mas não deve ser acesa para qualquer outra finalidade. Tocos de velas podem ser guardados para criar velas novas. Velas podem ser jogadas no lixo ou na privada sem maiores preocupações.
• Cinzas: como já foi citado nesse post, cinzas podem ser reutilizadas magicamente. Pode-se soprá-las ao vento qualquer que seja sua intenção, jogá-las na natureza, usar em pequenas quantidades para adubar plantas, dar descarga ou jogar no lixo comum.
• Oferendas: é comum que sejam depositadas na natureza, ou em lugares que tenham a ver com a entidade. No geral, oferendas são deixadas no altar ou em algum lugar especial por um tempo para a entidade receber suas energias. Após isso, podem ser depositadas em qualquer lixo ou na privada. Caso a oferenda seja orgânica ou não tenha materiais que demorem pra se decompor, pode ser depositada na natureza. Se a oferenda em questão for um alimento, pode ser ingerido. Alguns praticantes consideram essa prática ofensiva, mas poucas são as entidades que parecem se importar - afinal, é melhor que poluir a natureza. Se você estiver em dúvida, consulte a entidade e pergunte-a se há algum problema em ingerir as oferendas.

Outras formas de se livrar do lixo mágico:


• Depositar na natureza: é a opção preferida dentre muitos praticantes. É preciso tomar alguns cuidados: coisas tóxicas, poluentes ou que possam atrapalhar a vida de plantas e animais não devem ser deixados na natureza. Caso o seu lixo mágico não seja orgânico, ou demore muito tempo para se decompor, evite o depósito na natureza. Se não tiver outra opção, enterre. Muitos bruxos e bruxas criam um "cemitério" mágico em seu quintal, onde enterram todos os restos de seus feitiços e rituais que não tenham energias negativas.
• Vaso sanitário: pode parecer piada, mas não é! O ato de dar descarga tem o significado de se livrar de algo indesejável, sendo um ótimo fim para os restos mágicos, servindo também para afastar aquilo de sua vida - sendo complementar para atividades mágicas de banimento, por exemplo. O único problema aqui é o tamanho e o material daquilo que você estará dando descarga, pois pode acarretar em um encanamento entupido.
• Lixo normal: se você acredita que depois de usados magicamente os objetos como incensos e velas já gastaram toda a sua energia, então não há problema algum em jogá-los no lixo comum. E se você acredita que os objetos continuam contendo a energia utilizada na atividade mágica, bom, também não tem problema jogar no lixo comum, desde que ele não fique muito tempo na sua casa para evitar acúmulo de energias indesejáveis. Restos de feitiços para malefícios ou outros trabalhos com carga negativa e/ou poderosa não devem ser depositados no lixo comum - opte pelo vaso sanitário ou por enterrar em uma localidade afastada.

Lembrando que:


 Ao depositar restos de feitiços em cemitérios, deixe um agradecimento aos espíritos, como moedas ou flores.
 Ao enterrar ou depositar na natureza, peça permissão e tenha discernimento para não atrapalhar a fauna e a flora do local. Um agradecimento - como regar as plantas próximas ou deixar um alimento para os animais - é sempre bem vindo.
 Amuletos e talismãs não são lixo mágico! Alguns feitiços envolvem a criação de objetos - geralmente saquinhos com ervas e outras coisas - nos quais se concentra a energia que continuará trabalhando em seu favor. Esses objetos, se jogados fora, perderão seu propósito. Portanto, caso você esteja seguindo uma receita, preste atenção a tudo o que está escrito, pois geralmente o autor terá indicado o que fazer.

A despejar,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Necromancia - Lidando com o Outro Lado do Véu

Still Life with a Skull and a Writing Quill - Pieter Claesz, 1628. Óleo em madeira.

