terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Reiki e Estoicismo - Paralelos Filosóficos

   A prática dos Cinco Princípios do Reiki, ou Gokai, casou naturalmente com meus estudos do estoicismo, e imediatamente percebi as semelhança que essas filosofias compartilham, por mais distantes em cultura, e período histórico que estejam entre si. Usando as Meditações de Marco Aurélio (edição da Edipro) como ponto de referência, trago paralelos entre o Gokai e as reflexões estoicas do Imperador Filósofo, revelando o quanto são similares em sentido e na busca do uso prático e cotidiano dos ensinamentos da Natureza.
   É possível que outros ensinamentos estoicos - inclusive outros do próprio Imperador Filósofo - se alinhem com maior proximidade aos ensinamentos do mestre Mikao Usui, mas acredito que essa breve seleção abaixo seja capaz de incitar reflexões e percepções que expressam a similaridade dos princípios compartilhados por ambos.

0. Só por hoje
Livro 4 - 17. Não te conduzas como se estivesses destinado a viver 10 mil anos. A fatalidade está no teu encalço. Enquanto ainda vives, enquanto há possibilidade, sê da estirpe das pessoas boas.
Livro 7 - 8. Não te inquietes com as coisas futuras; com efeito, se houver necessidade, tu as encararás de posse da mesma razão que agora empregas com os problemas atuais.

1. Não me irrito
Livro 4 - 22. Não te deixes dominar pela impetuosidade, transmitindo, sim, justiça em todas as tuas ações e impulsos, e em todas as tuas ideias conserva o entendimento.
Livro 4 - 49. Sê semelhante ao promontório no qual as ondas se chocam ininterruptamente, que, porém, permanece firme e acalma o ímpeto das águas que o circundam.

2. Não me preocupo
Livro 4 - 49. Sê semelhante ao promontório no qual as ondas se chocam ininterruptamente, que, porém, permanece firme e acalma o ímpeto das águas que o circundam. (...)
Livro 4 - 26. Viste aquilo? Pois vê isto também. Não perturbes a ti mesmo. Torna-te simples. Causam danos a ti? Aquele que o faz causa dano a si mesmo. Foste atingido por algum acontecimento? Ótimo, tudo aquilo que acontece foi determinado para ti pelo universo desse o princípio e segundo a trama do destino. Em síntese, a vida é curta: tira vantagem do presente com prudência e justiça.

3. Sou grato
Livro 7 - 7. Não te envergonhes de receber ajuda, uma vez que cabe a ti assumir teu dever como um soldado que combate nos muros de uma cidade. Nesse caso, na hipótese de seres coxo, como seria possível para ti, sem o auxílio alheio, escalar os muros sozinho?
Livro 6 - 39. Ajusta-te às coisas que te foram destinadas pela sorte; e ama, mas verdadeiramente, as pessoas que o destino a ti apontou para convivência.

4. Trabalho com dedicação
Livro 9 - Esforça-te no trabalho! Não como um infeliz nem como alguém que quer ser alvo de compaixão ou admiração, mas como uma pessoa que quer unicamente mover-se ou deter-se como a razão social considera justo.
Livro 4 - 2. Não faças nada ao acaso nem de outra maneira, exceto segundo os preceitos da prefeita execução da arte.
Livro 2 - 5. Pensa firmemente a todo instante, como romano e homem, em realizar o que tens nas mãos com dignidade - ao mesmo tempo, estrita e sincera -, ternura, liberdade e justiça; ademais, confere a ti mesmo repouso executando cada ação de tua vida como se fosse a última, afastando toda leviandade e desvio passional daquilo que a razão decide.

5. Sou gentil com todos os seres
Livro 7 - Vigia para não alimentares em relação aos seres humanos que se afastam e esquivam dos seres humanos os mesmos sentimentos que alimentam em relação aos seres humanos.
Livro 8 - 59. Os seres humanos nasceram para a reciprocidade. Portanto, ministra-lhes um ensinamento nesse sentido ou suporte-os.
Livro 4 - 40. Concebe ininterruptamente o mundo como um ser vivo único, possuidor de uma substância única e alma única; como todas as coisas remontam a uma faculdade de percepção única; como todas as coisas atuam por um impulso único; como todas as coisas concorrem para a causa de todas as coisas; ademais, como estão tecidas e enoveladas em conjunção.

