sexta-feira, 31 de julho de 2020

Instrumentos Mágicos: Almofariz e Pilão

   Esses dois instrumentos são grandes aliados das bruxas que gostam de utilizar ervas nas mais variadas formas e práticas. São muito valiosos também na feitiçaria, pois permitem a interação e desintegração de ingredientes orgânicos, ou a mescla de substâncias que não podem ser simplesmente despedaçadas, como sementes, cogumelos, caules, cascas, resinas, compostos animais, secreções, ou até mesmo ingredientes inorgânicos, como farelo de cristais. Por sinal, almofarizes e pilões são usados desde a aurora da humanidade, e os mais antigos exemplares encontrados datam de aproximadamente 35000 a.C.
   Funcionam como instrumentos mágicos pois acumulam muitas energias e intenções depositadas no ato manual de macerar os materiais, portanto, devem ser devidamente purificados e consagrados para melhores resultados. Se você pratica Bruxaria, perceberá que seu almofariz se tornará parte dos seus feitiços, e é aconselhável que você limpe fisicamente e energeticamente sua ferramenta de trabalho sempre depois de usar.
   O almofariz e o pilão, objetos que sempre são usados em conjunto, possuem uma simbologia bem interessante, pois o almofariz é facilmente associado ao feminino, enquanto o pilão, ao masculino. Com movimentos constantes e ritmados de fricção e contato entre um e outro, produzimos mudanças nos ingredientes. Em união, esse instrumento representa a totalidade, e o equilíbrio.
   Existe uma boa variedade de materiais disponíveis para escolher. Cada material possui propriedades físicas e energéticas diferentes, e são adequados para diferentes usos e ingredientes. Segue abaixo um pequeno guia para lhe orientar:

Porcelana. O almofariz de porcelana ideal deve ter uma textura áspera, pois assim moerá com mais eficiência as partículas. Para conseguir isso, basta moer uma boa quantidade de areia no seu almofariz de porcelana. É frágil mas leve e não mancha.
Pedras duras como granito ou mármore. Considero os melhores materiais para almofarizes e pilões. São resistentes, adequados para uso com líquidos ou substâncias viscosas e gordurosas, não são absorventes, e não costumam manchar. Porém, são pesados. Os almofarizes de mármore apresentam superfície muito lisa, que não funciona muito bem com sementes e nozes.
Madeira. É altamente absorvente, e parece ser um material bastante adequado para moedores de pimenta, sal e temperos culinários. Inadequado para grande parte dos usos mágicos ou herbais, pois absorve muito dos ingredientes e substâncias que são colocados nele.
Vidro. É frágil e deve ser manuseado com cuidado, mas não mancha e é adequado para uso com líquidos ou substâncias mais gordurosas. No entanto, não é capaz de moer com tanta eficiência quanto outros materiais, como a pedra e a cerâmica.
Barro ou cerâmica. Mói muito bem, resultando em pós de grande fineza, ainda que manche facilmente. É frágil.
Ferro. É pesado, mas se for de textura áspera, resulta em pós bem finos. Não mancha, é duradouro, mas deve-se untar antes do uso e limpar bem após o uso, necessitando de cuidados especiais para evitar ferrugem.


Usos e Cuidados


   Almofarizes e pilões podem ser usados na medicina e farmácia, na culinária, e com inúmeras finalidades mágicas ou práticas dentro da espiritualidade. Recomendo fortemente que possua almofarizes e pilões individuais para uso alimentício (seja para chás, temperos, ou receitas mágicas), para uso tópico (cosméticos, óleos, banhos, perfumes) e para uso externo/mágico (tudo aquilo que envolve materiais incomuns ou impróprios para contato físico, como ingredientes de feitiços). Assim você evita a contaminação dos produtos, tendo o cuidado de combinar com a limpeza física também.
   Geralmente são usados os componentes herbais secos, sejam eles flores, folhas, sementes, caules, raízes, frutos ou cascas, pois não é possível obter pós a partir de ervas frescas. O que é possível é amassar para criar uma pasta ou estimular a saída dos óleos essenciais e líquidos, o que resulta em boas poções, infusões e decocções.
   Uma vez colocados os ingredientes no almofariz, segure o pilão e limpe sua mente. Entre em sintonia com sua intenção e faça movimentos circulares em sentido horário se sua intenção for de atração/manifestação, ou anti-horário se for de banimento/destruição. Gire constantemente o punho com certa força para baixo, mas aplicando também precisão e calma, pois não é um exercício de força bruta. Cada um tem um ritmo próprio, permita-se encontrar o seu.
   Saiba que a grande maioria dos materiais orgânicos podem ser macerados, mas alguns requerirão muita paciência de sua parte. Nesse momento, você sempre pode visualizar seu objetivo, usando a energia gerada pelo ato mecânico e quem sabe entrando em transe através dos movimentos repetitivos. É também uma boa hora para lançar e energizar sigilos, falar encantamentos, orações ou mantras.

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A macerar com amor,
   Alannyë Daeris.

Informativo!

   Boa sexta, como você está nesse dia de Vênus? Espero que bem! Esse post é um informativo breve, especialmente aos apoiadores do Padrim, para avisar que meu computador queimou após uma queda de luz e estou limitada ao celular para produzir as postagens e a revista.
   Devido à pandemia, não sei quando conseguirei levar meu computador ao conserto, portanto, o formato das postagens aqui no blog e possivelmente também o da revista mensal será bem diferente do comum. Me coloco à disposição (aqui ou no Instagram) para quaisquer dúvidas ou para sugestões de plataformas mobile para produção e formatação de arquivos textuais grandes hahah.

Grata pela atenção,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Método de Leitura Oracular de Lua Crescente

   Chegamos na Lua crescente, e com ela, completamos nossas spreads lunares, com todas as fases da Lua! Esse método está voltado para o equilíbrio e o desenvolvimento pessoal sob a influência da energia de fertilidade que é tão forte nesse período. Você pode repetir essa leitura mensalmente, sempre que a Lua adentrar nessa fase.
   Qualquer oráculo que permita essa configuração de 6 cartas ou runas pode ser usado. Tarot, Petit Lenormand, Runas Nórdicas, Runas da Bruxa, Cartas Xamânicas, enfim. Use sua intuição e afinidade para determinar a ferramenta de sua escolha.

1. Semente. O que precisa crescer em minha vida?
2. Fogo. Como posso fazer com que isso cresça?
3. Terra. O que abriga e protege minhas intenções?
4. Água. Como entrar em sintonia com meu poder pessoal?
5. Ar. Que energia será positivo incorporar em minha vida para continuar no caminho certo?
6. Fruto. Quais coisas receberei ou alcançarei nesse período?

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A confabular com Thoth,
   Alannyë Daeris.

Método de Leitura Oracular de Imbolc

   Está se aproximando o sabá de Imbolc, e trago uma spread especial para essa estação. Você pode realizá-la quando quiser, mas sugiro que faça no dia 1 de agosto, para aproveitar o máximo da energia do Sabbath!
   Use qualquer oráculo de sua preferência ou afinidade - Tarot, Petit Lenormand, Runas Nórdicas, Runas da Bruxa, e oráculos de cartas ou rúnicos em geral. Escolha aquele que sua intuição apontar.

1. Semente - O que precisa ser plantado agora.
2. Consagração - Quais são suas bênçãos.
3. Donzela - Como o arquétipo da Deusa Donzela pode lhe ajudar nessa estação.
4. Arado - O que é necessário preparar. Algo que deve ser feito.
5. Renovação - O que está retornando para você.
6. Botão - Como agir em relação aos seus planos a partir de agora.