   Necromancia é como se denomina toda e qualquer prática mágica relacionada a aqueles que já se foram - espíritos, fantasmas, ancestrais, há várias denominações. Apesar de estar envolvida em desinformação, clichês incorretos e mistérios, especialmente sobre ser uma prática nefasta e maliciosa, a Necromancia não deve ser considerada "magia negra" - até porque esse conceito está errado. Ela é frequentemente usada para guiar quem precisa de conselhos, descobrir segredos de família ou informações sobre ancestralidade e para divinação, e mesmo quando utilizada para feitiços ou outras finalidades mágicas, não são todos os espíritos que vão ter interesse em ajudar uma pessoa com más intenções.
     A magia com os mortos não é recomendada para iniciantes. Há rituais e meditações que alguns novatos são capazes de realizar, além das oferendas e homenagens que não possuem restrições de experiência, mas não são todas as práticas mágicas necromânticas que podem ser realizadas por aqueles com pouca experiência. Além disso, é preciso que o praticante que saiba se proteger e realizar um banimento corretamente para evitar que os espíritos ou ancestrais envolvidos fiquem presos ao lugar e/ou ao próprio praticante. Por esse motivo, muitos preferem realizar rituais necromânticos em encruzilhadas, bosques afastados, cemitérios ou outras localidades que não sejam a própria casa - embora isso não resolva o problema por completo.
   Lidar com a morte e utilizá-la para fins mágicos não é exclusividade da necromancia. Oferendas de alimentos com carne, ervas utilizadas nos incensos e rituais, magia com sangue ou ossos e até mesmo o culto de algumas divindades - que podem ser ancestrais que já caminharam sobre a Terra - são exemplos de como a morte está presente na Bruxaria, mesmo quando não se está praticando necromancia de fato.
   Muitos tabus envolvem essas práticas mágicas, e aqueles que possuem interesse na necromancia devem, antes de qualquer outra coisa, encarar a morte com naturalidade e compreender que ela é uma transição necessária no ciclo da natureza, tanto quanto o nascimento. O medo da morte, ou sentimentos negativos em relação a ela tornarão suas tentativas de praticar necromancia frustradas.
   Mantenha em mente também que essa passagem pode ser traumática e dolorosa tanto para quem deixa o mundo material quanto para quem fica, portanto nem todos os espíritos a serem contatados estarão em paz e conscientes de seu estado. O papel de um necromante também envolve auxiliar espíritos perdidos e libertá-los de lugares ou pessoas aos quais estão presos por conflitos pendentes.
   Embora seja recomendável praticá-la com familiares falecidos, necromancia não precisa ser feita somente com aqueles que você conhecia e já partiram dessa para melhor. Qualquer espírito pode ser contatado, mas não há como saber de antemão se ele será amigável ou hostil em relação ao necromante; a forma como essa pessoa morreu - se foi de forma tranquila ou violenta -, sua personalidade, disposição e interesse em ajudar são alguns dos fatores que influenciam nesse ponto.
   A conexão com os finados pode ser feita através de meditações e sonhos, mas nem sempre vontade sozinha é o suficiente para isso; portanto, é comum que necromantes busquem links mágicos que fortaleçam seu vínculo ao falecido. Exemplos são a casa em que a pessoa morava, objetos e roupas pertencentes a ela, o lugar onde morreu, sua cova ou a terra sobre ela, e seus restos mortais.
   Atualmente, a necromancia é feita quase que exclusivamente através dos espíritos que partiram para o submundo. No entanto, é possível e recorrente em registros medievais sobre Bruxaria as práticas realizadas com corpos e restos mortais. Divinação através de ossos, cura através de rituais com membros e maldições de todo o tipo são citadas dentre as utilizações de cadáveres. Existem inúmeras outras aplicações, mas ter acesso ao material necessário para aprendizado e prática é algo extremamente difícil - já que revirar túmulos além de anti-ético é crime.
   É normal entre pagãos e neo-pagãos que suas práticas mágicas relacionadas à morte sejam unidas ao culto de divindades do submundo, pois são os guardiões dos mortos e conhecedores dos mistérios da pós-vida. Essas divindades podem agir como intermediários durante interações e atividades mágicas, como também guiá-lo durante as mesmas. Porém, como todo culto prestado aos Deuses, deve ser feito somente por afinidade e vontade genuína; interagir com uma divindade somente por interesse nos aspectos cujos quais ela domina é um ato muitas vezes mal visto e até mesmo passível de consequências dependendo da entidade em questão.
   O festival pagão do Samhain possui a tradição de prestar homenagem aos ancestrais e pessoas queridas que já faleceram, sendo um ótimo momento para aplicar seus estudos sobre essa arte. O véu entre os mundos durante a noite desse sabbath está mais fino, facilitando a interação entre vivos e mortos.
   Em várias culturas existem entidades conhecidas como psicopompos - que podem ou não ser divindades -, responsáveis por conduzir os mortos até o submundo. Essa simbologia se estende à outras transições além daquela feita da vida para a morte, mas a palavra em seu sentido original se refere a aquelas entidades que acompanham a passagem para o submundo. Alguns exemplos de psicopompos são Exu, Papa Ghede, Anúbis e as Valquírias.
   No Xamanismo, a necromancia é uma arte bastante desenvolvida e comum a todos os praticantes, especialmente pelo aspecto de ancestralidade que é bastante forte nesta cultura. Transes ritualísticos induzidos por música, dança e substâncias enteógenas para o contato com os espíritos são essenciais dentre os xamãs, e podem ser exercidos de maneira similar por outros praticantes de necromancia.

