segunda-feira, 25 de abril de 2022

Resenha: Sonhando com os Deuses, de Scott Cunningham

   Sinopse: Necessitamos de um período de descanso físico e mental, temos sono e dormimos. A conseqüência desse ato tão natural podem ser os sonhos, pois no momento do sono entramos em um estado alterado de consciência em que nossos deuses e deusas podem se aproximar mais facilmente de nós. Essa é a visão do autor, que ensina rituais projetados para solicitar sonhos a nossas divindades pessoais, além de analisar teorias sobre os sonhos e sua importância para os antigos egípcios, sumerianos, babilônios, gregos, romanos, havaianos e nativos americanos. O autor recupera a visão dos antigos povos politeístas, segundo os quais os sonhos são experiências espirituais em que conselhos ou avisos são recebidos das divindades, e, mais importante, mostra como fazer para que nossas divindades pessoais nos visitem nos sonhos, transformando o sono em um processo mais elevado, um momento sublime para entrar em contato com o sagrado.

Ficha Técnica


   Autor: Scott Cunningham
   Ano: 2002 (1 Ed. 1999)
   Editora: Gaia
   Páginas: 174

   Quem me acompanha há mais tempo já deve ter percebido que sou uma ávida leitora das obras de Scott Cunningham, e qual não foi minha surpresa quando ouvi falar pela primeira vez sobre esse livro de autoria dele somente no ano passado! Tratei de adquirir em um sebo - pois é uma edição antiga e pouco conhecida -, e foi aí que me surpreendi de fato: essa obra de 2002 veio até mim lacrada na embalagem original, sem nunca ter sido lida antes. Sincronicidade!
   Esse é um livro curto, porém não se engane: é elaborado na medida certa, sucinto de forma agradável, sem se prolongar demasiadamente num assunto que pode ser profundo e complexo, o que não impede que seja ensinado de maneira simples e objetiva - como Scott faz com maestria, em sua linguagem agradável e fácil de acompanhar mesmo para completos leigos no assunto em questão.
   Qualquer indivíduo que busque se familiarizar com os sonhos por um viés espiritual, compreender a percepção de culturas antigas em relação ao tema, estar a par dos diferentes sonhos que existem e como diferenciá-los entre si, identificar as mensagens pessoais ou divinas que podem estar sendo transmitidas durante a noite... Precisa ler essa obra, que oferece tudo isso e muito mais.
   Cunningham explica a diferença entre variados tipos de sonhos e projeção astral, como se preparar para um sono sagrado, o que é a mente consciente e subconsciente, fornecendo também práticas para que o conhecimento seja aplicado pelo leitor. Não se tratam apenas de rituais e feitiços, mas também de dicas e sugestões para que possa registrar as experiências oníricas, e tirar sentido e significado dessas mensagens noturnas, sejam elas originadas pelo inconsciente ou pelo Divino.
   O livro se encerra com um apêndice que apresenta tabelas de correspondências para auxiliar na elaboração de práticas mágicas e devocionais próprias de cada praticante, como é comum nas obras de Scott, sempre interessado em estimular a autonomia e originalidade de cada caminho, incluindo também técnicas naturais para a indução de sono, para aqueles que possuem dificuldades nesse processo. Uma obra exemplar com direções magníficas para o entendimento e a prática de magia dos sonhos.

A agradecer ao meu Ancestral da Arte mais estimado,
   Alannyë Daeris

sábado, 23 de abril de 2022

Método Oracular do Coração Partido para Término de Relacionamento

   O fim de um relacionamento é um período delicado e emocionalmente turbulento para muitos, e com enorme frequência leva o indivíduo que sofre por um término a buscar os Oráculos, para obter respostas e direcionamentos, especialmente quando a vontade é de se acertar e reconciliar. Essa é uma tirada autoral para responder as principais questões e temas levantados em leituras oraculares de separações afetivas, e tem um propósito mais divinatório que aconselhador.
   As ferramentas oraculares sugeridas são o Petit Lenormand (Baralho Cigano), o Tarot, e dou um destaque especial à Sibilla Italiana, capaz de fornecer previsões e tendências com enorme precisão e dialogar com muita naturalidade sobre temas afetivos como esses. Porém, outros oráculos podem ser igualmente produtivos e interessantes para efetuar o método, à sua escolha e preferência.

