A crença e uso de Oráculos se comprova por meio de decretos oraculares gravados nas paredes de templos, e em papiros que eram então usados como amuletos pelos receptores da mensagem divina, armazenados em pequenos recipientes. Também existem petições originais que foram entregues aos Deuses em papiros ou ostracas - fragmentos de barro usados para escrever -, somadas a referências a orientações oraculares em documentos administrativos e privados, e estátuas e relevos relacionados a divinação.
As questões formuladas tinham o padrão de resposta "sim" ou "não", e podiam envolver a previsão de eventos, confirmação de dúvidas ou informações sobre o passado e o presente, atestar identidade de indivíduos que estejam sob suspeita de algo, escolhas, decisões, e outras perguntas que pudessem ser estruturadas para obter uma resposta afirmativa ou negativa. Algumas das divindades relacionadas com oráculos são Heru-Khau em el-Hiba, Seth em Dakhla, Aset (Isis) em Koptos, Ahmose em Abydos, Amun em Karnak, Het-Heru (Hathor) em Edfu, Sobek e Aset em Faiyum, dentre outros. Alguns faraós também eram consultados para respostas oraculares, e persistiram sendo cultuados e inqueridos por centenas de anos após sua morte, como Amenhotep I, especialmente em Deir el-Medina.
O formato de consulta divinatória mais associado ao Egito antigo são as orientações obtidas por sacerdotes ao interpretarem as movimentações de imagens divinas que eram carregadas em procissões, ou que ficavam em templos. A evidência mais antiga desse tipo de prática no Egito são algumas inscrições reais enigmáticas da metade da 18° dinastia, e relatam que o faraó Thutmose III e a rainha Hatshepsut receberam a comunicação de Amun por meio de sua barca portátil. Outros tipos de meio de receber as mensagens divinas também existiam, como frequentar os templos que abrigavam os animais sagrados vivos e interpretar seu comportamento após a pergunta - por exemplo, as ibises de Thoth, os falcões de Horus ou os crocodilos de Sobek.
No período Ramessida que se seguiu, os documentos relatando sobre os oráculos se proliferam, e existem numerosas ostracas (fragmentos de barro) que registram as perguntas elaboradas e, ocasionalmente, as respostas oferecidas pela divindade para tal questão. Muitas dessas perguntas se relacionavam à identificação de ladrões, predizer a futura distribuição das rações e alimentos, localizar itens perdidos, e revelar informações sobre seres cuja manifestação de teor espiritual estaria perturbando o vilarejo. Cada região possuía suas próprias divindades patronas, que eram consultadas também para propósitos políticos e religiosos, como decidir quem seria escolhido como sacerdote, na eleição de oficiais e inclusive de faraós, na transferência de múmias para outros locais, e no retorno de exilados. A tradição persistiu por mais de quinze séculos, e sobreviveu inclusive ao declínio da religião kemética nativa.
Porém, a divinação podia ser realizada de maneira particular ou individual, seja no lar ou em templos, sem a necessidade do intermédio de um sacerdote. O PGM (Papyri Graecae Magicae, ou Papiros Mágicos Gregos) contém uma variedade de fórmulas para divinação com lamparinas, tigelas com água ou óleo, e reanimação de falecidos para fins oraculares, mais conhecida como necromancia. Também havia a possibilidade de frequentar um templo e dormir lá para receber a mensagem da divindade por meio do sonho, o que era muito recorrente com relação ao deus Bes.
Uma das práticas oraculares necromânticas individuais envolviam a tradição das cartas para os mortos (leia mais nesse texto), em que familiares escreviam para seus Akhu (Ancestrais) e entregavam as cartas na tumba do falecido, ou em outro local apropriado, e então aguardavam por um sinal que representasse a resposta para a pergunta, seja por um acontecimento mundano ou um sonho subsequente. Intermediários como escribas e sacerdotes eram procurados para elaborar as cartas no caso do indivíduo não ser letrado, e também podiam ser consultados para interpretar as respostas.
Além da interpretação de sonhos, e de práticas divinatórias particulares, os calendários de dias de sorte e azar eram muito consultados no cotidiano, inclusive para tomar decisões e fazer determinadas atividades ou tarefas. As prescrições diárias eram divididas em manhã, tarde e noite, e podiam ser favoráveis ou desfavoráveis, geralmente de acordo com os eventos mitológicos que teriam ocorrido no dia em questão, como aniversários de Deuses ou outros acontecimentos marcantes na religiosidade egípcia. Tratarei mais a respeito dos calendários em outra oportunidade, com mais detalhes.
Referências
- Oracle by Image: Coffin Text 103 in Context, por John Gee
- Oracles, Pharaonic Egypt, por Teresa Moore
- The Oracle in Ancient Egypt, por Marie Parsons
A divinar no óleo de Yinepu,
Alannyë Daeris
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