   Dicas para quem deseja aprender necromancia:


 Os melhores espíritos são aqueles com quem você tinha uma ligação sentimental boa, como parentes queridos. Se antes do falecimento da pessoa em questão vocês estavam em situação de hostilidade, evite contatá-la até possuir maior experiência no assunto, e apenas procure-a quando estiver pronto para solucionar os conflitos pendentes.

 Antes de partir para meditações e evocações, pratique através de oráculos como o tabuleiro ouija ou o pêndulo - optando, é claro, por um oráculo com o qual você já tem experiência. Qualquer oráculo serve, embora o pêndulo e o tabuleiro ouija sejam tradicionais na necromancia e bastante práticos para responder perguntas.

 A personalidade não muda após a morte. Se uma pessoa era egoísta em vida, continuará sendo egoísta após ela, e o contrário é verdadeiro. O mesmo serve para os gostos; oferendas podem ser facilmente encontradas quando se conhece as coisas das quais a pessoa gostava em vida.

 Sempre purifique o lugar antes e depois de realizar sua atividade mágica necromântica. Não importa se foi somente uma meditação rápida; a purificação pós-necromancia é imprescindível.

 Purifique também a você mesmo após o término de suas atividades. Um banho de sal grosso ou de água consagrada costumam servir, mas existem várias outras maneiras - práticas complexas requerem purificações mais fortes, enquanto práticas simples podem ser seguidas de purificações simples.

 Círculos mágicos são bastante úteis, especialmente aqueles feitos de sal ou ervas e flores relacionadas à purificação e proteção. Se você não gosta de círculos protetores, não é obrigado a empregá-los, mas precisará de banimentos mais poderosos após realizar suas atividades.

 Espíritos requerem respeito da mesma maneira que qualquer outra entidade. Não espere que terá algo de graça sem haver uma troca; portanto, esteja preparado para negociar uma oferenda equivalente ao que você deseja, que pode ser material ou em forma de atitudes ou favores.