A admirar profundamente o Imperador Filósofo,
   Alannyë Daeris

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Resenha: A Dança Cósmica das Feiticeiras, de Starhawk

   Sinopse: Uma visão contemporânea da magia que ensina aos leitores o caminho prático de comunhão com a natureza através de exercícios que aliam técnicas da psicologia moderna com os ancestrais rituais de contato com o Espírito Feminino do planeta. "A Feitiçaria é uma religião que retira os seus ensinamentos da natureza e inspira-se nos movimentos do sol, da Lua e das estrelas, no vôo dos pássaros, no lento crescimento das árvores e no ciclo das estações."

Ficha Técnica


   Autora: Starhawk
   Ano: 1993 (1° Ed 1979)
   Editora: Nova Era
   Páginas: 351

   Um clássico de peso, sempre referenciado em guias de estudos e em rodas de conversas, discussões ou sugestões de leitura na comunidade Bruxa desde seu lançamento - e que recentemente recebeu uma repaginada e voltou às livrarias numa edição nova e maravilhosa da Editora Pensamento (que eu aceito de presente!)... É um prazer falar a respeito de um livro como A Dança Cósmica das Feiticeiras, em toda sua importância merecida e conquistada com uma linguagem bela, inspiradora e cristalina.
   Os temas discutidos no decorrer dessa obra são de grande relevância ainda nos dias de hoje, passados mais de 40 anos desse sua primeira publicação. São ensinamentos profundos trazidos com simplicidade e coerência, e os relatos que se mesclam à narrativa acrescentam muito valor ao conhecimento transmitido. É de uma beleza poética e inspiradora, que certamente trará vividas sensações e emoções às filhas e filhos dos Deuses antigos.
   Certas passagens e afirmações históricas são um tanto romantizadas para evidenciar as ideias que estão sendo transmitidas, mas é também muito perceptível que esse livro é fruto de seu período histórico, e reflete os movimentos sociais e culturais que estavam se estruturando naquele momento, bem como as mudanças pelas quais a Bruxaria estava passando na década de 70. Essa é uma obra de viés feminista, com percepções muito sóbrias e responsáveis a respeito do movimento e de como ele se relaciona com a espiritualidade.
   Existem diversos motivos para o sucesso absoluto de A Dança Cósmica como um livro essencial e básico para o estudo da Bruxaria e do Neopaganismo, que vão além de sua beleza e poesia ou das opiniões bem colocadas da autora; para alguns, são os rituais teatrais, as falas sobre a coexistência entre magia e ciência como visões válidas e complementares da realidade, ou as descrições e falas a respeito de covens e suas experiências únicas. Para outros, são os temas sociais e políticos que se mesclam de forma orgânica na narrativa proposta.
   Fato é que cada leitor ou leitora terá suas próprias impressões e sensações ao explorar essa obra; ela pode se revelar como sendo um guia, um manual de instruções, um Livro das Sombras, um diário, um conto inspirador e poético, ou tudo isso e muito mais... Mas gostando dela ou não, há que se concordar que abriu caminhos e contribuiu imensamente para a popularização da Bruxaria e, décadas depois, segue sendo uma leitura excepcional e indispensável para qualquer amante da Arte e da Religião da Deusa, seja para fins de aprendizado, contemplação, ou referência histórica.

A resgatar deslumbres de aprendiz,
   Alannyë Daeris.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Óleo Mágico para Intuição

   Para todas as ocasiões em que for necessário estimular ou acessar sua intuição, transmito essa receita de óleo ritualístico - como prometi nos meus stories do Instagram recentemente -, de confecção descomplicada. As ervas usadas podem estar frescas ou secas, e quando não há uma quantidade estipulada, adicione quanto julgar suficiente (até no máximo 2 colheres de sopa).
   Evite fazer substituições na receita abaixo, mas se for necessário substituir uma das ervas, sugiro capim-limão, louro ou erva-doce. Para a utilização antes de leituras oraculares, sugiro aplicar uma gotinha no centro da testa, na garganta, e no coração; ou esfregar uma pequena gota nas mãos até que seja completamente absorvida. Mas não se restrinja a isso, pois esse óleo também é ideal para untar velas e estátuas sagradas, adicionar em feitiços e saquinhos, consagrar objetos, dentre outras aplicações ritualísticas.

