quinta-feira, 24 de junho de 2021

Tepy-Semdet - Festival Egípcio de Lua Cheia

   Os antigos egípcios marcavam a passagem do ano tanto com calendários solares quanto com calendários lunares. Os meses dos calendários lunares se iniciavam junto à entrada da Lua na fase nova, e se encerravam no dia anterior à lua nova seguinte.
   Haviam dois principais festivais lunares observados pelos egípcios, sendo o primeiro o Pesdjentiu, relacionado com a fase nova, e o Tepy-Semdet, relacionado com a fase cheia. O Tepy-Semdet é a celebração da restauração do olho de Heru-sa-Aset, que está forte e em seu pleno poder, e dos netjeru Khonsu e Sokar-Wesir. Assim como ocorre com o Pesdjentiu, já relatado com detalhes aqui nesse post, há poucas informações disponíveis em textos ou livros sobre esse festival, mas há o suficiente para que possamos adaptar dentro de nossas práticas, considerando que é uma observância importante para praticantes de kemetismo, reconstrucionistas e pagãos ou wiccanos que trabalham dentro do viés egípcio.
   No Tepy-Semdet, o poder de Heru (Hórus) e do Olho de Heru estão em sua máxima potência, favorecendo todas as práticas de magia (Heka), principalmente para assuntos de prosperidade, amor, saúde, proteção, bem como execrações/banimentos e purificações. Na sugestão de ritual abaixo, temos uma purificação seguida de execração que pode ser substituída, adaptada ou combinada de acordo com a sua necessidade ou interesse.

Ritual de Tepy-Semdet


• Uma vela vermelha.
• Um alfinete ou prego.
• Uma vela amarela ou laranja para Heru.
• Velas de cores adequadas para os Netjeru que participarão do ritual, caso você queira convidar outras Divindades.
• Natron, ou sal + bicarbonato de sódio (uma colher de cada é suficiente).
• Água gelada ou outras oferendas líquidas.
• Pão, bolo, frutas ou outras oferendas alimentícias da sua escolha.
• Um incenso. Evite incensos de vareta, dê preferência para incensos naturais de bastão, smudge sticks, aromatizadores ou um recipiente com carvão litúrgico para queimar ervas aromáticas. Se você não puder fazer fumaça, unte suas mãos e testa com um óleo perfumado quando for a hora de oferecer o incenso.

   Prepare e tome seu banho higiênico, e ao final dele, misture o Natron (ou o sal com bicarbonato de sódio) com água em uma tigela. Reserve uma parte do líquido e jogue a outra parte em seu corpo, mentalizando a purificação de seu corpo e espírito.
   Vá para seu altar com o resto do Natron diluído em água, e respingue no ambiente, para purificá-lo antes do ritual. Acenda o incenso, a vela amarela e as velas das Divindades (reservando a vermelha para depois), faça o henu de saudação, e diga:

"Em Hotep! É chegada a noite de celebrar a completude do Olho de Heru. É a hora da vitória no Tribunal Divino, a união dos Dois Touros sagrados. Venham, Ó Netjeru, venham para o altar. Esteja comigo, Ó Heru do Leste, Senhor do Horizonte! Seja louvado em seu esplendor fulguroso máximo, Verdadeiro de Voz, Heru, o Jubiloso.
(prossiga convidando as outras Divindades que participarão do ritual). Tenho aromas para lhes alegrar, tenho luz para lhes iluminar. Estou puro para louvar, e tenho um coração sincero para amar."

    Oferte o alimento e a bebida, e você pode aproveitar o momento para honrar seus deuses de culto, com orações ou conversas. Faça o henu de oferenda e diga:

"Recebam essa água fresca que é a Inundação,
Recebam esse incenso, grande de pureza, aroma de purificação,
Recebam esse alimento, o pão que os sustenta em adoração
Voltem-se para essas que são Suas oferendas, recebam-nas de mim."