Feitiço de Comunicação com os Ancestrais


   Esse feitiço pode ser realizado por iniciantes em necromancia, desde que tenham experiência em purificações e meditações. É preferível que você faça com espíritos ou ancestrais com os quais tem alguma conexão, especialmente familiares. Escolha uma pergunta que tenha a ver com a pessoa falecida, ou um conselho que você queira para sua vida. Deve ser feito à noite, antes de ir dormir.
   Você precisará de um pertence pessoal e/ou imagem da pessoa e um incenso, além de uma fruta ou alimento que essa pessoa gostava. Se você quiser ofertar outra coisa que sabe que ela gostaria de ganhar, substitua a fruta.
   Após purificar o local, trace o círculo mágico ao seu redor e acenda o incenso, convidando seu ancestral para fazer parte desse ritual. Mentalize suas feições, observe bem seu retrato ou o objeto dele. Se for alguém próximo a você, converse como conversava normalmente. Se você não souber o que falar, diga algo como:
"[Nome do ancestral], eu lhe convido em busca de conhecimento. Lhe oferto esse incenso e esse alimento, para honrá-lo e pedi-lo que me diga [o que você quer saber]."
   Observe o incenso, e mantenha seu foco na fumaça. Permita que sua mente se esvazie, e medite com o ancestral, enquanto continua prestando atenção no incenso queimando. É possível que ele não interaja tanto com você, e somente responda a pergunta. Após receber a resposta, agradeça ao ancestral e oferte a fruta ou o presente que você separou para dar a ele. Deixe em seu altar ou em uma janela, e no dia seguinte deposite na natureza. Caso o incenso não tenha terminado de queimar, você pode deixá-lo queimando enquanto termina o ritual e purifica o ambiente e a si mesmo.
   Se você não obter uma resposta até o incenso estar chegando ao fim, sopre a fumaça enquanto mentaliza sua pergunta sendo enviada até o ancestral, e encerre como indicado acima. Então, durma com a imagem ou o objeto próximos de sua cama, ou junto de você. É provável que você sonhará com a resposta, e se isso não acontecer, medite pela manhã com o ancestral - ele pode querer negociar algo em troca da resposta, ou não querer respondê-lo por algum motivo.

A honrar o outro lado do véu,
    Alannyë Daeris.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Grimório da Lua: Sal Negro, ou Black Salt


   O sal negro é um elemento muito utilizado em certos sistemas mágicos - como o Hoodoo e tradições pagãs europeias e africanas - para a proteção, sugar e banir más energias e repelir pessoas indesejadas. É conhecido também como Black Salt, Witches' Salt (Sal das Bruxas) e Drive Away Salt (Sal de Banimento) em tradições estrangeiras.
   Pode ser usado para amaldiçoar ou quebrar maldições e feitiços, pois funciona tanto para a proteção quanto para o ataque - especialmente em casos de defesa pessoal ou até mesmo vingança. Algumas práticas de necromancia, shadow magick e relacionadas ao submundo ou entidades ligadas a algum desses dois campos também se beneficiam desse ingrediente.
   Existem várias receitas e formas diferentes de preparar sal negro, pois é preciso apenas sal e algo que sirva para escurecê-lo: cinzas de incenso, pimenta preta, sementes de mostarda preta, gergelim preto, carvão em pó, cinzas de papéis e ervas queimadas, turmalinas negras ou pedras trituradas, terra de cemitério e até mesmo as raspas do fundo de panelas ou caldeirões servem - acredita-se que essa é uma das maneiras mais tradicionais, tanto no Hoodoo e Santería quanto nas tradições europeias.
   Alguns praticantes utilizam corante preto para a criação de sal negro, e é dito que funciona da mesma forma, pois boa parte de seu poder reside na egrégora da cor negra, mas acrescentar outros ingredientes escuros, principalmente os que tenham propriedades de banimento, purificação e proteção é importante para fortalecê-lo magicamente.
   Não confunda esse sal negro com o sal negro kala malak, utilizado na culinária, embora este possa ser adicionado durante a confecção do sal negro para fins mágicos.
Importante: Se você pretende usá-lo em algo que será ingerido por alguém, certifique-se de que sua receita é própria para consumo. Corante alimentício é uma alternativa viável e simples, mas recomendo que realize um ritual de criação mais elaborado para compensar a falta de outros ingredientes.

