terça-feira, 28 de setembro de 2021

Resenha: The Complete Lenormand Oracle Handbook, de Caitlin Matthews

  Sinopse (na língua original): In this complete guide to Lenormand card reading, Caitlín Matthews explains the multiple meanings for each card, providing keywords so the reader can quickly build an interpretive vocabulary for Lenormand fortune-telling. She details how to lay spreads, starting with 3 or 5 cards and building to the Grand Tableau spread, which uses all 36 cards. She explores the significance of the playing card pips and suits on each card and how cards combine to create a variety of meanings. Matthews enables readers to learn the Lenormand card keywords so they can both read for themselves and express their interpretations to clients. Providing real case histories for readers to interpret, she also includes self-tests and practice exercises with answers to check at the end of the book. 

Ficha Técnica


   Autora
: Caitlin Matthews
   Ano: 2014
   Editora: Destiny Books
   Páginas: 416

   Essa é uma obra que muito já me foi recomendada quando o assunto é o estudo tradicional do Petit Lenormand, popularmente conhecido como Baralho Cigano. Sua quantidade mais extensa de páginas, recheadas de informações interessantes, podem assustar à primeira vista, mas esteja ciente de que esse livro busca fazer um apanhado geral de um assunto que pode ser muito mais desenvolvido em diversos aspectos. Tenho alguns elogios mas muito mais críticas, pois sinto que foi uma proposta executada de maneira superficial e que se beneficiaria de uma reorganização nas ideias e reedição da estrutura.
   Há ensinamentos de certa complexidade contidos no decorrer dos capítulos desse livro que exigem maior concentração e experimentações, um envolvimento prático extenso com as cartas. Pode ser difícil para leigos acompanharem o raciocínio em alguns pontos, em especial no início, pois a estrutura de organização dos temas não facilita muito o processo e acaba confundindo; e às vezes, o conteúdo em si se torna denso e cansativo, maçante demais para absorver. Os exercícios são interessantes, mas alguns no começo da leitura parecem causar mais dúvidas que entendimento, então recomendo que sejam reservados para quem já se arrisca a ler as cartas há um tempinho.
   The Complete Lenormand Oracle Handbook é um dos mais citados livros sobre o Petit Lenormand, pois faz um trabalho aceitável em categorizar e explicar sobre as cartas, técnicas e métodos tradicionais, começando na história e origem do oráculo. Trata com muitos detalhes a respeito das características de cada lâmina, sobre os naipes, formas de entendê-los, e como funciona a linguagem do Lenormand em pares e trincas para elaborar histórias e extrair sentido e contexto.
   Antes de tratar sobre métodos mais complexos como a Mesa Real, a autora se aprofunda na estrutura de caixa 9x9, e em métodos de análise como o espelhamento, knighting, e de casas, facilitando a compreensão na hora de transicionar para a leitura completa com 36 cartas. Mas não se limita nisso, e aborda também as técnicas para analisar distância e proximidade na Mesa, determinação de tempo, lugares, e orientações para conduzir leituras para si mesmo e para consulentes. Os apêndices ao final incluem exercícios, métodos e estudos, bem como referências rápidas para ajudar no processo de aprendizado, e num geral, são apêndices bons. Apesar do teor tradicional do livro, certas práticas ensinadas por Caitlin são de autoria dela, em especial algumas do capítulo 6.
   É preferível que já se tenha uma base de conhecimento sobre o baralho antes de iniciar a leitura. Não é uma obra perfeita, e há outras melhores, mas pode ser produtiva, excluindo alguns defeitos latentes como o devaneio completo que é o capítulo 8. Existem inconsistências nas descrições e palavras chaves das lâminas e as interpretações oferecidas nos exercícios, e há momentos em que conhecimentos básicos e avançados são misturados - não é um problema para quem já entende de Lenormand, mas para quem está aprendendo, pode ser muito confuso e penoso de acompanhar.

A desgostar de certas esquisoterices com o Lenormand,
   Alannyë Daeris.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Conhecendo o Oráculo: Cartas Xamânicas