   Continue quando sentir que deve. Usando o alfinete/prego, entalhe na vela vermelha as coisas que deseja banir ou destruir, como por exemplo, doenças, escassez, preguiça, inveja, medo, ansiedade, pessoas más intencionadas. Se não lhe vier à mente nada específico para escrever, você pode usar o termo "isfet", que simboliza o mal, a desordem e o caos destrutivo, ou A.pep (Apophis), a divindade maléfica que personifica e propaga isfet no mundo.
   Assim que estiver pronta, você deve atacar a vela, como se estivesse atacando seus maiores problemas e inimigos. Fure-a com o prego, quebre a vela, pise em cima, cuspa nela, despejando sua raiva. Em seguida, acenda e deixe queimar até o fim. Enquanto aguarda, você pode ingerir as oferendas, orar e interagir com os Netjeru, meditar, consultar oráculos ou realizar outros feitiços.
   Quando quiser encerrar, faça o henu de reverência e saia de ré como um gesto de respeito. Depois, se aproxime novamente do altar para apagar as velas e se desfazer do que restou da vela vermelha, que deve ser jogado no lixo. Está feito.

A louvar o Falcão Dourado em Verdade,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Quatro Sugestões Cotidianas de Banimentos Simples

   Um tempo atrás, publiquei em meu Instagram uma reflexão sobre a importância de manter em dia nossas práticas mágicas de limpeza e banimento, e algumas pessoas solicitaram dicas simples para isso. Portanto, vamos falar de quatro dicas simples de purificações e banimentos para o cotidiano. Esse texto já foi postado no Instagram há algumas semanas, mas me esqueci de trazer para cá.

1. Aromatizador de ambiente. Prepare em uma garrafa borrifadora uma solução com 1/3 de álcool, 2/3 de água, e ervas ou óleos essenciais de sua preferência. Escolha ingredientes com propriedades de banimento e purificação, e consagre. Depois, é só borrifar nos quatro cantos de casa cômodo quando quiser realizar uma limpeza, ou sobre um papel escrito aquilo que deseja banir, por exemplo.
   Sugestões rápidas de ervas: Alecrim, louro, arruda, casca de limão, cravo da índia.

2. Fazer a limpeza física do lar. O melhor banimento para ambientes são práticas simples de limpeza, como varrer o chão ou passar um pano mantendo o foco e a intenção na limpeza energética do recinto. Em ambas as atividades sugeridas, você pode usar um pouco de sal grosso para fortalecer as energias de banimento, seja varrendo o sal pelo chão da casa ou diluindo na água do balde. Sem a limpeza rotineira e prévia, nenhum banimento tem sustentação.

3. Banimento da descarga. Escreva aquilo que deseja banir de sua vida em um papel, amasse e jogue no vaso. Mentalize que tal coisa está indo embora definitivamente, que se desmancha, e dê a descarga. Mais simples e moderno, impossível. Importante: não use esse método para banir pessoas da sua vida.

4. Queimar folhas de louro. Para um feitiço de banimento cotidiano e acessível, mas ainda tradicional, não há necessidade se preparar um ritual todo elaborado, nem de usar uma quantidade enorme de ingredientes. Basta acender uma vela preta ou branca, e mentalizar aquilo que você deseja banir. Escreva em uma folha de louro o que é que deve ser banido, e queime na chame da vela. Não subestime o poder da intenção e dos feitiços simples!

A expulsar impurezas e malefícios,
   Alannyë Daeris.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Método de Leitura Oracular de Yule

   Hoje, dia 21 de junho, é celebrado o sabá de Yule no Hemisfério Sul. A data desse solstício marca o início oficial do inverno, quando temos a noite mais longa do ano, e a partir dela, as noites vão se encurtando lentamente até o próximo solstício (de verão, em dezembro). O Sol renasce metaforicamente na figura da Criança da Promessa, o Deus-Sol menino, portanto é uma celebração da vida e da luz que pouco a pouco retornam para nossas casas.
   Você pode realizar a leitura quando quiser, mas sugiro que faça entre hoje e a próxima semana para aproveitar o máximo da energia do sabá. Use qualquer oráculo de sua preferência ou afinidade - Tarot, Petit Lenormand, Sibilla, Runas Nórdicas, Runas da Bruxa e oráculos de cartas ou rúnicos em geral.
   A disposição das cartas visa representar o pinheiro, a árvore-símbolo dessa estação. Para maior profundidade e aconselhamento, use duas cartas por posição - ideal para leituras com o Tarot, no método europeu (um arcano maior + um arcano menor).