Você precisará de:
• Três flores secas de anis estrelado
• Dente-de-leão
• Lavanda ou Artemísia
• Uma bola de noz moscada (se necessário pode raspar, mas não é o ideal)
• De 100ml a 250ml de azeite de oliva ou de girassol
• Recipiente de vidro com tampa ou garrafa com rolha

🌓 Qualquer fase lunar, de preferência à noite.
🕒 Horas e dias de Lua, Júpiter ou Mercúrio.

   Separe todos os ingredientes em seu altar ou espaço sagrado, certificando-se de que não será interrompido. Purifique a si mesmo, ao ambiente e ao recipiente que armazenará o óleo, utilizando um método de sua preferência para tal. Caso queira consagrar o óleo com uma Divindade ou entidade relacionada à intenção, convide-a agora como for de seu costume.
   Concentre-se na intenção e adicione as ervas no recipiente, enquanto as consagra para a finalidade de estimular, favorecer ou facilitar o acesso da sua intuição, clarividência, ou mediunidade. Você pode pedir a elas que auxiliem em suas práticas oraculares, ou proferir um encantamento logo após ter colocado todas as ervas no vidro, como por exemplo:

"Eis a fonte de intensa conexão
Acesso pleno à minha intuição
Encontro direto com a informação
Pelo óleo na palma da minha mão
Noz, anis, lavanda e dente de leão
Fornecem sempre elevadora reflexão"

   Despeje o azeite no recipiente, se possível cobrindo a todas as ervas. Você pode agitar o recipiente fazendo movimentos circulares no ar para ajudar os ingredientes a se acomodarem no vidro, e também adicionar outros elementos que julgar apropriados, como cristais, uma taglock sua (por exemplo, um fio de cabelo ou seu nome e data de nascimento escritos em um papel), ou outros materiais orgânicos.
   Quando julgar estar pronto, consagre com um método de sua preferência (ou repetindo o encantamento), tampe bem e guarde em um local escuro por pelo menos 15 dias. Passado esse tempo, coe as ervas e outros materiais, e está pronto para usar.

A intuir ferramentas efetivas,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Método Oracular da Jornada Espiritual

   Esse método está registrado em meu caderninho de tiradas há algum tempo, e honestamente não me recordo se foi adaptado a partir de algum local ou se foi uma criação minha. Em todo caso, foi criado para a compreensão do caminho espiritual que se está trilhando, somando orientações sobre como agir para seguir evoluindo.
   Até o presente momento, apliquei essa tirada em multiformes contextos, configurações, e com ferramentas oraculares distintas (às vezes juntas e outras vezes sozinhas) e as experiências se mostraram sempre satisfatórias, produtivas inclusive quando a leitura é refeita com o mesmo oráculo para uma pessoa passados alguns meses.
   Você pode usar qualquer oráculo de sua preferência, mas o Tarot (no método europeu em especial), o Petit Lenormand (com pares de cartas), e as Runas Nórdicas são aqueles que recomendo para melhor aproveitamento do método, mas não se sinta restrito às opções indicadas. Essa é uma ótima tirada para unir diferentes ferramentas oraculares, a fim de obter diferentes perspectivas e panoramas mais detalhados em cada uma das posições.

O Método


1. Eu sou. Como sou em relação à espiritualidade.
2. Eu colaboro. Como lido com suas parcerias ou referências no caminho (podendo ser parceiros de Arte e práticas, ou entidades, espíritos e Deuses).
3. Eu expresso. A comunicação e conexão com meu lado espiritual.
4. Eu realizo. Ações necessárias para minha evolução.
5. Eu evoluo. Como a espiritualidade transforma minha vida pessoal.
6. Eu harmonizo. Como conciliar a espiritualidade no cotidiano.
7. Eu reflito. Meu papel no meu caminho, o que posso realizar.
8. Eu compreendo. Como tirar bom proveito dos conselhos.