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A voltar para a rotina,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Ornitomancia, parte 2 - Guia Básico de Augúrios Modernos

   A ornitomancia é uma arte que pode ser expressada através de muitas técnicas e práticas. Já era assim na antiguidade, como introduzido no texto que postei anteriormente sobre o assunto. Porém, no mundo moderno, dispomos de muitos outros parâmetros que podemos usar para colocar em prática nossas habilidades divinatórias. Portanto, esse texto tem como finalidade lhe inspirar e orientar em relação aos augúrios num contexto atual.
   Para praticar a ornitomancia, um certo interesse na ornitologia, ou seja, o estudo dos pássaros, é muito recomendado. Afinal, você ficará observando aves e mais aves... e deverá entender um bocado sobre as diferentes espécies e comportamentos de cada uma, a fim de interpretar seus atos adequadamente. Pode-se dizer que a ornitomancia moderna se baseia nessas duas informações principais: a espécie, e o comportamento das aves (estejam elas voando, no chão ou em árvores).
   O processo em si é muito simples: basta observar a natureza ao redor. Podemos ver muitos pássaros quando prestamos bastante atenção, mesmo morando em áreas mais urbanas. Mas nem todos os passarinhos que encontramos em nosso caminho fornecerão a orientação que desejamos. A intuição deve ser sua bússola, pois é ela quem pode indicar quais pássaros estão relacionados com uma previsão, e quais não estão. Para começar, você pode escolher um local tranquilo que lhe permita observar aves. Pode ser um parque, uma praça ou até uma janela.
   Um entendimento prévio sobre numerologia e os arquétipos associados com os números, mesmo que básico, é fortemente indicado também, pois muitas vezes você verá grupos de aves reunidas, e interpretação pode estar diretamente relacionada com a quantia exata de animais.
   Cada espécie de pássaro está relacionada com simbologias particulares, que também são fonte de mensagens e previsões específicas. Se você tem interesse em investir de verdade nessa arte divinatória, recomendo que conheça a fauna do local onde você mora, e entenda a energia correspondente a esses animais que convivem com você. As cores, os hábitos das aves próximas, do que se alimentam, e até mesmo os mitos e lendas populares a respeito delas - todas essas informações são relevantes, pois ensinam aspectos diferentes e correspondências de cada espírito animal. Mas no fim das contas, conheça-os de perto, trabalhe mais a fundo com esses arquétipos, e você terá muito mais profundidade em seus augúrios. Por esse motivo, não deixarei nenhuma lista de significados para aves - até porque, a diversidade de animais no território brasileiro é imensa, e mesmo que tentasse resumir, resultaria em um rol gigante.
   Recomendo fortemente que você mantenha um diário com suas anotações e estudos relacionados aos pássaros, suas simbologias, e também registre seus auspícios e augúrios, incluindo interpretações, desenhos representando a posição dos animais dentro do espaço sagrado delimitado, e outras informações que você julgar pertinentes. Essa prática lhe permite analisar seu desenvolvimento no decorrer de sua jornada, e pode gerar muitos insights e reflexões interessantes.

Aves em Vôo


   A técnica divinatória de augúrios com aves em vôo é a mais utilizada, por virtude de ser bem mais acessível que a observação direta e aproximada de pássaros. Em praticamente qualquer lugar do mundo você consegue consultar os céus em busca dos padrões formados pelos mensageiros alados.
   É interessante que você divida a área do céu que consegue ver em quatro porções, que correspondem aos quadrantes (como faziam os romanos). Assim, é possível obter maiores detalhes sobre a mensagem, e fazer associações simbólicas com os pontos cardeais, os elementos, enfim. O padrão de voo deve ser analisado com atenção, e caso os pássaros estejam em formação no céu (em padrão de V, em círculo, meia lua, espiral, linha reta, etc), leve em consideração o formato de acordo com a simbologia e sua intuição. A direção do vôo também fornece algumas correspondências, que estão listadas abaixo. Elas podem ser combinadas de acordo com a situação, sendo necessário observar o contexto para entender o significado.

Da direita para a esquerda: Você alcançará seu objetivo com facilidade.
Da esquerda para a direita: Você encontrará dificuldades em alcançar seu objetivo. Prepare-se para atrasos ou obstáculos, busque ajuda, ou repense melhor seus atos.
Voando horizontalmente: Você alcançará seu objetivo, mas o percurso será árduo.
Voando na sua direção: As coisas estão a seu favor, e a felicidade se aproxima.
Voando para longe de você: Tenha mais cautela nessa situação.
Voando para cima, ou muito alto e rápido: Sucesso e rapidez na resolução dos problemas.
Padrão errático de vôo, ou decolando e pousando repetidamente: Há algo mais profundo que está lhe impedindo de receber uma resposta direta. Influências ocultas, problemas que precisam de atenção imediata.
Mudança brusca de direção: Inconsistência ou dúvida. Seja flexível.
Voando contra o vento: Enganos, decepção, cansaço.

Passo a Passo


1. Delimite o espaço sagrado e o início da divinação.
   Ainda que possam acontecer espontaneamente, os augúrios com aves funcionam melhor quando tudo é preparado com antecedência, e há uma demarcação do ambiente que será usado para a previsão, seja a porção visível do céu ou uma área no chão. Se quiser, purifique a si próprio também, e prepare-se para a divinação como julgar adequado dentro das suas tradições espirituais.
   Então, defina o início da atividade, e formule sua questão. Concentre-se na sua dúvida, pense na situação que precisa ser esclarecida, e se mantenha atento à área que você delimitou para a previsão.

2. Identifique o tipo de pássaro.
   Tente descobrir as espécies de aves que você vê, e observe seu tamanho, formato do bico, cores e outros detalhes que possam ajudar na identificação. Mesmo que você não consiga saber exatamente qual tipo de pássaro é, há muita diferença de significado entre uma ave de rapina e um canário, por exemplo, e isso já pode fornecer um bom entendimento da mensagem.
   Caso não consiga identificar, especialmente quando se trata de aves em vôo, você pode se basear na cor do animal para buscar entender seu significado. Mas o ideal é tentar reconhecer a espécie, pois cada uma carrega simbologias e mensagens únicas.
   
3. Identifique a quantidade de aves.
   Aqui a numerologia será útil, mas sua intuição também ajudará muito nesse processo.

4. Analise os padrões e o comportamento.
   Tente absorver o máximo de informações aqui, seja no chão ou no ar. O que as aves estão fazendo, como se comportam, como ou se interagem entre si, para onde estão indo e como se movimentam. Preste atenção nas vocalizações, chamados e cantos, pois eles revelam diversos aspectos sobre a espécime, e também interpretações ou mensagens específicas.

5. Determine o final da divinação.
   Quando sentir que a mensagem já foi entregue, encerre a divinação. É uma boa ideia encerrar oferecendo sementes ou frutas (evite alimentos "de gente", mas na falta de outra coisa para dar, pode ser pedaços de pão ou bolacha água e sal) como agradecimento às aves e à natureza em geral.