O Método


1. Carta-tema. Posição que representa esse início de inverno.
2. Banimento. O que precisa ir embora da minha vida? Quais coisas precisam ser banidas?
3. Escuridão. Como me preparar para o período escuro do ano? Qual sombra virá à tona?
4. Introspecção. Como posso olhar mais para dentro? Como aproveitar uma solitude construtiva?
5. Proteção. Com o que devo ter mais cuidado? Como estão minhas defesas espirituais?
6. Renascimento. O que renascerá nesse período? Como posso reacender minhas paixões?

A acender as velas de Heru e Ra,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Epítetos de Ma'ahes

   Epítetos são títulos dados a divindades, que servem para representar certas faces específicas deles, e invocar determinadas características. Para saber mais, veja esse texto que trata sobre o assunto.
   Hoje, apresento uma lista de epítetos keméticos tradicionais conferidos a Maahes, traduzidos e adaptados para nossa língua. Podem ser usados em orações, rituais, meditações e em quaisquer situações que você queira evocar ou invocar esse aspecto de Maahes que está retratado no epíteto escolhido. Essa lista não contém todos os títulos associados com esse deus, e há muitos outros que podem ser encontrados, ou desenvolvidos na sua própria interação e culto a Maahes.


Epítetos Tradicionais


• Portador da faca
• Ajudante dos Sábios
• O Iniciador
• Senhor do Massacre
• Manifestador de Vontade
• Vingador de erros
• Senhor Escarlate
• Grande de Rugido
• Grande de Força
• Poderoso de Braços
• Ele de corpo forte
• Ele de grande poder
• Ele de olhos avermelhados
• Leão Furioso
• Leão Vivo
• Leão de Olhar Feroz
• Alma de Bast
• Filho de Bast
• Filho da Deusa
• Herdeiro do Pilar
• Ele que advoga por seu pai Ra
• Que procura a perna do seu pai
• Senhor de Bubastis
• Senhor de Debod
• Senhor das Terras Estrangeiras
• Senhor do 10º Nome do Alto Egito
• Deus Nobre
• Poder Nobre
• Ele de rugido alto
• Ele de grandioso rugido
• Ele de face sinistra
• Ele que assalta corações
• Ele que devora corações
• Ele de grande respeito
• Ele de momentos coléricos
• Ele que está no meio do oásis
• Ele que persegue os rebeldes com passos largos e velozes
• Ele que tem uma face sinistra dentre seus inimigos
• Ele que afasta Set
• Ele que mata adversários
• Ele que acaba com rebeliões
• Ele que mata os hipopótamos
• Ele que mata inimigos em ambas as costas
• Ele que traz a ruína dos rebeldes
• Ele que toma o sangue dos associados de Set
• Que estoca seu forcado/lança nas costas de seu inimigo
• Ele que lança as gazelas do deserto ao chão
• Ele que perfura os rebeldes com seu hálito flamejante
• O Grande Protetor
• Ele que atropela
• Ele que protege Estrangeiros
• Ele que protege os santuários do mal
• Ele que está no meio do trono de Heru
• Ele que afasta os inimigos do grande trono
• Ele que afasta os inimigos da Ilha de Fúria
• O Principal dos Deuses
• O Principal no lugar do esfaqueamento
• O Principal do Templo de Bast no Baixo Egito
• O Principal no local da divisão dos Dois Senhores