   Embora possa servir para uma grande gama de finalidades, o sal negro pode também ser criado com apenas um objetivo específico e fortalecido somente para esse objetivo em questão. Nesse caso, é comum que se utilizem as cinzas de ervas queimadas ou dos incensos de ervas que tenham a ver com o uso que você quer fazer do sal que está criando. Quando são feitos com uma intenção em mente, evite utilizar em práticas mágicas com outros objetivos, pois não terá o mesmo efeito que um sal negro normal.
   Dentre as finalidades específicas para as quais se é possível fazer um sal negro, estão: banimento de pessoas, afastar energias, purificar um local, proteção da casa, amuletos protetores, defesa mágica, amaldiçoar, contato com os mortos, banimento de espíritos ou ameaças astrais, evitar que pessoas más-intencionadas se aproximem de você.
   É um ingrediente muito valorizado para práticas mágicas não somente por suas propriedades mas também pela versatilidade de suas aplicações. Há inúmeras formas de utilizá-lo, mesmo com práticas mais simples e descomplicadas.
   As aplicações de sal negro mais comuns são: amuletos protetores para você, pessoas amadas, para seu quarto ou local de trabalho, para sua casa. Para usá-lo em feitiços descomplicadamente, unte uma vela em óleo e salpique sal negro, ou derreta-a de leve e passe-a sobre um prato com sal negro para que ele se fixe. Pode ser jogado ao redor de sua casa para evitar visitas indesejadas e afastar más energias, adicionado na água para limpar o chão da sua casa tanto de sujeiras físicas quanto astrais, jogado em certos ambientes para evitar que certa pessoa o frequente, e colocado nas coisas ou sobre a pessoa com quem se tem desafeto para que ela seja banida de sua vida.
   Se você possuir um altar, pode escrever o nome de alguém ou algo que quer afastar de sua vida usando o sal negro, ou depositar dentro de uma vasilha cheia de sal negro um papel onde está escrito aquilo de que você quer se afastar - se for uma pessoa, coloque o nome e uma imagem ou algo pertencente à ela dentro da vasilha. Esse ingrediente também pode ser diluído em água para a limpeza de seus instrumentos mágicos, ou para banhos mágicos purificadores.
   Após o uso, é preciso que seja jogado fora, especialmente pela carga energética negativa que possui. Evite depositar sobre gramados ou solos onde haja plantas, pois o sal e suas energias podem matar a vegetação. Porém, se você encontrar um pedaço de solo virgem ou areia, é uma boa pedida enterrar os restos de sal negro. Outras formas de descartar sal negro gasto é jogá-lo ao vento, na água corrente, no vaso sanitário, ou ainda queimá-lo. Caso você opte pela queima, não reutilize as cinzas. Amuletos para a proteção da casa podem ser enterrados em sua propriedade e esquecidos lá, mas nesse caso, é preferível que sejam feitos com materiais que se decomponham, como tecidos de algodão.

Preparando seu Sal Negro


   Há várias maneiras de criar sal negro para utilização na magia, e diferentes receitas espalhadas pela internet que podem ser seguidas. 
   Se você precisa de uma receita simples e eficaz: adicione três partes de sal para uma parte de cada ingrediente escurecedor - enquanto mantém seu foco nas energias de proteção e defesa. Depois, deixe-o sob a luz do luar por pelo menos uma noite para que absorva as energias. Você também pode colocar uma turmalina negra purificada e consagrada sobre a mistura para fortalecê-lo com suas energias.
   Algumas coisas a se considerar:
 Procure fazê-lo durante a Lua minguante ou negra. Eclipses favorecem a criação de sais negros poderosos.
 Tanto sal grosso quanto refinado podem ser usados, embora o sal grosso tenha certa preferência.
 Se você quiser amplificar ainda mais os poderes do seu sal negro, adicione algumas gotas de óleos essenciais de ervas que tenham a ver com banimento, proteção ou a sua intenção para esse ingrediente.
 Ao empregá-lo na magia, seja específico e bastante claro com seu objetivo. Como esse componente possui várias propriedades, há a possibilidade de que ele aja de uma maneira indesejada por você caso não seja explícito com suas intenções.