Algumas informações daqui.
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A observar os céus,
   Alannyë Daeris.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Ornitomancia, parte 1 - Augúrios Tradicionais na Religio Romana

   A ornitomancia, ou divinação com aves, é uma prática divinatória que existe desde que existe divinação como ato mágico e intencional - afinal, pássaros eram, e ainda são, vistos como mensageiros divinos, capazes de fazer a conexão entre a terra e os céus, ou seja, mundano e divino.
   Por sua existência generalizada nos povos da antiguidade, esse tipo de divinação ocorreu de forma muito particular em cada cultura ou religião. Os gregos a praticavam desde tempos primordiais, pois aparece em vasos arcaicos e é citada por Hesíodo e Homero. Tribos Indígenas norte-americanas, druidas célticos, até entre os mesopotâmios há relatos de divinação envolvendo aves. Mas foi na espiritualidade do povo romano que essa arte se aperfeiçoou em muitos níveis, recebendo um local de destaque na estrutura social e religiosa do Império. Portanto, começaremos os estudos na ótica tradicional da Religio Romana, antes de partirmos para a ornitomancia moderna.
   Antes da fundação da cidade em si, já haviam sacerdotes denominados augurs, que "praticavam os auspícios" através da observação de aves. Nas Tábuas de Iguvine (que datam do terceiro século antes de Cristo), há inscritos religiosos que apresentam, dentre outras práticas, a da ornitomancia nas tribos latinas. A própria lenda de criação de Roma é baseada em um augúrio, no qual Romulus e Remus atuam como os augurs.
   O termo "auspicium" se referencia ao processo técnico da divinação, e o termo "augurium" se referencia à interpretação, a ação favorecida pelos deuses, o aconselhamento resultado da divinação. Existiam inclusive colégios sacerdotais dedicados a supervisionar essa atividade, que tinha papel central em grande parte das decisões públicas e privadas tomadas na sociedade romana - por exemplo, assuntos de guerra, comércio, e religião. No entanto, os augúrios romanos também eram praticados com outros animais ou fenômenos da natureza, e nesse texto manteremos o foco na divinação com aves e pássaros.
   Para os romanos, apenas algumas espécies de pássaros indicavam sinais divinatórios, e essas eram denominadas aves augurales. A mensagem varia de acordo com a espécie observada. Tradicionalmente, alguns dos pássaros incluíam: corvos, pica-paus, corujas, urubus, e águias. Havia uma hierarquia de importância também, com alguns pássaros representando sinais menos relevantes em relação a outros.
   Os sinais podiam ocorrer naturalmente, por vontade dos deuses (oblativa), ou podiam ser requisitados pelo sacerdote (imperativa). No caso dos avibus auspicia, os auspícios de aves, eram subdivididos em duas categorias:

Alites, do vôo. Incluíam a região do céu em que o pássaro estava (pois os sacerdotes delimitavam quadrantes no céu), altura e tipo de vôo, comportamento das aves e local onde possa ter parado para descansar.
Oscines, da voz. Incluíam o timbre, volume e direção do som. O tipo de chamado também tinha grande impacto no augúrio.

   Para a divinação imperativa, ou seja, requisitada pelos homens, primeiro se fazia a delimitação do espaço ritualístico (templum), que deveria ser quadrado e ter apenas uma entrada, e em seguida a purificação do ambiente. Depois, o augur se virava de frente para a direção Sul e fazia a enunciação de pedido de augúrio, sob rigoroso silêncio durante todo o processo.
   Há um protótipo para requisição de augúrio descrito na inauguração do rei Numa Pompilius, que dita que o sacerdote (augur) pergunta para a divindade: "Se for da justiça divina que certa coisa seja feita, mande-me um sinal", e então fala o auspicia que deseja ver, ou seja, o pássaro ou movimento que confirma a mensagem esperada. Assim que a confirmação é observada, o rei é coroado.
   Cícero também relata uma divinação por ornitomancia na história de Attius Navius, que serve como um ótimo direcionamento, ainda que simples,  para a prática da ornitomancia: "Ele havia nascido em uma família muito pobre. Um dia, perdeu um de seus porcos. Prometeu aos deuses que se o encontrasse, ofertaria a eles as maiores uvas de seu parreiral. Depois de recuperar o porco, ele ficou de pé no meio do seu vinhedo, de frente para o sul. Dividiu o céu em quatro seções e observou os pássaros: quando eles apareceram, ele andou naquela direção e encontrou uma uva extraordinariamente grande, que ofertou aos deuses. Sua história ficou imediatamente famosa, e se tornou o augur do rei. Portanto, é considerado o patrono dos augurs."
   A interpretação dos sinais era muito vasta e complexa, por vezes gerando sentimentos muito fortes nos sacerdotes quando indicavam mensagens negativas. Nesse caso, havia muitas técnicas aceitas oficialmente para evitar o augúrio, e negar a previsão. Entretanto, se tornaram fonte de manipulações e fraudes quando usadas por pessoas que desejavam alterar decisões públicas, ou que afetavam outros indivíduos. Algumas delas incluíam recomeçar do zero o processo de divinação, recusar com um gesto de mãos, evitar olhar para o auspício, alegar que pode ter havido um erro, declarar que não aconteceu, ou insinuar que os outros não prestaram atenção. Obviamente, essas técnicas devem permanecer no passado, onde nem mesmo deveriam ter existido!

Muitas informações do livro "De Divinatione", de Cicero.
Muitas informações daqui.
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A dar amor ao meu filho de penas,
   Alannyë Daeris.

Ritual de Lua Nova em Leão para Sucesso e Prosperidade

   Lua nova é período de começar planos, trazer o novo... e com o nosso querido satélite natural passando pelo signo de Leão, uma boa pedida é um ritual focado no crescimento profissional e sucesso financeiro. Afinal, estamos também próximos do Imbolc, e você já pode aproveitar essa energia de renovação para direcionar para seus objetivos.
   Na falta de alguma erva indicada abaixo, substitua conforme julgar adequado dentro do seu contexto, mas evite fazer muitas alterações nessa receita. Entretanto, você pode adaptar esse ritual para outros momentos ou situações, especialmente sob circunstâncias astronômicas similares.

Você precisará de:
• Uma vela amarela, laranja, vermelha ou branca.
• Noz moscada ralada.
• Gengibre seco.
• Canela em pó.
• Cascas de laranja.
• Cravos da índia.
• Sementes de girassol.
• Papel e caneta.
• Azeite de oliva ou óleo para prosperidade.
• Caldeirão ou recipiente que comporte fogo.
• Álcool ou cera de vela para alimentar a chama.

🕑 Horas e dias de Sol ou Júpiter.
🌒 Lua nova ou crescente.

   Separe todos os ingredientes em seu altar ou em local apropriado, certificando-se de que não será interrompido. Purifique a si próprio e ao ambiente como preferir, e trace o círculo mágico agora se for de seu costume.
   Escreva ou entalhe na vela sua intenção, e desenhe o símbolo do Sol, de Júpiter e do signo de Leão. Unte a vela no sentido da base para o pavio, visualizando seu sucesso profissional ou financeiro, e só então acenda.
   No papel, escreva sua intenção. O que você deseja? O que é sucesso profissional ou prosperidade financeira para você? Inclua sigilos, runas ou símbolos apropriados no papel. Acomode as ervas no caldeirão, e depois acrescente o papel com seus pedidos. Durante esse processo, pense no seu objetivo, mantenha o foco. Coloque o álcool ou a cera, e use a vela para atear fogo no caldeirão com muito cuidado.
   Observe a chama em silêncio contemplativo. Visualize uma cor dourada, radiante como o Sol, envolvendo todo o seu corpo, lhe preenchendo com sentimentos intensos de coragem, força, e fogo inspirador. Reconheça seu poder como indivíduo. Fale o seguinte mantra quantas vezes sentir necessidade:

"Minha vontade é forte.
Meu chamado é me expressar e iluminar.
Meu rugido é imponente e me faz prosperar."

   Está feito. Continue queimando a vela até o fim. Você pode prosseguir meditando, ou encerrar o feitiço. Despeje os restos no lixo ou no vaso sanitário.

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A ritualizar sob a Lua,
   Alannyë Daeris.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Método de Leitura Oracular de Lua Nova

   Use a energia renovadora da Lua nova para entender o que precisa ser banido e o que deve ser manifestado em sua vida de agora em diante. Nessa leitura, o consulente é colocado em posição de protagonismo, e as perguntas estão direcionadas para aproveitar ao máximo a orientação da fase lunar da germinação. Você pode repetir essa spread mensalmente, sempre que a Lua adentrar nessa fase. Esse método é parte de uma série de textos que estou publicando, voltados para o aconselhamento sob a influência lunar.
   Qualquer oráculo que permita essa configuração de 5 cartas ou runas pode ser usado. Tarot, Petit Lenormand, Runas Nórdicas, Runas da Bruxa, Cartas Xamânicas, enfim. Use sua intuição e afinidade para determinar a ferramenta de sua escolha.

