Estes desenhos de personagens femininas com curvas grandes eram esculpidas em barro e desenhadas nas paredes das cavernas, juntamente com os desenhos de animais e de caçadas, que eram formas de demonstrar a importância dessas atitudes na vida daqueles grupos nômades. Assim, sendo gravada em locais onde os seres humanos primitivos descansavam e faziam morada temporária, a vênus possuía seus atributos de importância, e demonstrava que havia então alguma forma de crença ou de necessidade ao criá-la. Era de extrema necessidade que estes grupos tivessem mulheres férteis, pois de caso contrário, não haveria indivíduos o suficiente para sobreviver aos ataques de animais selvagens, à fome, e às adversidades do tempo.
Vênus de Willendorf, uma das estatuetas mais famosas. Pertence ao período paleolítico. |
A Deusa continuou a ser cultuada até pouco antes do advento do cristianismo, quando a sociedade tomou rumos diferentes do que havia sido até então: a sociedade que antes era arranjada de maneira matriarcal, regida pelo calendário Lunar e com sacerdotisas sendo as líderes espirituais das tribos, aldeias e também sociedades, acabou colocando a mulher de posição inferior, sendo atribuída à cuida da casa e dos filhos, e o cristianismo ajudou a completar este ciclo, tornando a sociedade fortemente patriarcal.
Esta importância do patriarcado na sociedade pode ser visto através das religiões que surgiram, e podemos nos basear então no cristianismo para mostrar este patriarcado. As mulheres passaram a ser consideradas impuras, o sexo passou a ser algo censurado para as mulheres, que deveriam apenas ter um marido e ter relações apenas com ele, sendo o adultério feminino algo digno de pena de morte, enquanto homens traíam suas esposas amplamente, e seus feitos eram divulgados entre as comunidades de forma natural.
Com o estudo das sociedades pagãs e seus cultos, podemos então descobrir e desvendar inúmeras destas características do culto da Deusa. Ela sempre esteve presente nestas culturas, seja através de deusas específicas, como Inanna, Afrodite, Hera, Isis/Aset, Vêuns, Yemanjá, Bastet, Lilith, Morrighan, Cerridwen, Hécate, Pele, e tantos outros nomes de divindades cultuadas desde o início destas civilizações. O culto à Deusa significa honrar nossos ancestrais, sentir e perceber que ela está em tudo, na fertilidade, no amor, na dança, nas flores, nos animais, em tudo que nos cerca.
Ela nos acaricia quando vemos a chuva caindo, nos ama quando libertamos nossos desejos sob o Luar, nos protege quando temos dúvidas, nos guia quando estamos perdidos, a Deusa faz parte de nós como nós fazemos parte dela. A Deusa não mora no céu, nem no submundo - ela está entre nós diariamente, nas atitudes e nas coisas mais simples, em nosso cotidiano, em nossa vida. Não precisamos de muito para contatá-la, apenas de vontade, e de percepção.
A Deusa é o princípio primordial do caos, da noite, que só é completa ao ter seu consorte consigo, o Deus. Mas nem Ele nem Ela são superiores um ao outro; são iguais, semelhantes, um necessita do outro para que haja equilíbrio. Ela representa nossos pensamentos, nossa lógica, nosso poder de amar e de controlar nossos desejos, mas também nos mostra que sob a luz do luar, todos somos iguais, semelhantes, filhos do universo e da vida. A Deusa tem três faces, as quais representam o começo, o meio e o final, o nascimento, a vida e a morte, os ciclos da natureza.
Assim sendo, podemos cultuá-la em suas personificações como deidades específicas, ou podemos cultuá-la só, como o sagrado feminino, como a força primordial do universo, juntamente com o Deus. Ela não precisa ter nomes ou imagens, precisa ser amada e louvada como ela é, por suas bênçãos e por seu amor infinito.
Por: Alannyë Daeris.
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