quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Uma visão pagã da morte.

Na Wicca e em muitas vertentes do paganismo,
o inverno e a neve são os maiores símbolos
da morte.
   Em muitas civilizações, incluindo a atual em que vivemos, a morte é vista como algo ruim, de mau agouro, que nos traz uma ideia muito forte de dor, tristezas e perda. A egrégora da morte, em um sentido geral, é sentida assim: interrupções, injustiça, lamentações. Entretanto, não são todas as pessoas nem crenças que veem a morte desta maneira.
   O paganismo, em um sentido mais amplo, vê a morte como uma passagem, um portal para a continuação da nossa jornada. Claro que existem exceções, e nem todos os pagãos possuem esta visão sobre a morte. No entanto, como pode-se visualizar em conceitos como o renascimento, é esta a ideia que impera entre os que creem em Deuses antigos e trazem suas características para a vida cotidiana.
   Muitas das culturas pagãs possuem visões de renascimento, o que é resgatado por religiões neopagãs como a Wicca, ou reconstrucionistas como o Kemetismo. Todas estas religiões baseadas em povos antigos possuem submundos, que não são locais de sofrimento e de torturas, mas sim de aprendizado e preparação para retornar à vida. Em alguns casos, durante a passagem pelo submundo, há uma aprendizagem através das consequências do que se fez em vida, uma forma de pagar pelos erros, mas não é uma visão compartilhada por muitas crenças pagãs. Esta é uma ideia mais cristã, de inferno e de sofrimento, que muitos aos deixarem para trás esta religião, também deixam suas doutrinas bem distantes de si.
   A morte faz parte da natureza, faz parte do ciclo da vida. Ao estudar e conhecer o paganismo, as diferentes vertentes e visões pagãs, este é um conhecimento que sempre será dividido e compartilhado, talvez com diferentes atribuições e algumas idiossincrasias, mas nunca há uma aversão! A vida necessita da morte, e vice-versa. Nós conhecemos a morte e a difícil transição quando passamos por invernos rigorosos, quando a natureza perece em sua grande maioria, os alimentos ficam escassos, os animais hibernam ou perecem. Da mesma maneira, sabemos que após cada inverno, as sementes brotam mais fortes, a natureza renasce com todo o seu poder e esplendor.
   Desta forma, não deve haver temor, medo ou tristeza em relação à morte. Deve-se compreender que é necessária para a perpetuação da vida, e que não haverá lugar para sentimentos ruins além da vida, apenas o aprendizado para que retornemos e aprendamos cada vez mais. Muitos Deuses da morte e do submundo são bastante temidos - como Hécate, Hades e Perséfone -, embora não haja o que ser temido, apenas respeitado e honrando como os poderosos Deuses que são.
   Enquanto algumas pessoas temem e rejeitam a ideia de morte, de abandonar seu corpo e realizarem a transição, outras culturas - especialmente pagãs - realizam o oposto. Entre os nórdicos, e não apenas estes povos, havia muitas celebrações quando alguém falecia. Isto ocorria porque, para esta cultura, morrer significa ir de encontro aos Deuses, especialmente quando se morre de forma honrosa. Os astecas, que realizavam sacrifícios humanos aos Deuses, se sentiam honrados e especiais ao se ofertarem para partir em busca do encontro com os Deuses. Assim, há esta visão entre uma grande quantidade de pagãos, que acreditam que esta transição que ocorre além da vida será alegre e deve ser comemorada, não um motivo de tristeza e luto.
   Muitos Wiccanos acreditam no conceito de Summerland, que seria um submundo, um reino para o qual todos os Wiccanos que desejassem partiriam após a morte. No mito da Roda do Ano, o Deus parte para Summerland, onde morre e renasce do útero da Deusa. Assim, no Summerland, o Deus está em sua face Senhor das Sombras, que guarda os portões que transitaremos após nossa morte, e é quem nos acolhe, juntamente com a Deusa.
   Há muitas discrepâncias sobre Summerland, pois alguns sacerdotes acreditam que lá permaneceremos com o Deus e com a Deusa até sempre, tornando-nos parte das energias primordiais, enquanto outros acreditam que é um local de transição para que retornemos à vida. De qualquer maneira, é geralmente descrito como um local onde a natureza está em seu auge, bela e intocada, com verões agradáveis e aromas a deliciar a quem lá está.
   Como o paganismo no geral pode acabar sendo uma junção de diversas visões e crenças, é bastante aceito que o que ocorrerá conosco após a morte - renascimento, permanecimento em algum submundo específico, ida temporária para Summerland ou apenas passagem por outro submundo - será de escolha pessoal. Seja por culto específico de determinadas deidades - por exemplo, um pagão que participe de uma religião reconstrucionista provavelmente terá uma transição como as da sua cultura -, por maior afinidade com algum submundo específico, por concordar com as visões de um povo, ou por simplesmente expressar seu desejo ao panteão que cultua.
   Particularmente, acredito que cada pagão crê e escolhe no submundo, ou na ideia de morte e renascimento que melhor acredita ser para si. Minha visão para submundo será a de que partirei ao Folkvangr, unindo-me à Freyja e aos escolhidos para irem a este salão, e optarei por renascer se assim o quiser. Conheço visões de pessoas que simplesmente acreditam que retornarão ao útero da Deusa para renascerem, como também conheço ideias que diferem disto. Logo, a crença em relação à morte varia de acordo com a pessoa, sendo bastante pessoal.

A celebrar o ciclo da vida,
   Alannyë.

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