O Método


1. Aterramento. Como se centrar em si próprio?
2. Abertura. Como abrir caminho para o novo?
3. Conexão. Como se conectar com seu poder nesse período?
4. Intenção. Quais intenções estão favorecidas agora?
5. Manifestação. Como manifestar seus desejos da forma mais efetiva possível?

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A encontrar respostas,
   Alannyë Daeris.

domingo, 19 de julho de 2020

Oração de Gratidão

Agradeço ao chão, pela paciência e estabilidade.
Agradeço ao ar, pela inspiração e liberdade.
Agradeço à atmosfera, pela prosperidade no mundo.
Agradeço à água, pelos sentidos e movimento.
Agradeço ao fogo, pelas fagulhas internas.
Agradeço aos astros, pela matéria prima do universo.
Agradeço à vida, pela abundância e felicidade.
Agradeço ao meu coração, por me permitir expressar em verso.
Agradeço ao meu corpo, do cabelo aos pés e pernas.
Agradeço às raízes, que me sustentam espiritualmente.
Que a gratidão me preencha mais e mais, diariamente.
Que assim seja!

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A orar aos céus,
   Alannyë Daeris.

sábado, 18 de julho de 2020

Sigilo & Feitiço de Purificação de Velas Usadas - "Cemitério de Velas"

   Se você é um praticante experiente das artes ocultas - ou se já leu o artigo que escrevi sobre o Fogo no Caldeirão -, certamente sabe que cera, parafina e restos de vela são um ótimo material para ajudar a manter chamas acesas no caldeirão por muito tempo, o que é perfeito em feitiços e rituais nos quais desejamos queimar muitas coisas, ou manter as labaredas vivas por horas.
   Porém, velas usadas são impregnadas com energias e intenções anteriores, e não é nada recomendado reutilizar esses restos sem fazer uma boa purificação antes. É aqui que entra esse sigilo que criei (veja na imagem mais abaixo), cujo qual já testei e aprovei antes de compartilhar, como todas as outras coisas. Vou continuar a explicação como se fosse um feitiço, porque de certa forma é mesmo. Eu chamei carinhosamente de Cemitério de Velas, mas entenda que não se trata de um depósito; esse feitiço é um "rio do esquecimento", no qual as velas entram "sujas" para saírem limpas e renovadas, prontas para servirem como combustível para o caldeirão.

Cemitério de Velas


Você precisará de:
• Um pote de vidro purificado, que possa ser usado para armazenar restos de vela.
• Caneta permanente (sharpie), ou papel, caneta e fita.
• Opcional: Cristal translúcido ou algum cristal para purificação/energização.

🕒 Horas e dias de Saturno.
🌘 Lua minguante.

   O processo é bem simples mesmo, e pode ser adaptado conforme seu gosto. Desenhe o sigilo ao lado no papel, e se quiser, acrescente outros símbolos que representem purificação para você. Pode ser desenhado direto na tampa, ou em um papel que você colará com a fita, desde que o sigilo fique voltado para a parte de dentro do pote.
   Depois de desenhado ou colado no interior da tampa, você precisa ativar o sigilo. Para isso, escolha um método com o qual você está familiarizado. Separei as duas sugestões abaixo, mas em ambas você deve se concentrar na intenção de fazer a ativação! 

- Use o cristal para desenhar o sigilo no ar, em frente à tampa.
- Medite olhando para o sigilo.

   Depois de ativar, você deve energizar o papel com o sigilo para que ele possa cumprir seu trabalho e fique purificando os restos de vela que serão colocados dentro do pote. Para isso, você pode usar o cristal, ou outras formas de energização, como colocar no sol (ou na chuva) algumas vezes por semana, envolver o pote em fumaça de incenso ou de smudge sticks, enfim.
   Quando você quiser encerrar o efeito, ou desfazer o cemitério de velas, basta queimar o sigilo, ou destruí-lo de alguma maneira, com a intenção de fazer o banimento.

   Caso você reproduza esse feitiço em casa, sinta-se à vontade para compartilhar nos comentários ou no Instagram como foi a experiência, e qual seu veredito sobre o Cemitério de Velas!

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A reutilizar e resignificar,
   Alannyë Daeris.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Ingredientes Mágicos: Pó de Tijolo Vermelho

   O pó de tijolo vermelho é um ingrediente bastante comum no Hoodoo e Vodou, que certamente foram responsáveis por ensinar à feitiçaria e Bruxaria contemporânea das maravilhas desse material. Porém, o uso da argila vermelha como componente mágico pode ser traçado até o Egito antigo, quando já se usava a terra vermelha para trabalhos sagrados, como está registrado no Papiro Ebers. Fato é que os tijolos possuem muitas aplicações e funcionam em diversos tipos de magia!
   Estão associados com os elementos Terra e Fogo, pois vêm da argila e passam pela queima antes de se transformarem em tijolos; e como seu propósito é o de construir casas ou estradas, possuem correspondências de proteção, segurança, banimento, quebra de feitiços. Pelos mesmos motivos, são muito usados na proteção do lar, fortalecendo espiritualmente as barreiras protetoras, e desfazendo energias prejudiciais presentes no local. A cor vermelha também está fortemente associada com proteção e ancestralidade, portanto esse ingrediente pode ser acrescentado em feitiços ou atividades com os Ancestrais, ou espíritos em geral.

Confeccionando seu Pó de Tijolo Vermelho


   Sinta-se incentivado a incrementar ou personalizar a ritualística abaixo de acordo com suas tradições.

Você precisará de:
• Máscara facial e óculos para proteção. Improvise se não tiver nada, pois é necessário se proteger da poeira, que pode causar danos ao entrar em contato com seus olhos, nariz e boca.
• Um martelo robusto.
• Meio tijolo vermelho, ou fragmentos. Purifique antes do uso!
• Almofariz e pilão.
• Recipiente de vidro com tampa para armazenar.
• Opcional: Chá de alguma erva protetora.

🕑 Dias e horas de Marte ou Saturno.
🌘 Lua minguante, nova ou cheia.

   Encontre uma superfície bem resistente, de preferência fora da sua casa pois fará sujeira. Coloque um pedaço de papelão ou papel debaixo do tijolo. Tradicionalmente, se faz uma oferenda alcoólica sobre o tijolo como agradecimento; uma oração é bem vinda nesse momento também. Caso queira intensificar o poder desse material, derrame o chá escolhido sobre o tijolo, e deixe secar bem para que absorva as energias do chá. Vista a máscara e os óculos, e bata com o martelo para repartir o tijolo em diversos fragmentos.
   Entoe orações ou mantras enquanto esmaga os pedaços de tijolo até que fiquem bem moídos. Quando estiverem em pedaços pequenos, transfira aos poucos para o almofariz. Continue se concentrando e entoando encantamentos verbais durante todo o processo, até que o tijolo seja reduzido a pó. Faça um último agradecimento e oração, e transfira para o recipiente de vidro. Está feito.