A rugir,
   Alannyë Daeris

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Oráculo das Moedas + Ritual de Purificação e Consagração

   O oráculo das moedas é uma ferramenta tradicional e popularmente conhecida por seu uso pelos Povos Ciganos, mas em realidade, as moedas são empregadas como instrumentos divinatórios desde o princípio das artes divinatórias por povos de todo o mundo, incluindo os gregos e romanos. É um meio de obtenção de previsões envolto em uma aura de mistérios e misticismo, mas também bastante revelador e intuitivo, ótimo para quem está no "armário de vassouras" e precisa manter a discrição em suas práticas, pois você só precisará de duas moedas.
   Conheci e aprendi esse método através de livros sobre o tema dentro do viés cigano, até que pouco a pouco desenvolvi minhas próprias interações com as Moedas a partir dos ensinamentos e mensagens transmitidas pelos livros, e em seguida criei meus métodos pessoais de leitura, os quais compartilharei em um post futuro. Mas deixo bem claro que não sou Romani, nem membro de tradições ou clãs ciganos, portanto os ensinamentos contidos nesse texto muito provavelmente diferem daqueles guardados há gerações pelos clãs ciganos, e não é minha intenção rotular os conhecimentos abaixo como verdadeiros ou tradicionais.
   Acrescento no final do texto uma sugestão de ritual de purificação e consagração para suas moedas, inspirado fortemente nas ritualísticas ciganas.

Oráculo das Moedas


   Duas moedas antigas devem ser consagradas e usadas apenas para essa finalidade. Segundo a tradição, devem ser douradas ou de cobre, mas há quem escolha as moedas de acordo com seus valores, observando a numerologia das moedas e da soma delas; tudo isso fica a critério de cada oraculista. Providencie também um saquinho para armazená-las, e um tecido retangular ou quadrado medindo no mínimo 30cm×30cm para lançar as moedas, ambos consagrados.
   Nesse estilo de divinação, cada face das moedas corresponde a um valor:

• Cara - vale 3 pontos
• Coroa - vale 2 pontos

   Estenda o tecido sobre uma superfície limpa, e purifique a si mesmo e ao ambiente com um método de sua preferência; um incenso, sino, abanilho, enfim. Segure as moedas nas mãos enquanto mentaliza sua pergunta, e lance-as três vezes sobre o tecido, prestando bastante atenção e anotando os valores para não se perder.
   Some os resultados de todas as jogadas segundo os valores acima. Depois, é só conferir o resultado na lista abaixo, e interpretar a resposta usando as palavras-chaves. Se você não encontrou o resultado abaixo, é porque calculou errado, tente novamente. Tenha sempre um cálice de água na mesa, para lavar as moedas no final de cada consulta (sempre que encerrar uma sessão com uma pessoa, seja para si ou para consulentes).

12 pontos - Amanhecer. Uma fase de surpresas e novidades, em que há espaço para o início e a realização de grandiosos projetos. Um momento propício que pode ser diferente daquele esperado ou desejado, mas que carrega um precioso potencial se usado corretamente. Esteja com a mente e o coração abertos para o que der e vier, disposto(a) a aprender e se adaptar às circunstâncias. Aponta para o princípio de algo promissor, um impulso capaz de gerar oportunidades e crescimento, ou a necessidade de renovações e purificações.

13 pontos - Claridade. Seja prudente, reflita profundamente sobre todos os aspectos da situação antes de tomar uma decisão ou atitude. É a hora de esclarecer as coisas, de ver a realidade vir à tona, para então ser capaz de agir com sabedoria e assertividade. Saiba que nem tudo é totalmente ruim, nem totalmente bom, e sempre há um outro lado para se considerar. Máscaras podem cair, ilusões podem se desfazer, portanto esteja compromissado com a verdade e a justiça - logo, logo, as consequências dos seus atos irão lhe alcançar, e é melhor que você esteja em dia com sua consciência. Só não deixe de agir por preguiça, negatividade ou medo, pois essa é uma vergonha que aquele que tenta e falha não ostenta.