A absorver mistérios ósseos,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Varinhas Egípcias - Apotropaicas e Mágicas

Birth tusks do Império Médio (de 1981 a 1640a.C.),
atualmente expostas no Met Museum.
   Dentro da magia praticada pelos egípcios na Antiguidade, um dos aspectos mais interessantes são as "varinhas mágicas", também chamadas de "birth tusks" ('presas de nascimento' em tradução livre). Eram confeccionadas a partir de presas de hipopótamo - e muito raramente de pedra sabão -, cortadas ao meio e inscritas com símbolos, imagens de deuses e espíritos ligados à defesa, e hieróglifos destinados a intensificar ou legitimar a proteção desejada - e eram confeccionadas de forma única, nenhuma varinha sendo igual à outra.
   O material tradicionalmente usado tem relação com a divindade hipopótamo Taweret, pois além da presa ser a arma mais mortífera do animal símbolo da deusa, esses mamíferos são criaturas poderosas e que defendem com ferocidade suas ninhadas. Taweret é a guardiã do lar, das mães, padroeira do nascimento e das crianças, portanto sua presença em entalhes e desenhos no corpo da varinha Apotropaicas (protetiva) era frequente. Nas presas que foram encontradas com inscrições, esses escritos sempre fazem referência à proteção de crianças ou mulheres.
   Essas varinhas são bastante comuns em tumbas entre o Império Médio até o Segundo Período Intermediário, com a finalidade de proteger os falecidos em sua viagem para o Duat (pós-vida), mas também eram usadas para a defesa contra influências malignas que pudessem perturbar a mãe ou o bebê no momento do parto - e portanto o nome "birth tusks", pois são presas de hipopótamo associadas ao nascimento. A morte era reconhecida pelos egípcios como um renascimento, portanto, é natural que as varinhas protetoras estivessem presentes em ambas as transições da existência humana - no parto e na morte, o despertar para a vida eterna.
Varinha do Império Médio,
consertada ainda na
antiguidade. EA24426
   Um detalhe importante é fato dessas varinhas apresentarem sinais de uso e desgaste por manuseio, o que indica que não eram apenas artefatos estáticos, e sim utilizados pelos praticantes de magia (Heka). Há exemplares que foram cuidadosamente remendados após se quebrarem, o que indica que eram valiosas para seus donos de alguma forma. Não se sabe qual o papel exato das varinhas mágicas protetoras nos rituais egípcios, mas se pode especular que eram usadas por meio de gestos e movimentos - como o ato de traçar um círculo em torno da parturiente - e que se tocava algo com uma das pontas, pois é comum um desgaste nesse local específico nas varinhas encontradas por arqueólogos.
   Existem poucas ilustrações desses objetos na arte egípcia, e nas que existem e foram relatadas, eles são vistos nas mãos de enfermeiras, o que confirma a impressão de que são usados no momento do nascimento. Porém, não se sabe se também havia alguma ritualística efetuada no falecimento, ou se eram apenas colocadas junto ao morto.
   Diversas divindades, entidades e animais são representados nas varinhas mágicas, em especial os que se relacionam com fertilidade, nascimento, proteção, e magia. Além da deusa Taweret, o deus Bes e Set estão frequentemente presentes em desenhos. Os animais incluem sapos, serpentes, chacais, hipopótamos, e gatos. Outros seres mitológicos incluem grifos e representações do disco solar alado.

Varinhas de Serpente


Exemplo 1 e 2, e exemplo 3.
   No período do Império Médio, um outro artefato similar se desenvolveu no Egito e compôs o inventário dos praticantes de magia. Porém, somando ao fato de serem muito mais raras, as varinhas de serpente parecem ter uma finalidade diferente daquela desempenhada pelas presas de nascimento citadas anteriormente. Também é incerto o uso prático desses artefatos, mas sem dúvidas eram itens ritualísticos.
   Essas "serpent wands" possuem relação simbólica com o Uraeus, cobra que o faraó carregava em sua coroa e simbolizava sua soberania e proteção; mas provavelmente são representativas da deusa Weret-Hekau, cujo nome significa "grande em magia" e favorece aqueles que a praticam. Os materiais usados na confecção dessas varinhas varia entre madeira e cobre, como é o caso dos exemplos arqueológicos das imagens acima.

Informações sobre as birth tusks em Magic in Ancient Egypt, de Geraldine Pinch
Maiores informações sobre as serpent wands em Through A Glass Darkly: Magic, Dreams and Prophesy in Ancient Egypt - cap. 11, pg 205-226.

A estabelecer intenções com potência,
   Alannyë Daeris.