A banir e proteger,
   Alannyë Daeris.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Instrumentos Mágicos, parte 8 - Vestimentas Ritualísticas

The Magic Circle - John William Waterhouse, 1886.
   As vestes utilizadas em rituais podem ser consideradas instrumentos mágicos a parte, caso feitas especialmente para práticas mágicas. Em covens, é comum que durante os rituais seja exigido dos participantes certas vestes padronizadas, com cores e detalhes selecionadas para representar características do grupo e posição na hierarquia, caso haja alguma.
   Muitos praticantes optam por realizar rituais "vestidos de céu" - ou seja, nus. Acredita-se que dessa maneira não há interferência de quaisquer possíveis energias contidas nas roupas, e também que cria-se maior contato com a natureza em práticas mágicas realizadas ao ar livre.
   Realizar rituais vestido de céu também pode agregar energias, utilizando-se de maquiagens e/ou pinturas corporais para representar símbolos e trazer energias. Essa prática, porém, requer certa intimidade entre os integrantes do grupo ou coven, e pode ser desconfortável para muitos. Não são todos que se sentem seguros ritualizando dessa maneira; nesse caso, é possível usar as vestes mágicas consagradas especialmente para esses momentos.
   No entanto, as vestes cerimoniais não são obrigatórias; muitos praticantes simplesmente optam por vestir-se de uma maneira que se sentem bem e se purificar completamente antes da realização da atividade mágica. O mesmo serve para acessórios ritualísticos; embora acrescentem sua energia ao ritual sendo conduzido, não são obrigatórios, e você pode usar anéis ou brincos normais apenas por vaidade.
Circe offering cup to Ulysses - John William
Waterhouse, 1891.
   Vestimentas ritualísticas podem ser feitas sob medida ou compradas de artesãos. Roupas compradas em lojas comuns podem se tornar vestes cerimoniais desde que purificadas e consagradas somente para a finalidade de rituais e práticas mágicas. Se você tiver habilidades de costura, pode também comprar o tecido desejado e fazer você mesmo, tornando o ato de criá-la em uma atividade mágica por si só.
   Não existe um formato obrigatório para as vestes, mas é comum que robes longos e/ou capas com capuz similares às roupas usadas em filmes medievais sejam vistas em rituais de covens e grupos de Bruxaria. A praticidade deve ser levada em consideração: mangas muito longas e abertas geram riscos de incêndio muito grandes, visto que durante rituais há manipulação de fogo em velas e caldeirões. Da mesma forma, capas ou robes muito longos podem ser perigosos.
   As cores utilizadas podem representar inúmeras características sobre o praticante, porém grupos costumam determinar as cores de acordo com a hierarquia ou sexo. Alguns optam por utilizar cintos de cetim de tecido trançado - similares à cordas da bruxa - coloridos para indicar a hierarquia.
   Para saber mais sobre simbologia das cores...
   Antes de utilizar uma veste ritualística, você deve purificá-la e consagrá-la assim como qualquer outro item mágico. Alguns praticantes costumam realizar banhos mágicos purificadores antes de rituais, e lavar suas vestes ritualísticas à mão, podendo utilizar ervas para purificá-las e consagrá-las com suas energias.

A me despir,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Instrumentos Mágicos, parte 7 - O Livro das Sombras (Book of Shadows), ou Grimório


   O Livro das Sombras - ou Book of Shadows - é possivelmente um dos instrumentos mágicos mais essenciais à qualquer praticante de Bruxaria, bem como um dos mais simples de se adquirir também. Acredita-se que a tradição de manter livros manuscritos contendo informações sobre práticas mágicas exista há tanto tempo quanto a Bruxaria como ofício, e grimórios costumam acompanhar as bruxas até mesmo no imaginário da cultura popular.
   Tradicionalmente, é dito que esses grimórios mágicos eram mantidos somente pelo Alto Sacerdote e a Alta Sacerdotisa de covens, e copiado por seus sacerdotes para seus estudos. Nas vertentes modernas de Bruxaria, porém, o Livro das Sombras é um instrumento pessoal mantido por cada praticante individualmente. Não é comum que se emprestem esses livros, embora existam covens que mantenham um grimório oficial da tradição, elaborado por todos os participantes.