Usos Mágicos


• Após a purificação, espalhe um pouco de pó de tijolo nas janelas e na porta de entrada da sua casa, para afastar intrusos de qualquer tipo.
• Acrescente em pós, tintas ou poções para tingir de vermelho e colocar uma camada de proteção em sua receita.
• Polvilhe sobre velas untadas com óleo.
• Misture com ervas e ingredientes de proteção para fazer ingredientes e pós mágicos.
• Ao preparar banhos mágicos, coloque uma pitada para ajudar na sua proteção espiritual e reforçar suas barreiras energéticas.
• Se quiser aplicar em saquinhos mágicos, você pode deixar alguns pedaços não tão moídos guardados.
• Quando mesclado com açúcar mascavo e canela em pó, serve para atrair fortuna e prosperidade financeira.
• Coloque em um pratinho para representar o elemento Terra em seu altar.
• Dissolva em água e faca pinturas ritualísticas sobre papel ou em seu corpo mesmo.
• Use puro para desenhar mandalas ou sigilos em feitiços e atividades mágicas.
• Coloque em um pratinho para representar o elemento Terra em seu altar.
• Dissolva em água e faça pinturas ritualísticas sobre papel ou em seu corpo mesmo.
• Use puro para desenhar mandalas ou sigilos em feitiços e atividades mágicas.

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A receber os materiais que me são fornecidos pelos Deuses,
   Alannyë Daeris.

Método Oracular de Lua Minguante

   A Lua minguante pode nos ensinar muito sobre as mudanças necessárias para nossa evolução. Esse método está voltado para o aprendizado sob as influências de sabedoria da face anciã da Senhora da Noite. Você pode repetir essa spread mensalmente, sempre que a Lua adentrar nessa fase, para buscar uma nova orientação ou aconselhamento atualizado perante as situações em que você se encontra. Recomendo que esse método seja aplicado logo no começo do minguar da Lua, para que você possa aproveitar ao máximo esse conhecimento adquirido.
   Qualquer oráculo que permita essa configuração de 5 cartas ou runas demonstrada na imagem pode ser usado para a leitura. Tarot, Petit Lenormand, Runas Nórdicas, Runas da Bruxa, Cartas Xamânicas, enfim. Use sua intuição e afinidade para determinar a ferramenta de sua escolha.

1. Desprendimento. Do que preciso me desprender ou desapegar agora?
2. Banimento. Quais hábitos ou atitudes preciso banir da minha vida?
3. Purificação. Como me purificar de energias prejudiciais?
4. Preparação. Para que devo me preparar? Há algo que eu precise saber?
5. Aconselhamento. Uma orientação da Lua minguante.

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A consultar meu Astro preferido,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Óleo Mágico da Bruxa

Por Alannyë Daeris.
   Hoje queria compartilhar uma receita de óleo mágico muito especial, que uso há anos. Funciona muito bem para espiritualidade, intuição, energia lunar, clarividência, purificação, sonhos, unções e para atividades mágicas em geral. As instruções e ingredientes abaixo são uma versão simplificada da que eu costumo realizar.

Você precisará de:
• 5 gotas de óleo de lavanda.
• 5 gotas de óleo de dama-da-noite.
• 195ml (13 colheres de sopa) de azeite de oliva ou outro óleo-base vegetal de sua preferência.
• Um recipiente de vidro purificado e esterilizado, com tampa e capacidade para 250ml ou mais.
• Uma vela branca, roxa ou cinza.
• Uma ametista ou fluorita.
• Opcional: Uma lasca de ametista. Algumas drusas podem se rachar e fornecer lasquinhas.
• Opcional: Três flores de lavanda ou um pouco de artemísia.
• Opcional: Carta da Lua do Petit Lenormand ou Tarot.
• Opcional: Um pedaço de pele de cobra. Não o couro.

🕑 Horas e dias de Lua, durante a noite.
🌕 Lua cheia ou minguante.

   Reúna todos os ingredientes em um local no qual você não será interrompido, depois do cair da noite, e prepare o ambiente e a si próprio como de costume. Trace o círculo mágico agora, se quiser. Você pode convidar divindades lunares para lhe auxiliar nesse processo.
   Unte a vela com o óleo essencial de lavanda ou com o azeite de oliva, de baixo para cima. Concentre-se na Lua cheia e em seu poder pleno; se possível, visualize a Lua durante todo o ritual, do começo ao fim. Adicione o azeite de oliva no recipiente de vidro, e em seguida os óleos essenciais. Segure o recipiente próximo de sua cabeça e agite com movimentos circulares lentos em sentido horário. Pense na Lua e no seu poder enquanto mistura os componentes do óleo; caso opte por usar a carta da Lua de algum oráculo, observe o símbolo durante esse processo de mesclar os ingredientes. Consagre a lasca de quartzo, as flores de lavanda e a pele de cobra, caso opte por acrescentá-los, e ponha dentro do vidro.
   Para consagrar o óleo, coloque suas mãos em torno da chama da vela, visualizando a Lua em miniatura na sua frente, no lugar da vela. Absorva a energia lunar através de suas palmas, até que se sinta bem carregado. Agora, é só direcionar para o seu óleo, visualizando que suas palmas emanam uma energia prateada cintilante que envolve todo o recipiente.
   Tampe bem o vidro e leve para algum local no qual ele possa se banhar na luz da Lua por pelo menos 3 horas. Você deve colocar a ametista ou a fluorita sobre a tampa ou em volta do recipiente para que auxiliem na energização. Está feito. A vela pode ser deixada ao lado do óleo para queimar até o fim, ou reutilizada em outras atividades que envolvam o óleo mágico. Evite expor o óleo mágico ao sol, e armazene em locais escuros. Não se esqueça de rotular o vidro.

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A praticar magia lunar,
   Alannyë Daeris.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Lua Vazia, ou Lua Fora de Curso

Fonte: Unsplash. Editada pela autora.
   Você certamente conhece as fases da Lua e suas influências na espiritualidade... Mas e a Lua fora de curso?

   A Lua vazia, ou Lua fora de curso, não é uma fase propriamente dita, e sim a transição dela entre um signo e outro. Se inicia na hora em que a Lua forma seu último aspecto com algum planeta antes de deixar o signo em que está, até a hora de entrada no próximo signo. É como se o nosso satélite natural estivesse, simbolicamente, em repouso, tornando dificultoso o acesso à sua energia e ao seu conhecimento instintivo. Suas bênçãos são temporariamente suspensas, por assim dizer.
   A principal característica desse momento de transição lunar é a imprevisibilidade. Os eventos que se desenrolam sob a influência da Lua vazia não saem como o esperado, e há a impressão de que tudo e todos parecem estar meio "fora do ar". Desvios, imprevistos e complicações se manifestam muito mais, e com maior intensidade na Lua fora de curso. Evite tomar decisões, adie eventos importantes, remarque consultas ou serviços. O melhor a se fazer é contornar como puder, para não ser muito afetado pelas incertezas dessa fase. Felizmente, esse é um período que dura apenas algumas horas, e muitas vezes passa até despercebido. Aproveite para relaxar, e dar continuidade a sua rotina de maneira mais despreocupada, já se preparando para possíveis contratempos.
   Para identificar quando a Lua está vazia, existem várias tabelas disponíveis na internet, atualizadas de acordo com o ano. Basta salvar e conferir com certa frequência para não ser pego desprevenido; para quem gosta de se programar e segue uma rotina definida, essa é uma tarefa mais fácil. Por fim, você pode acompanhar astrólogos de confiança nas redes sociais, e muitas vezes receberá essas informações em sua linha do tempo caso esteja antenado.

A Lua Vazia na Magia


   Esse é um momento para evitar atividades em geral, principalmente práticas mágicas, independentemente da intenção. A Lua vazia é infrutífera, estéril, e os feitiços ou rituais feitos sob sua influência tendem a não se manifestar, ou seja, a grande chance é que não dêem resultados, ou pior, podem dar resultados muito diferentes e até prejudiciais. O ideal é aguardar até que ela passe, para só então dar continuidade às suas práticas mágicas. É um momento muito inadequado para atração ou criação, portanto, evite.
   Uma atividade espiritual que eu recomendo nesse período é a prática de meditação. Pode ser que você se sinta menos disposto ou conectado consigo mesmo, mas a meditação ajuda muito a encontrar a harmonia em momentos complicados como esse, e vai lhe ajudar a passar por essa fase com mais tranquilidade.