   Conhecidíssimo no meio esotérico e uma referência desde sua publicação em 1999, as Cartas Xamânicas foram criadas por Jamie Sams e David Carson, com base no xamanismo norte-americano, no qual os autores são iniciados. É um oráculo simples mas charmoso de 44 cartas, ilustradas por Angela Werneke, que acompanha um livro de 248 páginas - e se você tem em mãos somente as cartas, dê um jeito de adquirir o livro, pois ele é essencial para a compreensão inicial desse oráculo!
   Cada um dos animais está relacionado a uma palavra chave que resume sua principal simbologia, e no livro estão descritas suas outras lições, conselhos e direcionamentos, de acordo com seus hábitos e os mitos em que estão envolvidos dentro do xamanismo norte-americano. São aproximadamente 2-4 páginas descritivas por animal, e inclui a interpretação para as posições invertidas, bem como um breve poema, que lembra um haiku.
   Além das mais de quarenta espécies de animais, o oráculo acompanha nove cartas em branco, com o mesmo design das outras e um espaço disponível para que cada pessoa possa personalizar o baralho e adicionar animais que não tenham sido incluídos, um escudo pessoal com símbolos que lhe representem, ou até ilustrar com divindades que cultue. O teor criativo e interativo dessa ideia é muito interessante, permitindo que cada pess desenvolva sua própria versão exclusiva do oráculo!
   É importante notar que as Cartas Xamânicas possuem um tom aconselhador e de autoconhecimento, e não produzem previsões ou leituras de sorte. Podem orientar, acolher e direcionar, mas não dizem sobre o futuro ou acontecimentos vindouros, portanto, são ideais quando necessitamos de uma conexão com nossa essência, quebrar padrões prejudiciais, ou trazer nossas potências à tona.
   No livro, são ensinadas alguns métodos de leitura para aplicar com as Cartas Xamânicas, bastante profundos e com reflexões muito bem colocadas. É ensinado também um método para descoberta dos 9 animais que compõem o totem individual, e que só deve ser feito uma vez na vida. Eu particularmente acredito que essa leitura não deve ser levada tão ao pé da letra, e considerada uma "aproximação" dadas as limitações do oráculo. Somente uma jornada mediúnica realizada corretamente com a orientação de um(a) xamã pode revelar os animais totem de alguém com precisão, mas recomendo que se faça a tirada como um exercício de autoconhecimento, inclusive se já os conhece.
   Um único aspecto que pode ser incômodo mas não chega a ser desfavorável é seu tamanho incomum, que por ser muito grande, atrapalha na hora de manusear. É necessário usar métodos não tão convencionais para embaralhar as cartas, como mantê-las de pé sobre uma mesa (foi o que encontrei!), mas a qualidade da arte compensa - as representações dos animais são expressivas e transmitem com perfeição a energia de cada um, sendo ótimas para meditações e reflexões, insights que podem despertar a conexão sagrada com a Natureza que há dentro de nós.

A grasnar em alto e bom tom,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Epítetos de Nebthet (Néftis)

   Hoje, apresento uma lista de epítetos keméticos tradicionais conferidos a Nebthet, traduzidos e adaptados para nossa língua. Podem ser usados em orações, rituais, meditações e em quaisquer situações que você queira evocar ou invocar esse aspecto de Nebthet que está retratado no epíteto escolhido.
   Essa lista não contém todos os títulos associados com essa deusa, e há muitos outros que podem ser encontrados, ou desenvolvidos na sua própria interação e culto a Nebthet.

Epítetos Tradicionais


• Senhora do Templo
• Feiticeira
• Irmã de Set
• Irmã de Wesir
• Irmã de Aset
• Grande Mãe de Amun
• Mãe de Horus
• Mãe de Deus
• Que Protege seu Horus com seus feitiços mágicos
• Que protege seu irmão Wesir
• Deputada, que não tem gênero
• Mãe do Deus Chacal
• Esposa de Onnophris (Wesir), O Justificado
• Ela que fornece o triunfo
• Senhora das oferendas de voz
• Senhora da alegria
• Senhora da tumba
• Senhora do céu
• Senhora dos rios
• Senhora dos Deuses
• Patrona da cerveja
• Amiga dos mortos
• Olho de Ra
• Irmã divina
• Deusa do sul
• Deusa da noite
• Senhora do crepúsculo
• Protetora dos portões secretos
• Grande Deusa
• Deusa Excelente
• Bela irmã
• Nó da proteção
• Grande de magia
• Poderosa em palavras de poder
• Néftis da cama da vida*
• Rainha da loja do embalsamador

• Horizonte do Leste
• Senhora da casa de embelezamento*
• Ela que vem dos braços de Aker
• Senhora do que está no submundo
• Senhora das oferendas de invocação do Monte do Altar
• Grande Deusa do oeste
• A boa irmã
• A alegre
• Que está atrás de Seu irmão
• Mulher enlutada
• Senhora do país do Oeste

*Se relaciona ao embalsamento
Alguns epítetos traduzidos daqui.

A adorar Aquela que pariu o Chacal,
   Alannyë Daeris.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

As 42 Confissões Negativas, ou 42 Ideais de Ma'at

   As 42 Confissões Negativas são um aspecto bastante conhecido da espiritualidade kemética, e se referem a um conjunto de confissões que cada alma precisa realizar no Salão de Duas Maati, durante a pesagem do coração no julgamento final egípcio. Podem ser entendidos como ideais de justiça e ética, que fornecem à modernidade um vislumbre do comportamento correto que os Deuses esperavam de um indivíduo da civilização egípcia, para que fossem dignos de prosseguir para o pós-vida.
   O conjunto mais conhecido de confissões é o que está registrado no Papiro de Ani e cuja tradução completa (a partir da tradução em inglês de Wallis E. A. Budge) está disponível logo abaixo, mas essas máximas não devem ser entendidas como a única versão das 42 Confissões, pois eram confeccionadas por escribas de forma individual, podendo ser personalizadas em alguns sentidos. Portanto, ainda que houvesse um número fixo de 42 confissões, algumas passagens podiam ser alteradas para se adequar à vida do indivíduo em questão. Como cada confissão se refere a um Deus ou Deusa presente no julgamento, somando 42 juízes divinos, a quantidade exata nunca muda.
   Por exemplo, a confissão número 15 no Papiro de Ani é "não sou um homem de trapaças", enquanto em outros papiros está registrada como "eu não comandei que matassem", e em outros, "eu não fui litigioso em relações". Para uma pessoa envolvida em cargos de comando no exército, por exemplo, seria difícil admitir em frente aos Deuses que nunca comandou que seus soldados tirassem a vida de inimigos, então é lógico e aceitável substituir essa confissão por outra que sua alma possa realizar com honestidade na hora do julgamento. Ma'at, a justiça divina, não é um conceito fixo e engessado, mas varia de acordo com as circunstâncias.
   Dessa forma, existem diversas versões das 42 Confissões e cada indivíduo possui a liberdade de providenciar para si uma lista que possa falar com honestidade em frente aos Deuses, demonstrando que não cometeu atos intencionais contra a ordem divina. De qualquer maneira, o coração será pesado e todas as mentiras serão reveladas, portanto as confissões permitem que a alma possa mostrar o que fez de certo em vida e "se defender" no tribunal Divino. Há passagens que são comuns a todas as confissões, como "eu não roubei" ou "eu não causei sofrimento", mas todas se referem a atos intencionais, feitos de propósito ou deliberadamente.
   Também precisam ser compreendidos de forma metafórica em certos momentos, pois na confissão 36, "eu nunca levantei minha voz", não significa que o indivíduo literalmente nunca falou alto em toda sua vida, mas que não teve acessos de fúria injustificados. Ou na confissão 32, "eu não multipliquei minhas palavras na fala", que se refere a uma duplicidade maliciosa ou segundas intenções na expressão, não a falar demais.
   É interessante notar que as confissões são compostas de uma saudação a uma Divindade e o local de onde ela vem. O Egito possuía 42 Nomes ou Distritos, mas alguns dos locais citados não estão na Terra, e sim no pós-vida. Na confissão 12, por exemplo, Hraf-haf vem de sua caverna pois é o barqueiro divino no além.