14 pontos - Espada. Conflitos, embates ou discordâncias. Você pode encontrar resistência nessa questão, então aja com cautela e seja discreto com suas intenções, atitudes e planos. Tenha maturidade e prudência, e seus problemas serão inofensivos, mas caso não leve as ameaças e obstáculos a sério, poderão resultar em consequências negativas. Evite a impaciência e a falta de empatia, pois muitas das discussões podem ser evitadas ou amenizadas com o diálogo e uma vontade genuína de ouvir e acolher o próximo. Nem todo mundo tem boas intenções, e você poderá estar mais vulnerável à hostilidades.

15 pontos - Superação. Também chamado de "vitória", esse resultado indica boas tendências para o sucesso e a conquista dos seus objetivos, fornecendo uma resposta auspiciosa para suas dúvidas. Pode não ser imediatamente, mas em breve você comemorará a realização dos seus sonhos, de forma justa e merecida. Porém, se mantenha humilde, generoso e não abuse da sorte, pois nem tudo dura para sempre, e a roda da fortuna sempre gira. Surpresas e alegrias são garantidas, mas não penda para extremos, pois a desarmonia pode acabar rapidamente com sua boa fase.

16 pontos - Reunião. Diálogo, um momento de entendimentos, chegadas e partidas em sua vida social, influências externas agindo sobre a situação. Pode ser necessário consultar a opinião de outras pessoas, ou a resolução dessa questão depende de alguém além de você. Buscar entender as coisas pela perspectiva de terceiros pode revelar detalhes ou planos de ação proveitosos. Seja humilde, acolha aqueles que necessitam de sua ajuda, e faça o bem. Se está duvidoso ou desconfiado a respeito de alguém ou algo, confie na sua intuição e fuja daquilo que lhe gera desconforto ou peso, pois a harmonia é leve como uma pluma.

17 pontos - Ramalhete. Sentimentos fortes entre pessoas, presentes materiais ou simbólicos. Você será recompensado de forma justa por seus esforços, e verá tudo aquilo a que você se dedica crescer e prosperar mais e mais. Se permita viver com mais conforto, ou fornecer bons momentos e pequenos prazeres a quem você ama, pois o melhor uso que pode ser feito com o dinheiro é gerar amor e cuidado. Renascimento, pureza, momento de dar a volta por cima e viver com abundância, mas sempre conhecendo os limites do seu coração.

18 pontos - Crepúsculo. Ouça seu coração e sua intuição, valorize suas emoções e esteja atento aos sinais que seus sentimentos lhe dão sobre sua consciência. Preserve-se, descanse, saiba se recolher e lidar com calma nessa questão. Você poderá se decepcionar com as pessoas, então não crie expectativas, foque no seu bem-estar e trabalhe sua autoestima. Cuidado com autossabotagens, vícios e hábitos negativos em geral, e esteja atento às intenções alheias, pois essa é uma combinação que pode indicar quebranto (olho gordo), inveja, acúmulo de negatividade ou feitiços lançados contra você.

Ritual de Purificação e Consagração


   Esse ritual tem como intenção preparar suas moedas para o uso divinatório, transformando-as em instrumentos de sincronicidade e magia. É recomendado que seja feito na primeira noite de Lua nova.

Você precisará de:
• Uma vela roxa.
• Um caldeirão ou recipiente que comporte fogo e altas temperaturas.
• Álcool.
• Uma tigela de cerâmica ou vidro.
• Água lunar ou água de fontes naturais, se possível. Se não, use da torneira mesmo.

   Prepare o ambiente e a si próprio como de costume. Trace o círculo mágico agora se for de sua preferência, e acenda a vela. Adicione um dedo de álcool no caldeirão, e acenda o fogo com a vela. Adicione as moedas, fazendo um pedido referente ao oráculo a cada moeda colocada (até dois pedidos, um para cada). Concentre-se nas chamas e medite até o fogo se extinguir.
   Transfira as moedas para a tigela com água com cuidado, de possível usando uma pinça, para que esfriem. Limpe, seque e guarde no saquinho que escolheu para armazená-las. Sempre que alguém tocar em suas moedas, repita esse ritual na Lua nova. Se possível, deixe o saquinho sempre sobre um drusa de cristal translúcido em seu altar.