Adquirindo um Livro das Sombras


   Embora seja possível comprá-lo pronto e decorado de artesãos especializados, Livros das Sombras não possuem regras a serem seguidas quanto à aparência. Em muitos lugares você lerá que precisam ter a capa preta e um pentagrama; isso, porém, é apenas uma tradição.
   Há praticantes que optam por cadernos simples e sem ornamentos - o que é ótimo caso você prefira manter suas crenças em segredo -, e outros que preferem comprar cadernos ou fichários para decorar em casa. Alguns Books of Shadows são feitos como scrapbooks, com colagens e decorações feitas manualmente página por página. É bastante comum que essas decorações envolvam símbolos, sigilos e runas que você queira atrair para seu instrumento e para seus estudos. Além disso, o ato de decorá-lo (mesmo que apenas em seu interior) é capaz de colocar em seu livro suas próprias energias, tornando-o mais ligado a si.
   Ou seja: seu Livro das Sombras deve ser pensado de acordo com o seu gosto. Não há problema algum em usar uma agenda simples, um caderno sem pauta, ou um fichário cor-de-rosa para seus estudos, pois o importante é o conteúdo que ele abrigará.

O que escrever?


   Seu Livro das Sombras deve ser uma ferramenta de auxílio para seus estudos. Tudo o que você achar importante em relação às suas práticas pode e deve estar em seu livro: tanto informações básicas a respeito de certas atividades mágicas e crenças quanto símbolos e seus significados, receitas para poções, rituais para diversas finalidades, listas de correspondências de cores, horários e ervas, hinos ou poemas para divindades que você cultua, e até mesmo meditações que você teve com entidades.
   Se tem a ver com suas práticas e você acha importante, escreva sem medo! Seu Livro das Sombras é a ferramenta à qual você recorrerá quando possuir dúvidas, portanto, muito empenho deve ser colocado em sua elaboração.
   Algumas pessoas optam por separar o Livro das Sombras e o Grimório - que seria, no caso, um livro dedicado somente a feitiços, poções e rituais. Porém, caso seu caminho não envolva crenças religiosas, pode lhe ser mais útil ter somente um, ou mesclá-los no mesmo livro em uma parte separada.
   Embora livros não possuam regras para sua aparência, você deve ter em mente que ele deve ser usado somente para seus estudos mágicos e coisas relacionadas às suas práticas ou crenças. Assim como você provavelmente não usa seu athame para cortar legumes, não use seu livro das sombras para anotar outras coisas que não tenham a ver com seu caminho mágico.


Livro do Espelho/Diário Mágico


   O Livro do Espelho é um diário mágico - como também é conhecido - em que você anota seu cotidiano de práticas mágicas, sonhos, meditações e pensamentos sobre seu caminho. Enquanto em seu Livro das Sombras você anota as informações teóricas a respeito de rituais, por exemplo, no Livro do Espelho você anota o que sentiu durante o ritual, pensamentos a respeito dele, e também os resultados que percebeu conforme o tempo passa. Sinais enviados por divindades, resultados de divinações, como as fases da lua ou de outros planetas influenciam você, todas essas coisas íntimas ligadas ao seu caminho tem seu lugar no Livro do Espelho. Algumas mulheres utilizam esse diário mágico para anotar informações sobre seus ciclos menstruais também.
   Esse livro serve principalmente para que possamos acompanhar nossa trajetória, e também lembrar com maiores detalhes de práticas mágicas ou divinações que tenhamos feito. É comum que seja feito separadamente do Livro das Sombras, mas pode muito bem ser mesclado da mesma forma que o Grimório em uma parte separada somente para ele.
   Da mesma forma que o Livro das Sombras, não há regras quanto à aparência de um Livro do Espelho, embora seja comum que se acrescente um pedaço de espelho ou alguma decoração reflexiva em sua capa.

☽❍☾

    Posso ter um Livro das Sombras virtual?


   Essa é uma pergunta que costuma gerar polêmica entre praticantes de magia. Há quem diga que Livros das Sombras virtuais não servem como instrumento mágico, e que só devem ser utilizados para guardar as informações que já existem em seu livro físico, como um backup. Mas também há quem diga que a tecnologia está aí para facilitar nossa vida, e que é muito mais prático, já que é só colocar em uma plataforma virtual e acessá-lo em qualquer lugar.
   No fim das contas, a escolha é pessoal e cada praticante sabe o que funciona pra si. Portanto, se você gosta da ideia, vá em frente. Só não esqueça de consagrá-lo! Afinal, mesmo sendo digital, ele continua tendo suas energias.

