segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Resenha: Myth and Symbol in Ancient Egypt, de R. T. Rundle Clark

   Sinopse (na língua original): This classic study remains the best single introduction to the Egyptian mythological world. The Egyptians lived apart from the rest of the ancient world and it is this isolation that makes their ideas so difficult to appreciate and interpret. Egyptian though was presented in terms of mythology: myth was used to convey insights into the workings of nature and the ultimately indescribable realities of the soul.

Ficha Técnica


   Autor: Robert Thomas Rundle Clark
   Ano: 1959
   Editora: Thames and Hudson
   Páginas: 292

   Essa é uma das leituras recomendadas pela Kemetic Orthodoxy (Ortodoxia Kemética) e configura uma verdadeira jornada pela mitologia e simbologia egípcia, detalhando-a do início ao fim. Dividido em capítulos que elucidam a natureza das divindades, suas relações entre si por meio dos mitos, e o pensamento egípcio por trás desses conceitos, Myth and Symbol in Ancient Egypt é um livro obrigatório para se aprofundar nos mistérios do Nilo.
   É uma obra instigante e encantadora, não somente pelos temas que aborda de forma exímia, mas também por elucidar as transformações ocorridas no entendimento egípcio acerca de divindades e aspectos mitológicos, apresentando e aprofundando os principais mitos keméticos e as personagens divinas que os compõem. Uma fonte de estudos e pesquisas valiosíssima, pois ilustra visual e textualmente os assuntos abordados em cada capítulo - incluindo passagens que são extraídas de livros keméticos importantísimos, como os Textos das Pirâmides e Livro dos Mortos -, com trechos que são descritos em detalhes pelo autor, trazendo diferentes perspectivas sobre os conceitos-chaves neles contidos.
   Myth and Symbol conta com 18 fotogravuras em preto e branco, 40 desenhos de cenas em traços vazados, uma tabela com símbolos religiosos, e um mapa dos centros de culto na terra das Pirâmides. Seus capítulos passam por uma tabela cronológica do Egito, os Deuses e o esquema mitológico, os conceitos de divino ao longo da história, mitos sobre as principais divindades e alguns símbolos importantes dentro da religiosidade kemética.
   Como uma introdução ou contextualização do panorama religioso do Antigo Egito, serve perfeitamente ao seu propósito. Pode ser considerada uma obra tanto datada devido à sua idade, com nomes de divindades que caíram em desuso (Ma'at como "Mayet"), e algumas afirmações que hoje são compreendidas de forma diferente - como ocorre com a própria não-linearidade do pensamento mito-religioso egípcio -, mas isso não é um impedimento para sua apreciação, pois a grande parcela das informações que compartilha seguem válidas e consistentes na Egiptologia ainda hoje, e é baixa a margem de obsolescência do seu conteúdo.

A corujar com adoração as Aves do Céu,
   Alannyë Daeris

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Pó Mágico para Proteção e Banimento

   Como uma grande parte dos feitiços que realizo e ensino por aqui, em especial os que possuem finalidade de banimento e proteção, esse me foi transmitido por Anúbis, durante meu sono. É um pó de confecção extremamente simples, com ingredientes de fácil acesso e que qualquer pessoa possui em casa. Além disso, tem uma imensa gama de possibilidades de uso, sendo um item altamente versátil para atividades mágicas. Apesar de levar sal em sua composição, eu categorizo esse ingrediente arcano como um pó mágico, e não um sal mágico, pois a base da confecção dele não é salina. Para maiores informações sobre pós e sais mágicos, leia esse texto.
   A atuação mágica desse pó se concentra em banir influências nocivas, afastar energias e pessoas indesejáveis, e proteger contra perigos físicos e espirituais. Ele pode ser incrementado de diversas maneiras: energizando com ajuda de cristais de proteção (turmalina negra, ônix, obsidiana, granada, olho de tigre, etc), acrescentando outras ervas de sua escolha para esses propósitos, pó de tijolo ou cascas de ovo moídas, ou escrevendo petições/sigilos em papel e queimando para adicionar no pó.
   Já os usos para o pó mágico são diversos, e variam entre espalhá-lo ao redor da casa, no batente das janelas e portas, no jardim ou nos limites da residência, salpicado dentro do seu veículo (debaixo do tapete do carro ou no baú da moto), uma pitada nos bolsos de roupas, dentro de bolsas ou carteiras, debaixo da palmilha dos seus sapatos ao sair de casa, ou ainda, disposto em um pires ou castiçal com uma vela preta acesa no meio, e somado em saquinhos mágicos e feitiços em geral com propósitos de proteção e banimento.

Você precisará de:
• Café em pó
• Pimenta preta ou branca em pó
• Sal grosso ou refinado
• Farinha de trigo
• Cinzas de incenso - se possível, de incensos naturais de ervas
• Um punhado de arruda e/ou louro (em pó, macerado ou bem picotado)
• Um recipiente de vidro higienizado para armazenar
• Opcional: Carvão ou raspas de caldeirão
• Opcional: Pó de tijolo vermelho e/ou cascas de ovo moídas

🕒 Horas e dias de Saturno ou Marte.
🌕 Lua minguante ou cheia.