As 42 Confissões Negativas do Papiro de Ani


01. Saudações Usekh-nemmt, que vem de Anu, eu não cometi pecados.
02. Saudações Hept-khet, que vem de Kher-aha, eu não cometi roubos com violência.
03. Saudações Fenti, que vem de Khemenu, eu não furtei.
04. Saudações Am-khaibit, que vem de Qernet, eu não assassinei homens ou mulheres.
05. Saudações Neha-her, que vem de Rasta, eu não furtei grãos.
06. Saudações Ruruti, que vem dos céus, eu não roubei oferendas.
07. Saudações Arfi-em-khet, que vem de Suat, eu não roubei as propriedades dos Deuses.
08. Saudações Neba, que vem e vai, eu não proferi mentiras.
09. Saudações Set-qesu, que vem de Hensu, eu não surrupiei comida.
10. Saudações Utu-nesert, que vem de Het-ka-Ptah, eu não proferi maldições.
11. Saudações Qerrti, que vem de Amentet, eu não cometi adultério.
12. Saudações Hraf-haf, que vem de sua caverna, eu não fiz ninguém chorar.
13. Saudações Basti, que vem de Bast, eu não comi o coração.
14. Saudações Ta-retiu, que vem da noite, eu não ataquei qualquer homem.
15. Saudações Unem-snef, que vem da câmara de execução, eu não sou um homem de fraudes e trapaças.
16. Saudações Unem-besek, que vem de Mabit, eu não roubei terras cultivadas.
17. Saudações Neb-Maat, que vem de Maati, eu não fui bisbilhoteiro.
18. Saudações Tenemiu, que vem de Bast, eu não caluniei ninguém.
19. Saudações Sertiu, que vem de Anu, eu não me enraiveci sem causa justa.
20. Saudações Tutu, que vem de Ati, eu não perverti a esposa de nenhum homem.
21. Saudações Uamenti, que vem da câmara Khebt, eu não perverti as esposas de outros homens.
22. Saudações Maa-antuf, que vem de Per-menu, eu não me poluí.
23. Saudações Her-uru, que vem de Nehatu, eu não aterrorizei ninguém.
24. Saudações Khemiu, que vem de Kaui, eu não transgredi a lei.
25. Saudações Shet-kheru, que vem de Urit, eu não estive em fúria.
26. Saudações Nekhenu, que vem de Heqat, eu não fechei meus ouvidos às palavras da verdade.
27. Saudações Kehemti, que vem de Kenmet, eu não blasfemei.
28. Saudações An-hetep-f, que vem de Sau, eu não sou um homem de violência.
29. Saudações Sera-kheru, que vem de Unaset, eu não fui um agitador de conflitos.
30. Saudações Neb-Heru, que vem de Netchfet, eu não agi com pressa indevida.
31. Saudações Sekhriu, que vem de Uten, eu não me meti nos assuntos alheios.
32. Saudações Neb-abui, que vem de Sauti, eu não multipliquei minhas palavras na fala.
33. Saudações Nefer-Tem, que vem de Het-ka-Ptah, eu não fiz nada errado a ninguém, e não cometi maldades.
34. Saudações Tem-Sepu, que vem de Tetu, eu não cometi magia contra o faraó/rei.
35. Saudações Ari-em-ab-f, que vem de Tebu, eu não parei o fluxo de água de um vizinho.
36. Saudações Ahi, que vem de Nu, eu nunca levantei minha voz.
37. Saudações Uatch-rekhit, que vem de Sau, eu não amaldiçoei os Deuses.
38. Saudações Neheb-ka, que vem de sua caverna, eu não agi com arrogância.
39. Saudações Neheb-nefert, que vem de sua caverna, eu não roubei o pão dos Deuses.
40. Saudações Tcheser-tep, que vem do santuário, eu não levei os bolos khenfu dos espíritos dos mortos.
41. Saudações An-af, que vem de Maati, eu não tomei o pão de crianças, nem tratei com desprezo o Deus da minha cidade.
42. Saudações Hetch-abhu, que vem de Ta-she, eu não assassinei o gado pertencente aos Deuses.