    Posso imprimir as páginas do meu Livro das Sombras?


   Poder, você pode. Mas lembre-se que o ato de escrever serve para colocar suas energias em seu Livro das Sombras, e imprimir as páginas impede essa ligação tão importante entre você e seu instrumento mágico.
   Minha recomendação é: imprima somente páginas de imagens ou ilustrações que sirvam para decoração, ou divisórias para separar os assuntos tratados em seu Livro. Mas, como dito acima, é uma escolha pessoal e se funciona para você, que assim seja.

    Tem algum problema em emprestar o Livro das Sombras?


   Seu Livro das Sombras é um instrumento mágico com bastante conexão com você. Portanto, emprestá-lo significa que a pessoa terá uma forte ligação com você, e caso seja experiente em magia, pode lhe afetar magicamente - para bem ou para mal - com muito mais sucesso. 
   Se você tem plena confiança na pessoa em que pretende emprestar, muito bem. Mas não é uma atitude muito recomendada. Caso faça-o de qualquer jeito, lembre-se que é preciso purificar e consagrar novamente seu Livro sempre que alguém o toca, pois além de suas energias poderem ser conflitantes, não é comum que se queira ter energias alheias em instrumentos mágicos.
   

   ☾ Quero ter um Livro das Sombras com outra pessoa. Como faço?


   É normal que bruxos e bruxas que pratiquem com frequência juntos e possuam práticas similares criem Livros das Sombras para unir os conhecimentos que possuem e atividades que realizam. Esse conjunto de conhecimentos é conhecido como Tradição - um caminho de Bruxaria elaborado e praticado por várias pessoas. Covens e clãs familiares geralmente são aqueles que criam e mantêm tradições singulares.
   Para criar um Livro das Sombras em conjunto é preciso consagrá-lo com todos os responsáveis por ele juntos, bem como todos aqueles que poderão ver e escrever nele. É normal que, nesses casos, os indivíduos continuem possuindo seus Livros individuais - portanto, o Livro das Sombras do grupo pertence ao grupo, que pode definir regras e maiores detalhes a respeito do funcionamento de seu grimório.

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Consagrando seu Livro das Sombras


   Esse ritual de consagração pode ser realizado tanto por praticantes solitários quanto praticantes em conjunto. Adapte-o de acordo com suas necessidades; essa é uma das formas mais tradicionais de realizá-lo. Em grupos, é comum que um praticante seja responsável pela abertura do círculo mágico, e um por cada quadrante, mas pode ser dividido de acordo com a preferência e a quantidade de integrantes.

☾ Uma vela (branca, se possível)
☾ Um incenso de sua preferência
☾ Um cálice com água
☾ Um pratinho com sal, ou terra

A organização de um altar geralmente segue o pentagrama. O Éter é onde pode-se colocar estátuas e objetos de honra a divindades.

   Organize os objetos nos quadrantes dos elementos em seu altar de acordo com a imagem acima - caso você não possua um fixo ainda, pode ser uma mesinha em seu quarto, o chão, ou algum local ao ar livre como um jardim. 
   Trace um círculo mágico ao seu redor e jogue um pouco de água sobre seu Livro das Sombras, pedindo ao elemento água que purifique-o e consagre-o, com energias de intuição e foco. Depois, passe-o sobre a chama da vela com cuidado, pedindo ao fogo que consagre-o com suas energias de vitalidade e intensidade. Coloque um pouco de terra ou sal sobre seu Livro das Sombras, pedindo á terra que traga estabilidade e prosperidade aos seus estudos. E por fim, envolva seu Livro das Sombras na fumaça do incenso, pedindo ao ar que forneça muitas energias relacionadas à intelecto e aprendizado. Desenhe um pentagrama no ar sobre seu Livro das Sombras, e agradeça aos elementos. Pode encerrar o ritual e destraçar o círculo mágico.

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A atualizar meu Livro das Sombras virtual,
   Alannyë Daeris.