O Método


1. A relação amorosa. Como estava sendo o envolvimento para ambos, antes de terminarem.
2. O término. Em que circunstâncias ou de que forma aconteceu essa separação.
3. Por que acabou? O que fez com que houvesse uma separação, qual o principal motivo por trás do término.
4. O que sente por você. Qual o sentimento que a pessoa nutre por você no momento - saudades, amargor, paixão, mágoa, arrependimentos... 
5. Como via a relação. De que forma ele(a) enxergava vocês juntos, se era feliz ao seu lado e estava satisfeita, se tinha segundas intenções ou algo similar.
6. Pensa em reatar? Se tem vontade ou esperança de que vocês se reconciliam, virá atrás de você ou não.
7. Ficarão juntos? Há tendências que apontem para o reatar do relacionamento? Quão provável é a volta da relação?
8. Compatibilidade. São compatíveis para um compromisso a longo prazo, ou possuem muitos pontos em desarmonia?
9. Influências externas. Há alguém no caminho, uma outra pessoa na vida dele(a), ou pessoas com más intenções que querem atrapalhar o relacionamento?
10. Como agir. O que fazer quanto à essa pessoa, qual a atitude recomendada?

+ Bônus: caso as cartas indiquem a possibilidade de reconciliação, sugiro a inclusão da seguinte posição adicional antes de finalizar a leitura:
11. Desafios. Ocorrerão empecilhos ou problemas quando reatarem? Quais serão os desafios ou adversidades enfrentados para ficarem juntos?

A findar angústias e dúvidas cruéis,
   Alannyë Daeris

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Vestindo Velas com Ervas e Óleos

   Você já percebeu que as instruções sobre como untar velas para feitiços às vezes se anulam, dependendo da fonte consultada? Há quem recomende untar ou escrever na vela da base para o pavio para atrair/manifestar, e tem quem faça o oposto. E agora, qual o melhor jeito para vestir as velas?
   Dica de ouro: o correto é sempre aquele que faz mais sentido pra você. Então, vamos falar brevemente sobre ambos os métodos.

🕯️⬆️ De baixo para cima para atrair/manifestar: assim como a Natureza se manifesta para cima, e as coisas vivas crescem em direção ao firmamento, a intenção é apontada para o céu, simbolicamente representando a elevação dela para planos mais sutis.
🕯️⬇️ De cima para baixo para banir/eliminar: tudo aquilo que morre, definha para baixo; quando a vida se esvai em um organismo, ele cai por terra. A intenção é direcionada para o chão, cujo alvo será simbolicamente dissipado ou neutralizado pela terra.

Ou, há quem siga essa outra linha de pensamento a seguir:

🕯️⬇️ De cima para baixo para atrair/manifestar: como é o sentido natural em que a vela queima, faz uma alusão a ela estar energizando a intenção. Também simboliza a manifestação de uma intenção a partir dos planos mais sutis e "elevados" até o plano material, como se viesse do céu para a terra.
🕯️⬆️ De baixo para cima para banir/eliminar: é como se você "devolvesse" para o universo o que quer banir, para que em vez de se dissipar no chão, ele se dissipe no ar, e vá para longe da sua vida.

   Existe mais um outro estilo de vestimento de velas usado por bruxas anglófonas, mas acredito que esses dois acima, mais populares aqui no Brasil, já sejam suficientes por hoje - e para a prática da maioria das pessoas, também.

A preparar pós e blends especiais,
   Alannyë Daeris

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Conhecendo o Oráculo - Cartas Astrológicas Holísticas