A confiar meu Ib a Ele que Pesa os Corações e ao Juiz Eloquente,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Magia de Pegadas (Foot Track Magic)

   A sola dos pés é a única parte do corpo humano que está em constante contato com a Mãe Terra, e nossos pés detém diferentes simbologias e importâncias nas tradições mágicas espalhadas pelo mundo. Essas percepções podem ser positivas ou negativas, mas fato é que pés são reconhecidos como um dos principais pontos de poder do corpo, assim como as mãos. O calcanhar de Aquiles é um exemplo mitológico bastante conhecido quando o assunto são os pés como um ponto fraco, mas não eram apenas os gregos que acreditavam que os pés são membros particularmente vulneráveis a energias negativas e malefícios.
   Em geral, a pegada é considerada um link mágico, um veículo capaz de direcionar energias ao seu dono, sejam essas energias benéficas ou maléficas. Na Índia, as pegadas de pessoas sagradas, como Buda, são reverenciadas porque acredita-se que detém um poder mágico, pois se os pés suportam o corpo, são vistos como uma representação da alma. No Hoodoo, pós e óleos são derramados no chão em padrões simbólicos - como uma cruz em X - em locais onde o alvo do feitiço passará, para que ele absorva os materiais ao pisar e fique enfeitiçado.
   Esse tipo de magia abrange também os sapatos, meias e outros adereços que possam estar relacionados aos pés. Existem várias crenças em torno dos sapatos, que também variam de acordo com a cultura. Em alguns lugares é socialmente proibido entrar na casa das pessoas usando os sapatos, pois eles carregam a sujeira (física e espiritual) acumulada na rua, e assim trariam má sorte para dentro do lar. Os cadarços podem ser guardados para uso em magia com nós (knot magick) centrada em si mesmo, pois estão imbuídos com sua energia.
   Sapatos são itens muito versáteis, sendo relatado seu uso em feitiços amorosos, divinações, superstições e maldições. Podem ser enterrados na frente de casa para manter o marido fiel e submisso, ou dispostos em forma de T ao lado da cama para sonhar com seu futuro marido ou esposa. Uma superstição popular diz que colocar o sapato no pé errado sem querer é um presságio de acidente ou má sorte. Em maldições, há uma infinidade de usos, sendo o mais comum e conhecido as magias de pegada do Hoodoo e cruzamentos (crossings). Entretanto, a magia de pegadas não precisa ser destinada apenas para ataques e maldições, e pode ser usada de forma benéfica para si mesmo e para outras pessoas.
   Para praticantes de magia, uma proteção tradicional envolvendo os calçados é andar com uma moeda de prata dentro dos sapatos, para impedir que feitiços prejudiciais tenham efeito, já que a prata está tradicionalmente associada com o banimento de negatividade. Os sapatos também podem ser usados para energizar cristais, saquinhos mágicos, talismãs e outros itens durante a noite, mantendo sua conexão direta com eles e recebendo suas energias mesmo que não os esteja usando, e facilitando para que se lembre de levá-los junto ou usar caso precise sair de casa no outro dia.

Na prática


   A magia de pegadas abrange uma grande quantidade de práticas e métodos, portanto seria uma tarefa hercúlea abordar em detalhes cada um deles, mas podemos dividi-la de maneira resumida em duas categorias de feitiços:

Diretos - Quando o feitiço é feito diretamente sobre a pegada da pessoa, ou preparado no chão para que ela pise em cima.
Simpáticos - Quando os sapatos, meias, unhas do pé, cadarços ou o solo onde a pessoa pisou é coletado para a realização do feitiço, se tornando ingredientes, links mágicos ou componentes.

   Os ingredientes mágicos utilizados na magia de pegadas direta são os pós mágicos e óleos ritualísticos, que são dispostos no chão em padrões específicos, de acordo com a intenção, como por exemplo: em forma de X para banimento, um coração para amor e afeto, um cifrão para prosperidade, ou traçando símbolos, sigilos ou runas apropriadas sobre a pegada. Já na magia simpática, os ingredientes se tornam muito mais amplos e versáteis, pois tudo depende de como será realizado o feitiço e a intenção a que se destina.
   Como citado anteriormente, essa é uma valiosa forma de magia que pode e deve deixar de ser usada apenas para ataques e maldições - basta considerar o imenso potencial benéfico que apresenta para o próprio praticante em seus feitiços e rituais, ou para outros alvos que estejam cientes e consentindo com as bençãos que receberão.

Caminho da Fortuna

   Esse é um feitiço autoral para atrair fortuna e prosperidade financeira, fazendo uso da magia de pegadas. É muito simples mas incrivelmente versátil, e pode ser efetuado sozinho ou incluído em rituais e celebrações - em especial se houverem muitos participantes.

Você precisará de:
• Ervas e ingredientes para prosperidade - por exemplo, louro, tomilho, calêndula, canela, gengibre, noz moscada, açúcar mascavo. Você precisará de uma grande quantidade de ervas para o tapete, mas não precisam ser várias plantas diferentes.
• Um almofariz e pilão e/ou uma tesoura.
• 4 velas amarelas ou verdes, com castiçais ou recipientes que comportem fogo.
• Azeite de oliva ou outro óleo para untar as velas.

