Deméter, a deusa das colheitas, da fertilidade e dos grãos, tinha uma filha, chamada Core. Core era uma jovem inocente, de cabelos acobreados como os raios de sol do entardecer. Por sua beleza inebriante, muitos homens e deuses a desejavam. Dentre os deuses, Dioniso, Hermes, Apolo e Ares foram alguns dos que a cortejaram, mas todos os que tentaram desposar a jovem Core foram negados por sua mãe. Assim, Deméter a incumbia de colher os grãos solitária dentre as plantações, sem o contato com nenhum homem ou deus.
Em um destes dias no qual Core trabalhava dentre os campos de trigo, o deus do submundo, Hades, viu-na e apaixonou-se por sua beleza. Diz-se por vezes que foi atingido por uma flecha de Eros, o cupido, a pedido de Afrodite, que gostaria que o amor atingisse todos os locais do mundo, incluindo os domínios do submundo. Hades, então, procurou-a entre os deuses no Olimpo, e Zeus ao saber do interesse de seu irmão por sua filha Core, negou quaisquer pedidos, sem nem mesmo consultar Deméter, e expulsou Hades do Olimpo.
Então, enquanto Core colhia flores com as ninfas - por vezes é citado que colhia flores com Ártemis e Athena, suas irmãs -, Hades emergiu do submundo, levando-a consigo em sua carruagem puxada por cavalos negros de crinas verdes flamejantes.
Deméter, ao descobrir que sua filha desaparecera, deixou de cuidar das terras e da fertilidade, caindo em profunda tristeza e decepção. Ninguém queria contar-lhe o que havia acontecido, ou que sua filha havia sido raptada. Como também regia a fertilidade dos homens e dos animais, logo as mulheres perderam seus filhos, ou não podiam mais engravidar; os animais não se reproduziam, e passou a faltar carne para alimentar os homens. Os campos de trigo e de grãos não floresciam, e quando colhia-se os que estavam em época de colheita, eles eram afetados por pragas e secavam.
Zeus, observando a destruição e a fome que assolava o mundo, enviou mensageiros para pedir à Deméter que retornasse ao Olimpo e reassumisse seus afazeres para com a vida e a natureza. Deméter, no entanto, disse-lhe que só retornaria caso sua filha fosse encontrada. Prosseguiu procurando respostas para o sumiço de Core, e descobriu, através de Hécate, que esta havia sido raptada por Hades e levada ao submundo.
Assim, Deméter pediu a Zeus que retornasse Core de volta para seus braços, tendo recebido em resposta que nem mesmo o Pai de Todos poderia subjugar as leis do Tártaro e dos domínios do Senhor do Submundo. Zeus enviou, então, Hermes, o Deus-Mensageiro, para adentrar os portões do Tártaro e reaver Core de volta.
A situação no Submundo, entretanto, era diferente; após ter sido desposada por Hades, Core não o rejeitou por inteiro. Ela não conhecia o amor ou uma vida diferente da que tinha, e diz-se que Hades a mostrou como era ser mulher e como conhecer os prazeres, o amor e os segredos da vida. Ela mudou, e deixou de ser a jovem inocente que era; comeu os frutos da romãzeira que lhe foram oferecidos pelo Senhor dos Mortos, por seu gosto e vontade, e isto era uma das provas de seu amor por Hades.
Quando Hermes vociferou as palavras secretas para adentrar os portões do Submundo, impressionou-se ao ouvir de Hades que poderia levar Perséfone - e não mais Core, pois agora era outra face, outra mulher, não mais a jovem virgem e pura - para o Olimpo se assim ela desejasse. Perséfone, entretanto, não quis deixar seus domínios e abandonar seu esposo no submundo, embora também sentisse saudades de sua mãe e dos campos floridos na superfície.
Foi, então, firmado um acordo. Durante metade do ano - ou, por vezes, citado como sendo apenas quatro meses do ano -, Perséfone permanece com seu esposo, reinando no submundo, e Deméter, em tristeza, não cumpre seus afazeres com a terra e com a fertilidade. Quando retorna para os braços da mãe, na primavera, a natureza brilha e retorna à sua vitalidade, pois Core se encarrega de cuidar dos animais, das colheitas e da vida com sua mãe. O verão é o ápice, onde Core e Deméter estão juntas no Olimpo e a natureza atinge seu ponto máximo de beleza e de força. Enquanto se aproxima a metade escura do ano, as colheitas prosseguem, mas quando chega o outono e Core novamente torna-se Perséfone ao retornar ao braços de seu amado, já não há mais tanta fertilidade para plantar-se novamente, pois Deméter começa a entristecer-se da partida de sua filha, mas ainda cumpre seu último compromisso para com os humanos.
Perséfone, no submundo, era considerada uma deusa como Hades, que reinava sobre os mortos e as coisas que partiam para o tártaro. No entanto, ela sempre intervia a favor dos heróis e dos mortais, sendo uma deusa amorosa com os mortais que visitavam o submundo em busca de ajuda, e também sendo calorosa ao recepcionar os que adentravam o submundo após a morte. Era chamada também de Hera Infernal, e era quem presidia os rituais fúnebres, para quem oferecia-se os cabelos dos que haviam partido ao submundo em fogueiras. É ela quem corta o fio da vida - por isto a relação com os cabelos -, trazendo as pessoas para a morte ao seu lado e ao lado de Hades. Também acredita-se que Perséfone pode ajudar a encontrar objetos e pessoas perdidas.
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