   Tendo dito isso, existem alguns tipos de feitiços que são favorecidos pela Lua fora de curso. No entanto, fica o aviso de que devem ser realizados por pessoas com uma certa experiência com o Ocultismo. Os principais são:

• Invisibilidade;
• Ocultamento;
• Transmutação;
• Congelamento.

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A consultar tabelas,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Mitos de Criação Keméticos - Mêmphis

Fonte. Editada pela autora.
   Essa versão do mito está centrada no deus Ptah, patrono dos artesãos, que era muito cultuado na região de Mêmphis, ou Mennefer como era chamada pelos egípcios na antiguidade. Esse deus representava tanto a capacidade de um artesão de visualizar o produto final, como o potencial de moldar os materiais para que se tornem uma peça de qualidade. Portanto, a cosmogonia memphita ditava que Ptah criou o mundo de uma forma similar, e essa teoria está voltada para uma criação espiritual e depois intelectual do mundo, facilitada através do coração (pensamento) e a língua (fala/palavra) divina.
Fonte.
   Um fato interessante é que o mito de Mêmphis sobre a criação está escrito em uma placa retangular de granito preto, denominada Pedra de Shabaka, vide imagem ao lado, medindo 0.66x1.37m. O Faraó Shabaka a inscreveu e ordenou que fosse colocada no Templo de Ptah em Mêmphis, entre 716 e 702 a.C. Na introdução do mito, está explicado que o Faraó gravou a história em pedra pois a original havia sido destruída por vermes (pois provavelmente era papiro ou couro). Sabemos que as primeiras versões dessa lenda vem do fim da dinastia de Ramsés, ainda que Ptah como deus-criador já fosse um conceito antiquado no Império Velho. Atualmente, a placa está no Museu Britânico, em Londres.
   Tendo coexistido com as outras versões de cosmogonia egípcia, essa história é considerada bastante afim com as lendas que já foram apresentadas aqui, e sincroniza muito bem com o mito de Heliopolis, pois de acordo com o que está registrado na Pedra de Shabaka, Ptah é responsável por toda a existência, que a partir daí se torna uma atividade física e concreta realizada por Atum.

   Segundo a história, no princípio, havia Ptah, que criou a si próprio. As ideias começaram a se formar no coração do deus artesão, que é tido na cultura kémetica como a origem do pensamento humano. Essas ideias foram tomando forma conforme Ptah as nomeava. Ao falar seus nomes, foram criados os deuses (da Ogdoad) e todas as outras coisas que existem no universo. Ptah providenciou cidades e receptáculos de elementos naturais, como madeira, argila e pedras para o espírito do poder divino (ka) desses deuses, e já providenciou também os sacrifícios que seriam feitos para eles, ao criar também a natureza e tudo que há no mundo.
    Havia uma divindade memphita bastante antiga, Tatanen, que representa o monte primordial (benben). Seu nome significa literalmente "terra ascensa" ou "terra exaltada". É uma divindade andrógina, identificada com a criação, protetora da natureza e da cidade de Mêmphis. No Império Velho, esse deus foi combinado com Ptah, formando Ptah-Tatanen, reverenciado por seu potencial criador e visto nesse local como o pai da Ogdoad de Hermopolis.

Algumas informações daqui.
Algumas informações daqui e muitas outras bem interessantes.

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A admirar a Criação,
   Alannyë Daeris.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Água da Chuva e de Tempestade

Imagem: Unsplash. Editada pela autora.
   A natureza nos fornece tantas ferramentas incríveis, e muitas delas acabam esquecidas em nossas práticas rotineiras. É o caso desses dois ingredientes tão simples (e gratuitos!) de coletar, mas que podem ser aplicados em uma infinidade de feitiços e rituais! Há quem as confunda e ache que são a mesma coisa, mas a água da chuva e a água da tempestade possuem correspondências e finalidades bem diferentes.
   Como estamos no período de chuvas - pelo menos aqui no sul do país -, esse é o melhor momento para preparar a coleta das suas águas, e se certificar de que você terá o suficiente em seu estoque até o próximo inverno! Afinal, água não estraga...

Água da Chuva


   A água da chuva é a melhor e mais acessível alternativa quando há necessidade de água coletada de fontes naturais para alguma atividade mágica. Afinal, nem todo mundo possui uma nascente ou um açude no quintal dos fundos. Toda água da chuva está naturalmente consagrada e energizada, portanto, pode ser considerada uma "água benta" natural.
   O ideal é que a água da chuva seja coletada em um recipiente de vidro ou cerâmica bem largo, e depois, seja armazenada em garrafas também de vidro (pois o plástico interage com líquidos, soltando lentamente seus componentes tóxicos na água). Uma informação muito importante é que você não deve consumir essa água, nem após ferver ou filtrar. Ela contém muitas impurezas e substâncias devido à poluição, que podem permanecer mesmo após um destilamento adequado.

Propriedades: Limpeza, purificação, bênção, consagração, energização, crescimento, renascimento.

Água de Tempestade


   Já a água de tempestade, é aquela coletada durante uma chuva forte, com incidência de raios e trovões. Esses fenômenos poderosos fornecem sua energia elemental intensa e todas as suas correspondências para as gotículas que caem do céu.
   As propriedades normais da água da chuva, citadas acima, estão somadas com as outras propriedades citadas abaixo. Porém, como é bem mais difícil conseguir água de tempestade do que água de chuva normal, recomendo que use somente para os fins específicos desse ingrediente.

Propriedades: Intensificação e potencialização de feitiços, motivação, energia, força física ou emocional, divinação, coragem, mudanças, poder, expressão, proteção, lançar ou desfazer maldições.


Sugestões de usos

 
   As sugestões abaixo servem tanto para a água de chuva quanto para a água de tempestade. Inspire-se, pois há incontáveis outras formas de utilizar esses ingredientes maravilhosos.

• Purificar objetos, cristais e instrumentos.
• Preparar banhos mágicos.
• Lavar as mãos antes de atividades mágicas.
• Ofertar a entidades ou divindades.
• Praticar scrying.
• Abençoar ou consagrar pessoas e objetos.
• Untar seus chakras para estimulá-los.
• Limpar ambientes, misturando na água do balde com os produtos de limpeza.
• Lavar suas roupas ritualísticas.
• Escaldar os pés.
• Preparar tintas mágicas.
• Feitiços e rituais em geral.

• ☾ •

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A deixar que a chuva lave e leve,
   Alannyë Daeris.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Oração aos Ancestrais

Minha celebração pessoal aos Akhu.
Ó Ancestrais,
Venham em paz!
Saberes primordiais,
Intercedo a vós!
Recebam a luz
Que ilumina os Astrais.
Ó Iluminados do após,
Transcendem os véus
Entendimento se induz...
Sentir a verdade visceral,
Em energias se traduz.
Nunca estou a sós!
Amor essencial, pelo qual
Agradeço aos céus
E aos Deuses.
Partam em paz,
Agradeço feliz.

   Pode ser usado na abertura e no encerramento de uma atividade com os Ancestrais, como uma invocação; basta dividi-lo após o verso "Em energias se traduz", e falar os últimos 6 versos no fim do ritual, ao se despedir.
   Oração que criei sob a influência do meu rito de Eclipse Lunar (05/07) em honra aos Akhu, na presença de Yinepu e Djehuty.