Horas e dias de Júpiter ou Vênus.
Lua crescente ou cheia.

   Para começar, reúna todos os ingredientes e prepare o ambiente, purificando-o e a si mesmo(a) através do método de sua preferência. As ervas podem estar frescas, secas, inteiras ou moídas, mas o ideal é que sejam reduzidas a pedaços pequenos ou a pó, e para isso você pode usar o pilão e o almofariz ou a tesoura.
   Durante o preparo das ervas, concentre-se no tema da prosperidade e fortuna, visualizando cenas de abundância, riqueza, e sucesso material. Quando todas estiverem em pedaços pequenos e/ou moídas, misture-as em um recipiente e espalhe sobre o chão, se possível em direção ao seu altar, formando um tapete de pelo menos 90cm de extensão por 30cm de largura. Reserve um pouco desse pó de ervas, unte as velas no azeite e espalhe no corpo das velas. Se quiser entalhá-las com símbolos ou palavras antes, fique à vontade.
   Para ativar o feitiço, coloque as quatro velas nas extremidades do tapete de ervas, formando um quadrado ou retângulo. Então, fique de pé no começo do tapete, e visualize que ele emana uma luz dourada, cintilante. Quando se sentir pronto, caminhe de pés descalços sobre as ervas, mentalizando sua intenção por todo o caminho.
   Está feito. Se possível, deixe as velas queimarem até o fim, ou até quando o fogo quiser sair de controle - o que frequentemente ocorre com velas untadas e vestidas. Quando for encerrar, varra o pó e se houver como, despeje na natureza. Os restos de velas podem ser jogados no lixo.

Informações daqui.
Informações daqui.

A apagar meus rastros,
   Alannyë Daeris.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Resenha: The Essential Lenormand, de Rana George

   Sinopse (na língua original): Lenormand is a 36-card deck with simple, straightforward illustrations that provide direct answers for the reader. For over 150 years, the Lenormand deck has been a popular divination tool around the world, and it’s rapidly becoming a phenomenon in the US. Providing step-by-step instructions and a guide to individual card meanings, leading expert Rana George shows how to use the Lenormand for predictions on any topic: relationships, work, finances, family, and more. From simple inquiries to critical dilemmas, the Lenormand provides a glimpse of the future when you need it most. The Essential Lenormand includes traditional reading methods, Rana George’s personal techniques, tips for working with multiple spreads, and ways to use the Lenormand with the tarot. Use the Lenormand to unlock the secrets of your destiny, and reveal the knowledge hidden within.

Ficha Técnica


   Autora: Rana George
   Ano: 2014
   Editora: Llewellyn Publications
   Páginas: 384

   Leve, informativo e didático. The Essential Lenormand pode ser resumido com essas três palavras, e é uma daquelas leituras que parecem não cansar os olhos e a mente, por mais que você retorne várias vezes para consultar aquilo que já leu. E para quem ainda não sente muita confiança no próprio inglês, não se preocupe - é de uma obra de linguagem simples, objetiva e sem rodeios.
   Curiosamente, esse livro me foi recomendado por um de meus consulentes, um tempo depois de nosso terceiro encontro oracular, quando ele estava me informando que se inspirou em estudar o Petit Lenormand depois de uma Mesa Real que fizemos. Não havia capturado meu interesse de imediato, mas decidi ler para tirar conclusões (pois não se julga um livro pela capa aqui!), e fui surpreendida pelo conteúdo.
   A forma como a autora organizou e categorizou as informações e palavras chaves atribuídas a cada lâmina do Petit Lenormand é muito bem elaborada, e é o ponto alto do livro, compondo a maior parte do material. As tabelas são práticas e abrangentes, tratando da maioria dos possíveis significados da carta no campo divinatório, amoroso, profissional, espiritual, na saúde, dentre outros. É um daqueles livros para sempre ter por perto e consultar rapidamente nos momentos de dúvida.
   Todas as descrições de cartas acompanham algumas histórias pessoais da autora, e apesar de não ser muito fã delas por não me "convencerem" nem impressionarem, compreendo que é um bom elemento facilitador para a transmissão de conhecimento e para o envolvimento emocional do leitor com o conteúdo. Alguns relatos são interessantes sim, mas outros parecem embelezados.
   Após explicar a percepção tradicional e moderna de cada uma das lâminas do baralho, Rana George segue para elucidar os métodos e como interpretar as cartas em conjunto. Achei interessante a parte em que ela comenta sobre a possibilidade de mesclar o Petit Lenormand e o Tarot para obter um panorama oracular mais completo, prática que tenho há alguns anos. 
   É um bom livro para o que se propõe, mas se você espera entender sobre os naipes e cartas do baralho tradicional que estão inseridas no Lenormand, aqui você não encontrará esse direcionamento. Rana apenas os utiliza para identificar o gênero e características físicas de indivíduos, como era feito antigamente. Nesse aspecto, considerei uma limitação, mas não a ponto de prejudicar a crítica geral do livro.
   O método de Mesa Real da autora é tradicional e possui algumas técnicas a mais para extrair detalhes, mas nada de muito novo para quem já possui familiaridade com essa leitura. Entretanto, para iniciantes - tanto no tema da Mesa Real quanto no resto da obra -, está tudo bem explicado e de fácil compreensão. Recomendo!