A ouvir o tilintar das moedas,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Resenha: Magical Folkhealing, de D. J. Conway

   Sinopse 
(na língua original): Packed with natural remedies and recipes from bestselling author D. J. Conway and her grandmother, this book is a magical formulary that everyone—from beginners to established practitioners—can use to make life better. You'll learn how to use a wide variety of herbs and oils for spiritual, emotional, and mental health and healing.
Magical Folkhealing provides more than one hundred commonly known herbs and their associated planets, elements, deities, and zodiac signs, as well as their basic powers and specific uses. This user-friendly guide also teaches you how to simplify your rituals, use special tools and tables for improved prep work, apply oils and aromatherapy for specific needs, and much more. Featuring everything from herbal teas and tinctures to massage oils and stones, this book is an indispensable resource for healing.

Ficha Técnica


   Autora: D. J. Conway
   Ano: 2018
   Editora: Llewellyn Publications
   Páginas: 314

   Mais conhecida por outras obras de sua autoria, D. J. Conway foi uma prolífica autora sobre os temas de Magia, Bruxaria e Wicca. Esse é um manual bastante adequado para quem busca um compilado de receitas, conhecimentos básicos e orientações práticas para colocar a mão na massa e fazer magia com elementos naturais para a cura do corpo, mente e coração.
   A autora se preocupa em incluir logo no início informações singelas sobre os planetas, dias da semana, os signos do zodíaco, símbolos tradicionais de herbalismo, nomes folclóricos de plantas usadas na Bruxaria e a quais ervas se referem, e é claro, uma lista extensa de ervas e suas propriedades mágicas.
   No capítulo 8, várias receitas medicinais são apresentadas, ilustrando os valiosos usos dessas maravilhas da flora no bem estar e saúde humana. A seguir, a autora acrescenta informações sobre cristais e como podem ser incluídos nas práticas sugeridas no livro. Algumas receitas mágicas são ensinadas, e prossegue explicando as correspondências de cores para velas, aromaterapia e óleos essenciais, e também sugere uma lista de receitas de óleos mágicos, instruções para confeccionar cremes, decocções, infusões, tinturas, e mais tratamentos medicinais para enfermidades comuns (dores de garganta, gripes e por assim em diante) e cosméticos naturais.
   Em síntese, é um manual versátil, que trata de muitos aspectos importantes e interessantes da magia natural, mas não busca se aprofundar muito nos temas, apenas sugerindo ideias e introduzindo o básico necessário - o que significa que pode ser "mais do mesmo" para leitores mais experientes. As receitas que o livro traz são ótimas, mas sinto que quem adquire o livro físico fará melhor uso delas, por se lembrar com mais facilidade do livro e poder consultá-lo de forma cotidiana. A escrita é clara e bastante acessível para leitores que estão em fases de aprendizado do inglês, mas alguns termos específicos podem ser difíceis de traduzir e assimilar.

A aquecer poções,
   Alannyë Daeris

terça-feira, 1 de junho de 2021

O Corpo e a Alma no Kemetismo

   Os egípcios acreditavam que a alma de uma pessoa era composta de muitas partes, cada qual com suas características e associações. Os conceitos variaram um bocado desde o Império Velho até o Império Novo, por vezes mudando entre uma dinastia e outra. A maior parte dos textos funerários egípcios cita sete principais "parcelas" da alma, excluindo o corpo físico em si (o khat).
   Nesse texto, busco reunir as principais percepções e noções acerca desses conceitos na egiptologia contemporânea, a fim de introduzir o tema. Mas é apenas uma pincelada sobre um assunto riquíssimo e bastante estudado pela Egiptologia, e convido os interessados a conduzirem suas próprias pesquisas para que possam ir além.