A honrar os Luminosos,
   Alannyë Daeris.

sábado, 4 de julho de 2020

Três Métodos de Leituras Oraculares Astronômicas • Lua Cheia + Eclipse Lunar + Lua em Capricórnio

Fonte: Shutterstock. Editada pela autora.
   Na virada de hoje para amanhã acontece um evento astronômico interessante para quem pratica divinação e gosta de métodos específicos para entender as influências atuais dos astros no cotidiano - o eclipse lunar, somado a uma Lua cheia em Capricórnio. Se você se interessa pela vertente da Bruxaria Cósmica, saiba que consultar oráculos para essas finalidades sempre rende uma conexão com o cosmos e pode ajudar muito na jornada pelo autoconhecimento!
   Os três métodos oraculares apresentados aqui, como sempre, podem ser realizados com qualquer técnica divinatória cuja configuração permita. Por exemplo, Tarot, Petit Lenormand (Baralho Cigano), Runas Nórdicas, Runas da Bruxa, e oráculos de cartas ou runas em geral. Escolha aquele que sua intuição apontar.
   Se quiser, você pode combinar todas eles, consultando em sequência. Mas não é obrigatório, e podem ser feitos separadamente e em outras situações similares também, quando os astros estiverem de acordo com o evento astronômico do método escolhido.

Spread de Lua Cheia


   Essa é uma tirada bem simples e rápida, mas que pode fornecer perspectivas interessantes sobre o
período da fase mais plena da Lua. Pode ser feita em qualquer dia do mês que esteja sob essa fase.


1. Auto-percepção. Sua noção de si próprio(a), e como ser mais realista consigo mesmo(a).
2. Qualidades. Seus pontos fortes, coisas que você deve valorizar ou aperfeiçoar.
3. Troca. O que você tem para dar aos outros, como é sua interação nos seus relacionamentos, e como melhorar isso.
4. Realização. O que te preenche, inspira, motiva, e como rumar em direção a uma vida de satisfação.
5. Potencial. Suas habilidades ou planos que se escondem ou são bloqueados por alguma coisa.

Spread de Eclipse Lunar


   Para complementar o entendimento sobre a fase da lua que estamos, você pode encerrar com esse método de três cartas, voltadas para o eclipse lunar que estará acontecendo dia 5 (domingo). Você pode realizar esse método oracular em até 3 dias depois do eclipse, mas quanto antes melhor.


1. Verdade. Que verdade será revelada para mim?
2. Mudança. O que precisa ser mudado no meu jeito de agir, ou no meu pensamento?
3. Foco. Para onde será de bom uso direcionar meu foco?
4. Clareza. Como obter clareza mental, e ser mais realista?

Spread de Lua em Capricórnio


   Para ser realizado preferencialmente sob a Lua cheia nesse signo, mas pode ser feito em outras oportunidades sob a influência de Capricórnio. O formato desse método foi inspirado na constelação, por isso a adaptação é possível.


1. Ambição. Como posso expandir meus objetivos?
2. Conquista. O que já alcancei até agora? Qual sucesso recente devo valorizar?
3. Realidade. Que realidade preciso enfrentar ou perceber? Como lidar com os imprevistos?
4. Restrição. O que me impede? Como retirar os obstáculos?

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A buscar orientação astral,
   Alannyë Daeris.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Meditação de Ra para Criatividade e Inspiração

Fonte, créditos na imagem. Editada pela autora. Baixo-relevo de Ra-Horakhty (Horus Ra).
   Essa meditação fluiu naturalmente para mim ontem à noite, após um ritual de prosperidade. Foi bem inspirada no mitos de criação keméticos. Tudo indica que o nome de Ra significa algo como "princípio criativo", e portanto, essa meditação tem como finalidade lhe inspirar e ajudar a usar sua criatividade na sua vida, em quaisquer áreas de sua escolha.
   Ela pode ser realizada com outras divindades solares keméticas ou seus sincretismos, como Atum, Atum-Ra, Ra-Horakhty, Ra-Khepri, Heru-Wer ou Heru, dependendo da sua preferência ou contexto. O início pode ser um pouco fora do comum, e talvez seja desafiante para quem não dispõe de tanta experiência com meditações guiadas, mas asseguro que foi muito interessante na prática!
   Vá para algum local de sua preferência, no qual você não será interrompido, e fique confortável - essa meditação favorece que você esteja deitado, mas não é obrigatório. Caso opte por colocar sons ou músicas de fundo, eu recomendo fortemente que sejam sons de água (nada muito agitado), para ambientar melhor a experiência nesse caso. Se quiser, acenda uma vela amarela, vermelha ou branca. Da mesma forma, você pode ofertar um incenso ou aroma.
   Convide a divindade solar de sua escolha, ou deixe em aberto para que se manifeste naturalmente. Trace o círculo mágico agora, se for de seu costume.

   Respire fundo e feche os olhos. Desconcentre-se do mundo externo. Você anda por um túnel escuro, silencioso. Conforme vai entrando no estado meditativo, sua vontade de seguir caminhando diminui, até que você se sinta acolhido em posição fetal. Você começa a tomar consciência de que está dentro de um ovo, flutuando no líquido amniótico que lhe fornece nutrição.
   O aconchego é uma sensação muito forte aqui - pense em todas as possibilidades inerentes em você! Reflita sobre seus planos, projetos... como está seu potencial criador ultimamente? Esse é o momento de pensar em coisas que você gostaria de fazer, nas coisas que precisa dar mais atenção. Deixe a mente livre para que surjam ideias, se manifestem naturalmente a partir da inspiração meditativa.
   Pode ser que essa inspiração tenha uma voz, e fale com você. Se isso acontecer, lide naturalmente, deixe fluir, pois é a divindade escolhida interagindo.
   Um ímpeto começará a surgir, de mansinho, mas cuja urgência vai aumentando aos poucos. É momento de nascer para o mundo, e levar consigo todas as ideias para o plano material. Quebre a casca que lhe protege e aprisiona, e mostre ao universo sua luz. Você é Ra (ou a divindade solar escolhida), o próprio Sol! Olhe para seus braços e pernas - quais características eles tem? É provável que você esteja com uma aparência diferente da sua normal, se parecendo com o próprio Deus-Sol; preste atenção nos detalhes.
   Veja ao seu redor: não há nada no universo ainda, apenas o monte de terra sobre o qual você está, e a água primordial, se estendendo eternamente no infinito. O nascimento da luz é a primeira parte apenas. É hora de tornar as ideias concretas, e criar o mundo.
   Não precisa de muito, basta que você visualize as coisas tomando forma, projetando-as em sua frente, e perceberá que se constroem naturalmente. Todo movimento ou ato seu pode gerar coisas incríveis! Veja suas mãos imbuídas em brilho, nas chamas da mais pura vontade. Talvez você seja guiado pela divindade, pois nesse momento, vocês são uma única pessoa. Aqui, esteja livre para demorar quanto tempo julgar necessário, permanecendo na fase criadora até se sentir satisfeito.
   Depois de ter colocado suas ideias em prática, contemple o que fez. Perceba como sua luz é fonte de inspiração para outras pessoas, e pode gerar afeto, orientação, calor. Todos somos parte da criação, e portanto, carregamos uma fagulha divina em nossos corações. Acesse essa fonte de brilho que é só sua, e flua em sintonia com ela.
   Converse com Ra (ou a divindade escolhida), pois agora você assumirá sua própria aparência, e o verá em sua frente, banhado em um brilho dourado, tal como você. Ele falará com você, e lhe entregará um objeto. Deixe que a interação aconteça de forma espontânea, reflita ou pergunte a ele o que significa esse objeto que lhe foi dado. Ouça as últimas palavras do Deus-Sol, e seja guiado para a Terra, que está flutuando no espaço logo a sua frente. Sua consciência viaja para dentro do planeta até que chega na sua casa, no lugar onde você estava meditando. Agora é só abrir os olhos, e está feito!