A rememorar informações e perspectivas,
   Alannyë Daeris.

sábado, 11 de setembro de 2021

Método Oracular das Amizades

   Em tempos de "relações líquidas" e um distanciamento que já se torna pessoal dentre círculos de conhecidos, amigos e familiares, compartilho esse método que criei para a análise do tema das amizades na vida - ou seja, para saber como está sua vida social e o que pode ser feito a respeito dela. É uma tirada simples e objetiva, mas com amplo potencial para ser profunda e elaborada.
   Escolhi o formato de lemniscata/"infinito" para a estrutura do método e a leitura das cartas, pois é um símbolo formado por dois círculos interligados entre si; criando assim uma associação ao processo contínuo de se relacionar com outras pessoas, que depende de ambos os lados para fluir bem, e que sempre terá alguma relevância para a vida de qualquer indivíduo, bem como outras correlações simbólicas possíveis.
   Você pode escolher qualquer ferramenta oracular de sua preferência, mas o Tarot, Petit Lenormand (Baralho Cigano) e a Vera Sibilla são os que recomendo para a leitura. Para maior profundidade e aconselhamento, use duas cartas por posição - ideal para o Tarot, no método europeu, e o Lenormand - mas qualquer oráculo que permita a configuração apresentada na imagem e texto podem ser utilizados.

O Método


1. Relações. Estado atual das suas amizades, num geral.
2. Obstáculos. O que dificulta suas amizades. Os obstáculos que atrapalham suas relações saudáveis.
3. Fraqueza. Sua maior fraqueza como amigo. Os defeitos que afastam pessoas de você.
4. Força. Sua maior força como amigo. As qualidades que aproximam pessoas de você.
5. Restrição. Evite essas atitudes para fazer mais amigos.
6. Expansão. Adote essas atitudes para fazer mais amigos.
7. Busca. Como fazer novos amigos. Onde, ou de que forma você pode encontrá-los.
8. Conselho. Direcionamento final para o tema das amizades.

A reatar laços,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Execração de Apep (Apophis)

   Execrações são práticas mágicas keméticas de grande popularidade no Egito Antigo, bastante similares a banimentos. Como já mencionei com mais profundidade em outro texto sobre execrações, elas podiam ser realizadas contra pessoas, povos inimigos, ou para combater A.p.e.p, sendo esse último o tema a ser tratado aqui.
   A.p.e.p*, cujo nome significa algo como "Grande Cobra", é a entidade kemética que caracteriza e personifica o mal, a injustiça e a desordem, conceito denominado "isfet", que por sua vez é o conceito oposto de "Ma'at", que unifica e representa o bem, a justiça e a ordem. O deus-sol Ra trava uma batalha eterna e diária contra A.p.e.p e suas forças malignas, que desejam destruir a criação e lançar trevas ao mundo. Ra viaja pelos céus em sua barca solar, e durante a noite quando adentra no submundo, é quando a serpente o ataca para impedir que ele siga sua viagem, e portanto, que o Sol nasça mais um dia.
   Na antiguidade, os sacerdotes de Ra realizavam as cerimônias de execração contra A.p.e.p diariamente, e haviam festivais e datas destinadas a observações públicas e privadas, ou seja, práticas individuais para banir isfet. Algumas das associações de Apophis (o nome grego para a serpente) são os acidentes, terremotos, trovões, a escuridão, tempestades, doenças e morte em geral. Era essencial que todos orassem, e fizessem execrações para auxiliar os Netjeru nessa luta constante, pois A.p.e.p se regenera durante o dia, enquanto Ra navega pelo firmamento iluminando os céus.

Ritual de Execração de A.p.e.p


Ra na forma de felino,
esfaqueando A.p.e.p.
   O ritual a seguir é relativamente extenso mas de simples execução, e pode ser adaptado de acordo com seu contexto e práticas pessoais. Se destina à execração de A.p.e.p em festivais, na Lua Nova ou Cheia, Wep Ronpet (Ano Novo Kemético), e outras ocorrências rotineiras, mas nada impede que seja aplicado para outros feitiços de execração em geral - como para se livrar de hábitos prejudiciais, de pessoas perigosas ou de situações negativas. Toda a estrutura e os encantamentos verbais foram baseados no ritual diário realizado pelos sacerdotes no templo de Amon-Ra em Karnak, que conhecemos na modernidade por meio do The Book of Overthrowing Apep (Livro de Derrubar Apep), presente no Papiro Bremner-Rhind.
   Embora a ritualística esteja diretamente relacionada com Ra, em especial por questões mitológicas, você pode substituí-Lo por qualquer divindade egípcia com a qual possua proximidade, sem qualquer obrigação de executar esse ritual de execração sempre com Amon-Ra. Todos os Netjeru são inimigos de A.p.e.p, e todos podem ser invocados na batalha contra ele. Outra opção, se preferir manter Ra em seu ritual, é incluir nos encantamentos falados algumas referências às divindades que também participarão, e acender uma vela para cada uma, lembrando-se de saudá-las adequadamente no início.

Você precisará de:
• Um objeto simbolizando A.p.e.p, que será destruído ritualisticamente. Sugestões em ordem de preferência: um vaso de cerâmica; uma plaquinha de argila já seca; uma vela vermelha; uma serpente de massinha de modelar vermelha; ou um pedaço de papel.
• Uma caneta, lápis ou canetinha vermelha.
• Um pedaço de barbante ou fita.
• Uma faca, punhal ou athame. Se não for um instrumento mágico propriamente consagrado por você, purifique antes do uso.
• Natron; ou misture uma colher de sopa de sal e outra de bicarbonato de sódio para recriar esse ingrediente de purificação.
• Água gelada e/ou outras oferendas de sua preferência.
• Uma vela branca ou de cor correspondente à divindade que participará do ritual. Para Ra, vela amarela ou laranja.
• Um caldeirão ou recipiente à prova de fogo.*
• Álcool para acender o caldeirão.*
• Uma tigela, copo ou recipiente com água, para diluir o natron.