   As Cartas Astrológicas Holísticas são um oráculo colorido e ricamente ilustrado em aquarela, composto de 52 cartas que foram baseadas em saberes astrológicos - com algumas liberdades criativas por parte de Karni Zor, a criadora, que o fez de maneira autêntica e visando acessibilidade de interpretação e amplitude de conselhos para o uso cotidiano.
   Em sua caixa estão os dizeres: "Para orientação, meditação e cura", e essa frase resume bem o propósito alcançado pelo envolvimento com as Cartas, que usam de símbolos e signos astrológicos para fornecer aconselhamentos. Mas não é necessário ser astrólogo para obter mensagens acuradas e profundas por meio desse oráculo, visto que o encarte que o acompanha apresenta mensagens e reflexões objetivas e interessantes. Intuitiva e assertiva em níveis equivalentes, é uma ferramenta que auxilia no autoconhecimento mas também pode expandir percepções sobre o cosmos.
   Além de elucidar as possibilidades reflexivas em cada lâmina, o encarte também oferece afirmações para que se possa meditar em cada uma das cartas, e sugestões de métodos para se utilizar esse oráculo. As 52 cartas são divididas em 4 grupos, e a parte de trás de cada carta indica a qual grupo pertence conforme a cor: amarelas são as casas astrológicas, verdes são os astros e ângulos, azuis são os signos do zodíaco, e rosas são as esferas astrológicas.
   A edição original em inglês foi lançada em 2014, e em 2019 a Editora Pensamento trouxe essa obra oficialmente para o Brasil, em uma caixa de ótimo acabamento, estética impecável, e impressão de boa qualidade no livreto e nas lâminas do baralho. É importante notar que a linha usada como base para esse oráculo é a Astrologia Moderna, e há diferenças para os saberes Tradicionais (como a carta da Casa 8, que é tida como a Casa da Espiritualidade). Se assim como eu, você for um Astrólogo Tradicional, fica a seu critério levar em consideração as definições da autora, ou interpretar conforme seu entendimento.
   Sinto que os símbolos poderiam ser melhor descritos e explicados no encarte, pois algumas lâminas apresentam ilustrações curiosas, mas as cartas são inspiradoras tanto pela bela arte quanto pelas imagens nelas contidas, e o que evocam por meio de cores e formas. Apesar da boa impressão, o material das cartas não é plastificado, e parecem ser relativamente frágeis; recomendo fazer sempre um manuseio cuidadoso.
   Além de ser uma ótima ferramenta para aconselhamentos, reflexões e meditações, considero que esse oráculo é muito bem aproveitado quando aplicado na tirada sugerida com quatro cartas, em que se divide o baralho nos quatro grupos de cartas e se seleciona uma de cada para elucidar uma situação ou pergunta com profundidade. Mas em tiradas de uma única carta, de duas, ou mesmo em métodos um pouco mais elaborados, pode se mostrar igualmente revelador e mentalmente provocativo.

A meditar com casas, signos, astros e esferas,
   Alannyë Daeris

sexta-feira, 8 de abril de 2022

O Círculo Mágico para Keméticos Modernos

   Dentro da estrutura ritualística moderna da magia e Bruxaria num geral, o círculo mágico é um elemento importante na delimitação do que é sagrado, demarcando também o próprio início do rito ou atividade mágica. A própria palavra egípcia para "arrodear", pekher, mais tarde se tornou sinônimo de "encantar", indicando o valor simbólico e mágico do círculo dentro do contexto cultural egípcio.
   Ainda que não tenham restado instruções escritas de fato para explicar como era esse procedimento na religião kemética (muito provavelmente não havia a criação de um círculo da forma como fazemos hoje), sabemos que há quatro Netjeru que governam os quadrantes, que foram ganhando importância conforme a civilização egípcia avançava no tempo e elaborava seus costumes. Esses Netjeru, considerados filhos de Hórus (Heru-Wer, O Velho), não só guardavam os quadrantes do céu, como também davam forma aos vasos canópicos usados para guardar os órgãos dos corpos mumificados a partir do Império Novo. São eles:

• Tuameutev ou Duamutef - Leste - cabeça de chacal.
• Amset ou Imset - Sul - cabeça de humano.
• Qebsenuv ou Kebsenuf - Oeste - cabeça de falcão.
• Hapi - Norte - cabeça de babuíno.

   Os pontos cardeais, além da sua correlação com essas divindades filhas de Heru, também estão sob a tutoria de uma Netjeret. Num traçamento moderno de círculo mágico kemético, a evocação pode ou não ser feita com a menção dessas divindades, à discrição do praticante. São elas:

Leste - Neith.
Sul - Aset (Ísis).
Oeste - Serket.
Norte - Nebt-Het (Néftis).