Khat (ẖt) - Corpo Físico

   A carne e o osso que compõem nosso aspecto físico. É aquilo que o deus Khenmu molda em sua roda de oleiro, para então depositar o Ka dentro. A necessidade de preservar os corpos se dá pois os egípcios acreditavam que o estado do khat interferia na qualidade do pós-vida do indivíduo, assim como um corpo doente gera uma vida debilitada.
   Entretanto, o khat era percebido apenas como receptáculo para os outros aspectos, em especial o Ka, o Ba, o Ib e o Sheut.

Ren (rn) - Nome, Identidade

   É um nome secreto dado à pessoa pelos próprios Deuses na hora em que seu Ba foi criado, e vive enquanto for falado ou estiver escrito. Não é o mesmo nome de batismo, ainda que todos os nomes desempenhem um grande papel dentro da cultura Kemética. Esse conceito abrange a identidade, as experiências e todas as memórias vividas pelo indivíduo. É o Ren que une todas as partes da "alma", pois é a partir dele que os seres humanos são criados.
   É por esse motivo que tumbas e sarcófagos com o nome dos faraós repetido em vários locais era algo tão importante. A importância dos nomes também é indicada pelos cartouches, ou shen, que eram colocados em torno dos mesmos. E também é por esses motivos que quando alguém caia em desgraça, principalmente por suas próprias atitudes desonrosas, seu nome era raspado ou escrito e censurado em seguida, apagando a própria existência da pessoa e negando a ela a eternidade.

Ib (jb) - Coração

   É uma parte importante da alma kemética, pois tudo o que sentimos e percebemos acontece no coração. É o coração que gera e armazena o pensamento, a vontade, e a intenção. Não há distinção entre emoção e pensamento, são a mesma coisa na cultura kémetica. Os egípcios acreditavam que esse órgão era formado por uma gota de sangue do coração da mãe, na hora da concepção.
   O coração é o receptáculo do Ka, portanto a chave para o pós-vida, essencial para a evolução do "espírito", e deveria estar muito bem preservado e armazenado dentro do corpo mumificado, se possível protegido pelo escaravelho (khepher). O amuleto de escaravelho é essencial para impedir que seu coração lhe traia na hora do julgamento, e seja totalmente honesto a respeito do que foi feito por você em vida. O coração vai acompanhado do Ka para o afterlife, e é pesado por Yinepu (Anúbis) na cerimônia da pesagem do coração. Se seu coração pesar mais ou menos que a pena de Ma'at, você é devorado por Ammit.

Sheut (šwt) - Sombra, Silhueta

   Está sempre presente, pois uma pessoa não pode viver sem sua sombra, e vice-versa. A sombra contém parte da pessoa que ela representa, e por vezes, as estátuas de divindades ou pessoas eram se referidas como "as sombras" dos deuses em questão. Também pode representar o impacto que a pessoa teve na Terra, seu legado, as consequências dos seus atos.
   Em representações, a sombra é identificada como uma silhueta toda preta, menor que a pessoa a quem ela está ligada. Em alguns casos, são entendidos como serventes de Anúbis. A sombra também é uma porção relevante da "alma", e após o falecimento, podia ser armazenada na tumba em uma caixa preta para proteção.