*Esses materiais só são necessários se você optar por um material que pode ser queimado, como o pedaço de papel, a plaquinha de cerâmica, ou a vela vermelha (que dispensa o álcool).

Na Prática


   Organize os itens em seu altar, ou no espaço que reservou para o ritual. Certifique-se de que não haverão interferências, e concentre-se. Dilua o natron (ou o sal+bicarbonato) no recipiente com água, e aspirja o ambiente e a si mesmo, dizendo:

"Eu estou puro, eu sou puro, eu estou puro. A minha pureza é a pureza dos Netjeru."

   Acenda a vela e saúde a divindade que participará do seu ritual de execração - com um gesto de saudação como o henu, por exemplo. Faça as oferendas e dê início ao ritual como for de seu costume.
   Usando a caneta vermelha, escreva "Apep" no objeto que o simbolizará. Identifique o objeto como a serpente maligna que cria o caos e a destruição, relembre de todas as coisas ruins que existem no mundo e que são atribuídas a A.p.e.p, e transmita para o objeto seu ódio, rejeição, fúria. Coloque o objeto no chão e cuspa nele quatro vezes, dizendo:

"Seja cuspido, isso é feito por Ra e seu Ka.
Ra surge em poder, Ra surge em vitória.
Ra surge exaltado, Ra surge preparado.
Ra surge em júbilo, Ra surge em triunfo.
Venha para que eu possa esmagar seus inimigos,
Venha para que eu dilacere o Mau-Disposto para Si,
Para que eu dê louvores ao seu poderio,
Para que eu exalte todas as suas manifestações luminosas."

   Disponha o objeto no chão e diga o seguinte encantamento:

"Levanta-se, Ó Ra, e esmague seus inimigos, mortos ou vivos,
Expanda seu brilho, Ó Ra, pois seus inimigos estão caídos.
Comtemple, Ra tem poder sobre A.p.e.p,
Suas chamas ardem contra A.p.e.p"

   Pise quatro vezes sobre o objeto com o pé esquerdo, e continue a fala:

"Que seu fogo recaia sobre todos os inimigos.
Seja poderoso, Ó Ra, contra seu inimigo!
Louvado seja, louvado seja, louvado seja"

   Pise mais quatro vezes, ainda com o pé esquerdo. Agora, amarre o barbante ou fita ao redor do objeto, dando nós firmes. Recite:

"Aqueles que devem estar atados estão atados,
Apep, o inimigo de Ra, está amarrado,
Que você não saiba o que lhe é feito, Apep.
Vire suas costas, há testemunhos contra si.
Cuidado, você que está atado,
Você está amarrado por Heru,
Você está acorrentado por Ra,
Você não deve se levantar,
Você está condenado por Ra."

   Com a faca em mãos, dê golpes, facadas e estocadas no objeto, enquanto recita o encantamento abaixo. Se o material escolhido por você foi o pote de cerâmica, quebre-o (jogando no chão ou usando um martelo) antes de começar a "esfaqueá-lo".

"Aprese, aprese, aprese, Ó Açougueiro,
Derrube o inimigo de Ra com sua faca,
Essa é a sua cabeça, Apep,
Cortada pelo sacerdote-guerreiro com sua faca,
Seja fatiado em pedaços pela sua maldade,
Seja fatiado por tudo que você fez,
Seja punido de acordo com o mal cometido.
Ra é triunfante sobre você,
E Heru o deixa cortado."

   A etapa a seguir deve ser realizada apenas se for escolhido um material queimável, como a vela vermelha, o pedaço de papel, ou a plaquinha de cerâmica. Coloque o objeto representante de A.p.e.p dentro do caldeirão e adicione bem pouquinho de álcool, tomando as devidas precauções (exceto no caso da vela, que deve ser acendida). Fale:

"Fogo esteja em si, A.p.e.p, inimigo de Ra.
Que o Olho de Heru tenha poder sobre a alma e a sombra de A.p.e.p,
Que a chama do Olho de Heru devore o inimigo de Ra."

   Ateie o fogo e diga:

"Seja completamente cuspido sobre, A.p.e.p,
Vá embora, se afaste, rasteje para longe, saia daqui!
Eu atei seus braços, eu lhe cortei,
 e Ra é triunfante sobre você, A.p.e.p.
(cuspa 4x sobre o objeto no caldeirão)
Vá para trás, seja aniquilado!
Verdadeiramente o queimei,
Verdadeiramente o destruí,
O condenei a todo mal,
Para que seja aniquilado,
Para que seja cuspido,
Para que seja completamente não-existente."

   Aguarde até que as chamas se extingam sozinhas, e não se preocupe se o objeto não for destruído, pois não faz diferença se restar alguma coisa.