   Reúna todos os ingredientes em seu altar ou espaço apropriado, e concentre-se. Purifique o recipiente de vidro com um método de sua preferência, e comece a acrescentar os ingredientes. As quantias são arbitrárias pois não existe uma proporção mais adequada, mas sugiro que a base do pó seja a farinha e o café em partes iguais, e depois os outros ingredientes em uma menor escala. Referente à pimenta, a cinza de incenso e os opcionais, uma ou duas colheres cheias de sopa bastam.
   Vá adicionando e mentalizando sua intenção para esse pó mágico. Você pode visualizar uma energia escura envolvendo o recipiente, trazendo as energias de defesa e expurgo de negatividade. Caso você deseje energizar com algum cristal, feche a tampa e coloque a pedra sobre ela, intencionando essa energização. Para consagrar, abra a tampa, "bafore" três vezes (solte o ar quente dos seus pulmões - não sopre, apenas deixe o hálito sair da boca) dentro do pó enquanto fala o encantamento entre baforadas:

"Pó de proteção, pó de banimento, pó de proteção
(uma baforada)
Consagro e ativo sua força com o ar do meu pulmão
(uma baforada)
Me defenda, me proteja, e afaste de mim todo o mal
(uma baforada)
Elimine o que me ameaça, seja ou não intencional"

   Está feito. Se possível, rotule com o propósito e a data de fabricação. O pó mágico pode ser usado imediatamente, ou se ainda desejar dar a ele um toque final, enterre por três dias antes do uso, ou energize na luz da lua minguante.

A amolar as facas do Senhor das Lâminas,
   Alannyë Daeris

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Feitiço 95 do Livro dos Mortos - Para estar na presença de Thoth

   O Livro dos Mortos (no inglês, Book of the Dead, ou em tradução mais aproximada do título egípcio original r(ꜣ)w n(y)w prt m hrw(w), "Book of Coming Forth by Day") é uma coletânea de textos funerários geralmente inscritos em papiros, que abrange um período entre 1550 b.C e 50 b.C, ou seja, desde o início do Novo Império até o Período Romano. Tais textos mortuários possuem uma característica mágico-religiosa, servindo para guiar e auxiliar uma jornada segura no submundo, garantindo a chegada do falecido no julgamento de sua alma, e o subsequente renascimento para a vida eterna.
   Apesar de ser popularmente referido como um livro, não há um cânone ou seleção específica de textos que compunham o Livro dos Mortos, pois os feitiços (spells) e ilustrações (vignettes) escolhidos variam bastante nos exemplares conhecidos. Sendo assim, o trabalho de enumerar e organizar os textos recaiu sobre os pesquisadores da modernidade, não devendo ser levado ao pé da letra como uma ordem fixa e rígida dos feitiços, que pareciam ser escolhidos a dedo pelos egípcios que requisitavam sua produção aos escribas, conforme as percepções pessoais de quais seriam os encantamentos mais úteis na jornada que realizariam pelo pós-vida.
   Nesse texto, além de uma brevíssima introdução sobre o Livro dos Mortos, me proponho a traduzir e apresentar um dos encantamentos que mais me cativa dentre a numerosa seleção de textos dessa coletânea: um feitiço com a finalidade de estar na presença de Thoth. Uma parte fundamental das práticas mágico-religiosas egípcias (ou Heka) consiste nos encantamentos, ou seja, o poder da fala. É o caso do spell 95, composto por um encantamento e uma vignette ilustrativa do falecido, efetuando a magia. Importante notar que nos feitiços funerários, o operador da magia é equiparado a Osíris, fazendo alusão direta ao processo mitológico de vida, morte e renascimento desse Deus.

Vignette do Spell 95 do Livro dos Mortos de
Ramose. Datado entre os séculos 14-13 a.C. Fonte.

Feitiço para estar na presença de Thoth


Palavras ditas por Wesir (Osíris), supervisor dos arquivistas do Senhor das Duas Terras, (seu nome/nome do falecido), Justificado(a).

Ele diz: "Eu sou o terror na tempestade e o guardião da grande cobra em guerra. Eu ataquei com a faca e cinzas esfriam os oponentes para mim. Eu agi em defesa da grande cobra em batalha. Eu fortaleci a faca afiada em posse daquela afiada que está na mão de Khepri na tempestade. Eu sou o Osíris, supervisor dos arquivistas do Senhor das Duas Terras, (seu nome/nome do falecido), Justificado, em paz."

Notas complementares:

• Nos espaços entre parênteses, estava inserido o nome de Ramose, o dono desse exemplar do Livro dos Mortos. Sendo assim, deve ser substituído pelo nome do operador da magia, identificando-o como Osíris, o Justificado.
• Apesar de configurar como um feitiço funerário, é possível adaptar o feitiço para outras práticas mágico-religiosas que visem conexão com Thoth - seja por meio de invocação ou evocação.
• Pela observação da vignette que acompanha o texto, é sugerível que oferendas sejam efetuadas junto ao feitiço, como de costume em atividades devocionais. Além da evidente oferenda de uma flor de lótus-azul (Nymphaea nouchali var. caerulea) por Ramose, há um recipiente para líquidos possivelmente contendo cerveja ou água, e um item branco que se assemelha a um pão ou algum tipo de comida.

A colher lótus para o Benfeitor Universal,
   Alannyë Daeris