   Portanto, apesar de não sabermos com exatidão como acontecia de fato uma operação mágica no seio dos templos keméticos e em outras situações de prática de magia popular, podemos associar com outras tradições ocultas, modernas e antigas, para recriar essa prática dentro de um contexto mágico, neopagão ou pagão reconstrucionista de fato.
   Uma das coisas sobre as quais sabemos um bocado devido aos registros artísticos e decorativos amplamente usados pelos egípcios, são as posições de poder - também conhecidas como henu. Eu já fiz um texto falando mais sobre elas (clique aqui para conferir), e recomendo que leia para entender o que será usado na estrutura ritualistica que descreverei mais abaixo. De qualquer maneira, o henu é uma posição que representa um sentimento, uma intenção ou um momento específico da atividade. O ideal é que sejam usados nos momentos apropriados, durante toda a cerimônia.
   A purificação era muito importante dentro da perspectiva kémetica, muito mais quando se trata do aspecto religioso e mágico. Portanto, antes do traçamento de um círculo, é importante que algum ato purificador tenha sido realizado no ambiente. O elemento utilizado pelos sacerdotes egípcios era o natron, porém esse material em seu estado natural não é de fácil acesso. Aqui, julgo a adaptação essencial, e também sua contextualização dentro de um culto moderno - clique aqui para ler o texto já publicado sobre o Natron.
   A melhor opção é consagrar seu natron de purificação, seja ele uma recriação ou adaptação, e manter um estoque pronto para o uso rotineiro - você pode até usar um borrifador para isso. O incenso também era amplamente empregado nos templos, e pode complementar a purificação, se assim você desejar. É adequado para atividades mais elaboradas, mas no culto cotidiano, não se faz tão necessário. Consideram-se apropriados os incensos naturais de ervas ou resina, ou aromatizadores com essências e óleos aromáticos. Mas na falta destes, não há problema em usar incensos normais de vareta, desde que sejam artesanais e de boa qualidade, não os indianos de carvão que são facilmente encontrados à venda.
   É importante também que falemos sobre o fechamento do círculo, e o encerramento de atividades mágicas num contexto kemético. Diferente de como acontece em outras tradições, usava-se uma vassoura especial para varrer o ar, enquanto se saía sem dar as costas para o altar, de ré. A ideia era purificar os vestígios de tudo que foi feito, dispersando as energias que foram movimentadas ali - novamente, a importância da purificação. Você pode ter uma vassoura mágica grande, pequena, ou usar a visualização para replicar essa tradição de varrer o ambiente. Eu às vezes uso as mãos, num movimento que para mim ressoa com essa limpeza desejada.
   Outra informação muito essencial é o ato de "remover os pés" (removing the foot) no encerramento de rituais. Os egípcios consideravam um desrespeito virar as costas para o divino, portanto, ao acabar um rito, você deve dar quatro passos para trás, se afastando do altar sem desviar o olhar. Só então a atividade está encerrada, e aí você pode apagar velas, desmontar ou "fechar" o altar.

Estrutura Básica Ritualística Kemética

   A estrutura sugerida abaixo é adequada para o início de qualquer ritual kemético. Pode ser adaptada e/ou reduzida conforme sua necessidade, mas tenha familiaridade com todo o processo antes de alterar.

   Misture o sal e a água na tigela, em sentido anti-horário. Enquanto mistura, fale:

"Esse é meu natron de purificação,
Meu natron é o natron dos Netjeru"

   Dê três voltas em sentido anti-horário em torno do ambiente, aspergindo com o natron. Acenda o incenso, e dê mais três voltas em sentido anti-horário, com ele em sua mão dominante.
   Agora, é hora do traçamento. Fique no centro do círculo e aponte com a mão direita para o leste, dizendo:

Anet-hra.k Tuamutev. Anet-hra.k Neith.
(Honrado seja, Tuamutev. Honrada seja, Neith.)

   Aponte para o sul, dizendo:

Anet-hra.k Amset. Anet-hra.k Aset.
(Honrado seja, Amset. Honrada seja, Aset.)

   Aponte para o oeste, dizendo:

Anet-hra.k Qebsenuv. Anet-hra.k Serket.
(Honrado seja, Qebsenuv. Honrada seja, Serket.)

   Aponte para o norte, dizendo:

Anet-hra.k Hapi. Anet-hra.k Nebt-Het
(Honrado seja, Hapi. Honrada seja, Néftis.)

   Convide quaisquer divindades ou outras entidades com as quais queira trabalhar para se manifestarem dentro do círculo. A partir daqui, prossiga com suas atividades como quiser.

   Quando for a hora de encerrar, faça o henu de reverência. Levante-se, pegue a vassoura (ou uma representação, ou visualize) e varra o ar, enquanto dá quatro passos para trás, sem desviar o olhar nem virar as costas para o altar. Está feito. Só então volte e apague as velas, incensos e organize seu altar.

Mais informações sobre círculos na cultura kémetica aqui.
Algumas informações do livro The Ancient Egyptian Prayerbook.
Algumas informações do livro Invoking The Egyptian Gods.

A tornar puro o santuário dos Netjeru,
   Alannyë Daeris.