Ba (bꜣ) - Personalidade

   Representado graficamente como um pássaro com rosto humano (como demonstrado na imagem que ilustra o post), é a forma libertada na morte. É considerada a personalidade da pessoa, capaz de viajar além do corpo físico, e transitar pelo mundo dos vivos e dos mortos. O Ba é a personificação da verdadeira personalidade, e também a dos deuses que interagem com os vivos. Quando uma divindade interfere na vida de um indivíduo, é o Ba divino atuando.
   Pode ser ativado apenas em estados alterados de consciência, como ao dormir, meditar, no falecimento, e em transes, especialmente os que podem ser alcançados através de iniciações. O Ba literalmente significa "manifestação", portanto, é a manifestação de um humano no plano espiritual, e pode ser interpretado como o corpo astral de alguém. Se refere a todas as qualidades não-físicas que compõem a personalidade de um indivíduo; não é parte da pessoa, mas sim ela por dentro.
   Algumas cerimônias eram performadas por sacerdotes após a morte de alguém, incluindo o ritual de abertura da boca (wp r), que servia para restaurar as habilidades físicas da pessoa, e para desprender o Ba, de maneira que possa se unir ao Ka e formar o Akh. Após o falecimento e a libertação do Ba, os egípcios acreditavam que ele vinha ao plano material durante o dia para frequentar os lugares em que a pessoa ia, ou fazer as atividades rotineiras dela, como se fosse um fantasma. Nas tumbas era comum a presença de túneis e saídas estreitas para o Ba transitar para dentro e fora dos túmulos.

Ka (kꜣ) - Força Vital

   É a força vital, considerada por egiptólogos antigamente como o "duplo" de um indivíduo, e hoje entende-se como a fonte de vida e poder criativo. Pode-se dizer que o Ka diferencia os vivos dos mortos, pois a morte ocorre quando o Ka deixa o corpo, e é levado ao Salão das Duas Ma'atis para ser julgado junto ao coração (Ib) do indivíduo.
   Em algumas regiões, havia a crença de que Heqet ou Meskhenet eram as criadoras do Ka de cada pessoa, soprando para dentro do indivíduo no instante do nascimento. Em algumas versões do mito de criação, após o deus Atum, Ra ou Ptah criar a Enéada, ele os abraça para fornecer seu Ka aos deuses.
   O Ka pode ser alimentado com comida e bebida, portanto, essas oferendas são feitas aos falecidos - mesmo que seja somente a energia das oferendas que será consumida, não o aspecto material. O próprio ato de oferecer algo a uma entidade também serve como alimento ao Ka, e é uma obra de Ma'at, deusa que detém o epíteto de "alimento dos Deuses".

Akh (ꜣḫ) - Ba e Ka Combinados

   É traduzido como "forma luminosa" ou "iluminação", e é a forma que os finados abençoados vivem no pós-vida, após concluírem com sucesso todas as cerimônias e julgamentos, e somente depois de Wesir (Osíris) considerar a pessoa digna, pois é ele quem dá a palavra final. O Akh (plural "Akhu") pode ser entendido como o intelecto como uma entidade viva. Não é divino por si só, mas é imortal.
   As pessoas vivas podem orar e fazer oferendas aos Akhu, que podem influenciar em suas vidas positiva ou negativamente, e possuem liberdade para transitar entre os planos ou agir no plano material. É um conceito que pode ser grosseiramente comparado com o de "espírito desencarnado".

Sekhem (sḫm) - Poder

   Significa literalmente "poder", pode ser entendido como nossa força de vontade, as decisões que tomamos e o caminho para o qual essas escolhas nos levam. A manifestação de nossa Vontade, e é um conduto para realizar Heka (magia), que está presente tanto nos corpos espirituais e desencarnados quanto nos vivos, a todo momento. Esse conceito pode ser grosseiramente comparado com a "aura" de um indivíduo.
 
Sahu (sꜣh) - Glória

   É o corpo espiritual da Sombra (Sheut), por vezes traduzido como "a alma incorruptível"; ou seja, após a morte, a sombra é transferida para o plano espiritual, na forma de Sahu. Caso a pessoa seja considerada digna no julgamento, seu Sahu é dotado de grandes poderes, como viajar entre os planos, interagir com os vivos, proteger corpos astrais ou assombrar inimigos, além de todos os dons mentais e espirituais que o indivíduo dispunha em vida. Também se equivale ao conceito de "espírito desencarnado", mas seria aplicado a aqueles mais evoluídos na escala de consciência.

A alimentar meu Ka,
   Alannyë Daeris.