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A fluir com a criatividade,
   Alannyë Daeris.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Mitos de Criação Keméticos - Heliópolis (Enéada)

Cena do Livro dos Mortos na Tumba de Ay (WV23), com uma versão diferente da Enéada tradicional. Em ordem: Néftis fora da barca solar, Ra-Horakhty, Atum, Shu, Tefnut, Geb, Nut, Osíris, Isis, Hórus. Fonte, editada pela autora.
   O mito da cidade de Heliopolis, cujo nome em egípcio é Awanu, é certamente o mais difundido na cultura popular atualmente. Há alguns elementos em comum com o mito de Hermopolis, mas aqui, outro grupo de divindades está em voga: a Enéada (Pesedjet), e o deus Atum, que também está presente na versão de Hermopolis, mas aqui tem uma posição de grande importância. Essa história se concentra no deus-sol e seus divinos descendentes, resultando em uma dinâmica mais focada na criação em si do que nos aspectos da pré-existência.
    A forma do deus-sol representada aqui geralmente é Atum - por vezes Atum-Ra ou Atum-Khepri -, que já existia nas águas primordiais de Nun, em algumas vezes citado como estando dentro de seu ovo. No momento da criação, Atum nasce das águas, formando o monte primordial (benben) como "aquele que surgiu por si próprio", se tornando a fonte de toda a criação subsequente.
   Em seguida, Atum gera dois filhos a partir de si próprio, Shu (Ar) e Tefnut (Umidade). Como ele faz isso também varia de acordo com a versão, mas em todas, esses filhos são produzidos através dos fluidos corporais de Atum - seja através da metáfora da masturbação, espirrando ou cuspindo. A masturbação, citada no Enunciado 527 dos Textos das Pirâmides, é geralmente mais aceita, e nesse aspecto, a mão de Atum representa o princípio criador feminino, e é personificada na deusa Nebethetepet.
   Por sua vez, o primeiro casal gera seus próprios filhos, Geb (Terra) e Nut (Céu). Eles se posicionaram no universo em seus lugares, respectivamente abaixo e acima de seus pais, criando a extensão espacial do mundo e os limites da Terra. Então, Geb e Nut geram as outras divindades da Enéada: Osíris (Wesir - Fertilidade) e Isis (Aset - Maternidade), Set (Deserto) e Néftis (Nebet Het - Funerais), que representavam a terra fértil do Egito e o deserto que o cerca, bem como os processos pelos quais a vida se torna possível. Com frequência, Hórus (Heru - Realeza) é acrescentado nesse grupo, formando a conexão entre a criação e a estrutura da sociedade.
   No entanto, na maioria das vezes, todas essas divindades geradas a partir de Atum são consideradas apenas extensões ou faces do princípio divino criador original, visto como Pai de Todos, Regente dos Deuses. De fato, tudo o que há no mundo podia ser considerado apenas um reflexo do poder de Atum.

• ☾ •

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Fiz essa árvore genealógica bem simples para ilustrar as
relações da Enéada. Anúbis não é parte da Enéada, por isso
seu nome está em azul :)
Gods and men in Egypt, por Françoise Dunand.
Genesis in Egypt: The Philosophy of Ancient Egyptian Creation Accounts, por James Peter Allen.
Egyptian Mythology, por Simon Goodenough.
The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt, por Richard H. Wilkinson.
Handbook Egyptian Mythology, por Geraldine Pinch.

A buscar e buscar,
Alannyë Daeris.  

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Mitos de Criação Keméticos - Hermopolis (Ogdoad)

Teto do Pronaos do Templo de Hathor, em Dendera. Da esquerda para a direita: duas representações do vento sul; os oito deuses da Ogdoad; três Almas de Nekhem; Hórus, Néftis, Osíris e Isis, Ma'at, todos na barca; abaixo da barca, estão as quatro direções cardeais; por fim, três Almas de Pe.
Fonte, editada pela autora.
   Esse mito de criação está focado na natureza do universo antes da criação do mundo e da matéria, e é provavelmente o mito mais antigo de todos, pois na época do Império Velho já era considerado um mito antigo e lembrado apenas por poucos eruditos. Nessa lenda, há um aprofundamento do conceito das águas primordiais que haviam antes de tudo, através da Ogdoad.
   A Ogdoad é como se chama o conjunto de oito deuses primordiais que existiam antes da criação, e personificam as qualidades das águas primordiais. É frequentemente mencionada nos Textos dos Sarcófagos do Império Médio; no Império Novo, esse grupo de deuses parece ter sido redescoberto pelos teólogos de Hermopolis, que deram profundidade a esse mito que remonta ao princípio da civilização kemética. Uma informação interessante é que o nome de Hermopolis na língua kemética era "Khmunu", que significa "A Cidade dos Oito".
   Para entender melhor esse mito, precisamos primeiro conhecer as divindades da Ogdoad. São quatro casais de deuses, e cada casal representa um aspecto, denotando a dualidade inerente a tudo. O números 4 e 8 possuíam fortes simbologias dentro da cultura egípcia, pois simbolizam, respectivamente, totalidade e completude. As divindades masculinas apresentam cabeça de sapo, e as femininas, cabeça de cobra, pois são criaturas aquáticas (sim, cobras nadam, e muito bem!). Os casais são, sendo apresentados na ordem de masculino e feminino:
Acima: Hehut e Huh; Amen e Amunet; Ptah.
Abaixo: Keket e Kek, Nun e Nunet; Thoth.
Fonte.

Nun e Nunet - representam a própria água primordial.
Huh e Hehut - representam a extensão infinita da água primordial, a infinitude do universo.
Kek e Keket - representam a escuridão.
Amun e Amunet - representam a natureza desconhecida e incompreensível do universo; por vezes, representam o ar.

   Se considerarmos as iniciais dos casais acima, você perceberá que podemos criar a palavra "ankh", que significa "vida" em kemético. Entretanto, essas divindades variam de acordo com a fonte e o momento histórico analisado. Por vezes, a escuridão é representada por outro casal: Gereh e Gerehet - nesse caso, Heh e Hahet são vistos como forças do caos, que personificam correntes aquáticas. Quando o deus Amun ganhou importância como uma divindade criadora por si só, ele e sua consorte Amunet foram substituídos por Nia e Niat, que representam o vazio.

O Mito de Khmunu


   O mito em si é bastante simples. As oito divindades da Ogdoad interagiram entre si, unindo todos princípios femininos e masculinos - primeiro os princípios iguais, depois os diferentes. Isso quebrou as tensões que mantinham o equilíbrio entre os elementos que formavam o pré-universo. O resultado disso foi uma enorme explosão, e a grande quantidade de energia liberada fez com que o benben, ou monte primordial, emergisse das águas. A partir daqui, a história se divide, pois há diferentes versões do que acontece a seguir.

1. O Sol nasce no monte primordial, conhecido como Ilha das Chamas (Iu-Neserser), na forma do deus Ra, que por sua vez cria o mundo. A Ilha recebe esse nome pois é o local de surgimento do primeiro nascer do Sol.
2. Um ganso celestial, chamado Gengen Wer, pôs um ovo sobre o benben. Dentro desse ovo estava Ra, o pássaro da luz, que ao nascer, criou o mundo.
3. Igual ao acima, porém o pássaro em questão foi uma íbis (que é sagrado a Thoth, por vezes considerado como sendo o próprio Thoth).
4. Uma flor de lótus (personificado como o deus Nefertem) flutua para a superfície das águas primordiais, e quando suas pétalas se abrem, revelam o Sol na forma de Ra.
5. Igual ao acima, mas Ra está na forma de escaravelho sagrado (Khepri).

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Algumas informações daqui.
Egyptian Mythology por Don Nardo.
Egyptian Mythology por Simon Goodenough.
The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt por Richard H. Wilkinson.
Handbook Egyptian Mythology por Geraldine Pinch.

A venerar Sapos e Cobras,
   Alannyë Daeris.