   Independente do material escolhido, você pode prosseguir e incrementar o ritual como for de sua preferência. Quando for o momento de encerrar o ritual, aspirja o natron no ambiente e em si mesmo. Diga:

"Todo alvoroço acaba aqui, A.p.e.p está abolido,
E todos os Netjeru estão em harmonia.
O inimigo de Ra foi aniquilado, atado e atacado,
E nenhum mal entrará nesse templo,
Todos os inimigos recuam perante minha presença.
Louvado seja, louvado seja, louvado seja."

   Afaste-se do altar sem virar as costas, despeça-se das divindades invocadas, e faça um henu. Só então aproxime-se novamente e apague as velas, termine de organizar o altar. Os restos devem ser transferidos para uma sacola plástica e, se possível, levados até um lixo longe da sua residência.

Obs.: O nome de A.p.e.p está escrito no texto dessa forma incomum por questões religiosas, para execrá-lo na escrita assim como os egípcios o faziam em seus papiros. A tinta de cor vermelha, que simboliza tanto a vida quanto o mal e a destruição, era usada sempre que o nome de A.p.e.p era escrito, como uma medida de proteção e de ataque. Na modernidade, as rasuras servem o mesmo propósito.

FAULKNER, R. O. The Bremner-Rhind Papyrus - III. The Book of Overthrowing Apep. The Journal of Egyptian Archaeology, Vol. 23, No. 2 (Dec., 1937), pp. 166-185

A execrar definitivamente o inimigo de Ra, 
   Alannyë Daeris.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Oração Kemética a Isis - Dua en Aset

   Como me foi requisitado recentemente por um devoto de Isis e seguidor fiel do blog, trago hoje uma oração/invocação a Aset que existe na versão original, como provavelmente era falada pelos antigos egípcios, acompanhada da versão traduzida do inglês para que os leitores possam usá-la em português, se assim preferirem.

Dua en Aset


Nehesi, nehesi, nehesi
Nehesi em hotep
Nebet em neferu
Nebet hotepet
Weben em hotep
Weben em nefer
Netchert em ankh
Nefer em pet
Pet em hotep
Ta em hotep
A netchert
Sat Nut
Sat Geb
Merit Wesir
Netchert renu asha
Dua haw neb tchen
Dua haw neb tchen
Tui iai.etch
Tui áai.etch
Nebet Aset

Oração a Isis


Desperte, desperte, desperte,
Desperte em paz,
Senhora da bondade.
Senhora da paz
Ascenda em paz,
Ascenda em beleza.
Deusa da Vida,
Bela no horizonte,
Os céus estão em paz.
A Terra está em paz.
Ó Deusa,
Filha de Nut,
Filha de Geb,
Amada de Osíris;
Deusa abundante de nomes!
Todos os louvores a Vós
Todos os louvores a Vós
Eu vos adoro
Eu vos adoro
Senhora Aset

A honrar a Senhora da Vida,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Resenha - Oráculo da Noite, de Sidarta Ribeiro

   Sinopse: O que é, afinal, o sonho? Para que ele serve? Como extrair sentido de seus tantos símbolos, repletos de detalhes e significados? Neste livro, o renomado neurocientista Sidarta Ribeiro responde a essas e muitas outras questões sobre um dos grandes enigmas da humanidade ao recuperar narrativas literárias e históricas do mundo todo. Ele mostra como os sonhos eram importantes às civilizações antigas, como no Egito e na Grécia, situando-os no cerne da ciência e da política, ou como as culturas ameríndias preservam alguns dos exemplos mais bem documentados de profecias oníricas capazes de guiar povos inteiros. Ao mobilizar os principais debates da psicanálise, da medicina, da biologia molecular e da neurofisiologia, O oráculo da noite apresenta uma história da mente humana pelo fio condutor do sonho.

Ficha Técnica


   Autor: Sidarta Ribeiro
   Ano: 2019
   Editora: Companhia das Letras
   Páginas: 488

   Alguns leitores podem estranhar a presença desse livro nas resenhas tradicionalmente esotéricas que faço, mas há muitos motivos especiais para o espaço que o Oráculo da Noite conquistou aqui, no meu coração e nessa série de posts - e urjo para que o leitor busque descobrir todos eles na leitura desse livro. Em muitos momentos da obra, Sidarta se refere ao sonho como um oráculo probabilístico, e é difícil discordar das evidências científicas que esse neurocientista levanta para defender a ideia.
   Compreender o funcionamento do sonho no cérebro (e do cérebro num geral), e toda a história da compreensão humana acerca desse fenômeno incrível é imprescindível para compreender o inconsciente e outras questões relevantes para a magia e a Bruxaria. Os praticantes de oneiromagia e exploradores do campo onírico terão muito a ganhar com essa obra, pois introduz conceitos científicos com clareza e considerável acessibilidade.
   Uma leitura prazerosa, fluida e altamente informativa, que se encerra com páginas e mais páginas de uma bibliografia cuidadosa e instigante, ideal para fornecer infindáveis referências para quem anda buscando mais leituras. Esse é um livro que concretiza uma divulgação científica extremamente digna e satisfatória, sem deixar de fora a ciência, mas tornando-a compreensível e instigante como deve ser.
   Porém, fiquei imensamente satisfeita com a percepção lúcida e compreensiva do autor acerca da espiritualidade, bem como os esclarecimentos valiosos acerca de nossos ancestrais, como se comportavam, pensavam e sonhavam. É realmente uma história da mente humana, passando por diversos campos e nomes da ciência para ajudar nesse processo revelador e edificante de compreender o sonho e o sonhar.

A ansiar pelo crepúsculo,
   Alannyë Daeris.